Uma semana depois do anúncio da nova equipe econômica, o governo fez uma ampla recalibragem das previsões dos indicadores da economia para os próximos três anos. Os dados servirão de base para o Orçamento da União de 2015 e para o reforço da política fiscal, das contas públicas,no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

 

Os novos parâmetros mostram um cenário duro para a economia em 2015, mas trazem uma fotografia mais realista da situação do País,diferentemente das propostas orçamentárias enviadas pelo governo nos últimos anos. O Produto Interno Bruto (PIB) vai patinar no ano que vem, segundo os novos parâmetros, comum crescimento de 0,8%, para chegar em 2017 com alta de 2,3%. Um quadro bem diferente dos 3% dee xpansão previstos nap roposta de Orçamento enviada em agosto ao Congresso pelo governo.

 

As previsões do governo foram realinhadas com as estimativas do mercado financeiro.Com isso, os novos ministrosda Fazenda, Joaquim Levy, do Planejamento, Nelson Barbosa,buscam ganhar a confiança dos investidores, aumentando a transparência e credibilidade dos números – pontos colocados em xeque e que minaram a credibilidade do governo.

 

Sem milagres. Os dados foramencaminhadosontemaosenador Vital do Rego (PMDBPB), relator daLei de Diretrizes Orçamentárias de 2015.Na revisão, o governo não promete milagres nem traça um cenário cor de rosa até 2017, mas a tendência apontada é de uma trajetória de recuperação fiscal, que pode assegurar um crescimento gradual da economia.

 

Parceria. Segundo interlocutores de Levy e Barbosa, ouvidos pelo Estado, a revisão dos números busca uma parceria com o mercado em os traqueo roteiro assumido no dia do anúncio da nova equipe econômica, de busca de transparência e previsibilidade, está sendo seguido à risca.

 

A principal mensagem é de que não há “números mágicosparaseremtiradosdacartola” e que os novos parâmetros são dados comos quais o mercado trabalha. “Todos são parceiros na previsão.Omercado não vai ter surpresas. É fundamental que todos acreditem nas previsões”, destacou uma fonte que participa da transição.

 

A meta de superávit primário (sobra de arrecadação para pagar juros da dívida) para o ano que vem foi fixada em R$ 66,3 bilhões – já descontados R$ 28,7 bilhões de investimentos nos projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O governo federal se comprometeu a fazer um superávit de R$ 55,3 bilhões e os Estados e municípios, R$ 11 bilhões.

 

Se os governadores e prefeitos não conseguir em alcançar a meta, a presidente garante que vai fazer um esforço adicional para

cobrir a diferença.

 

Queda. Com as metas de superávit de 1,2% (2015) e de 2% para 2016 e 2017, o governo espera pôr as dívidas bruta e líquida em trajetória de queda em dois anos. Antes, porém, a dívida bruta – que passará a ser o principal indicador da política fiscal – subirá para 64,1% do PIB, para entrar em trajetória de queda em 2016 (63,3%) e em 2017 (62,5%). O déficit nominal cairá de 4,1% em 2015 para 2,5% em 2017.

 

Como a dívida bruta inclui os repasses do Tesouro para o BNDES, usá-la como indicador mostra que o governo reconhece o peso do banco nas contas.Coma atualização da proposta de LDO, o governo dá o pontapé inicial para as negociações do projeto de Orçamento. A prioridade agora é votar a LDO de 2015,masa votação da lei orçamentária deverá ficar para o ano que vem por conta do poucotempo para cumprir os trâmites regimentais.

 

 

Dilma faz 'liquidação' de medidas do velho modelo

LU AIKO OTTA

 

Ações que vêm sendo anunciadas no momento de transição, e que vão em direção oposta ao plano de Levy, são jogo combinado

Na transição entre duas políticas econômicas diferentes, o governo vem adotando medidas que às vezes apontam para direções opostas. Em contraste com o discurso de austeridade adotado pelo futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o Planalto segue produzindo endividamento e manobras contábeis. Mas nada disso provoca crise porque é jogo combinado, segundo se comenta nos bastidores. É uma espécie de "limpeza de estoque" da era de Guido Mantega à frente da Fazenda.

 

 

Além do aporte de R$ 30 bilhões no BNDES e da autorização para usar o saldo financeiro de outros anos para pagar despesas obrigatórias de 2014, constantes de uma Medida Provisória editada na quarta-feira, o governo se prepara também para corrigir a tabela progressiva do Imposto de Renda da Pessoa Física em 4,5% para 2015, uma medida que reduzirá a estimativa de arrecadação em cerca de R$ 5 bilhões.

 

Também está a caminho uma reformulação de tabelas do Simples que só não causará impactos negativos no caixa se o faturamento das empresas inscritas aumentar em 4,2%.

 

 

 

 

Dida Sampaio/Estadão

Um interlocutor da presidente Dilma disse que Levy não foi surpreendido pelo aporte, que servirá para atender a contratos assinados pelo banco

 

 

 

Dessa lista, o item que mais chamou a atenção pela contradição com o discurso de Levy foi o aporte ao BNDES. Na única manifestação que fez desde sua indicação, ele disse que seu objetivo imediato é reduzir o volume da dívida bruta como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) e que, para isso, não deveria haver "ampliação do estoque de transferências do Tesouro para as instituições financeiras públicas".

 

Foi exatamente isso que a medida provisória fez.

 

"É o inverso do que disse o ministro Levy", admitiu o senador Romero Jucá (PMDB-RR). "Mas ele ainda não assumiu."

 

Sem surpresa. Um interlocutor da presidente Dilma disse que Levy não foi surpreendido pelo aporte, que servirá para atender a contratos assinados pelo banco. Já se sabia, há alguns meses, que o BNDES precisaria de mais recursos para honrar os contratos deste ano.

 

Nos bastidores, o entendimento é que essa injeção de recursos não altera a diretriz de, a partir de 2015, mudar a forma de atuação do BNDES. As grandes empresas, largamente beneficiadas na atual fase, serão estimuladas a buscar recursos no mercado para investir. A estratégia é aquela descrita por Levy em seu discurso: estimular o desenvolvimento do mercado de capitais.