Foram necessárias cerca de 18 horas para que a base aliada aprovasse, na madrugada de ontem, o texto principal do projeto que flexibiliza a meta do superavit primário, o que deixou a proposta a um passo de ser definitivamente chancelada pelo Congresso. 

Embora governistas, liderados pela cúpula do PMDB do Senado, tenham vencido todas as manobras regimentais capitaneadas por PSDB e DEM, a votação não foi concluída porque, por volta de 5 horas, a oposição derrubou a reunião pela falta de quórum, no momento em que a última emenda estava sendo analisada. 

Às 3 horas, o texto-base passou com o apoio de 240 deputados e de 39 senadores. Já a aprovação da proposta e seu envio à sanção da presidente Dilma Rousseff, considerados vitais pelo Palácio do Planalto, ficaram para a próxima terça-feira. 

Para o relator do projeto, senador Romero Jucá (PMDB-RR), mesmo com a postergação o governo saiu vitorioso da longa reunião. "Liberamos a pauta, votamos todos os requerimentos e os destaques (espécies de emendas), a não ser um." 

Com um deficit fiscal acumulado e diante da impossibilidade de cumprir a economia mínima para o pagamento de juros da dívida pública prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias em vigor, de R$ 49 bilhões, a equipe econômica enviou ao Congresso um projeto de lei que permite que sejam descontados da meta todos os gastos com o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e as desonerações de impostos. Na prática, a medida abre uma brecha para que a legislação seja dada como alcançada mesmo em caso de um resultado fiscal negativo ao final do ano. 

Na sessão que fez o projeto avançar, Renan foi o maior avalista do governo. Ao lado da cúpula do PMDB no Senado, ele comandou as votações e contornou a obstrução realizada pela oposição. O PMDB, principalmente o do Senado, tomou para si a tarefa de aprovar a alteração da meta fiscal. Segundo um senador do partido, para que o governo saiba que sem a legenda "ele não governa". 

O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), também permaneceu em plenário até a madrugada e garantiu a presença de 40 correligionários. Embora seja considerado um adversário pelo governo, ele tenta se reaproximar do Planalto para viabilizar sua candidatura à presidência da Câmara. 

A legenda espera ser recompensada no rearranjo ministerial. O PMDB não quer apenas ampliar de cinco para seis o número de pastas que controla, mas também ter a garantia de que seus apadrinhados terão autonomia para indicar secretários executivos e os demais cargos dos ministérios.