Sob a promessa de capitanear uma oposição que cobrará "violentamente" da presidente Dilma Rousseff os compromissos assumidos durante a campanha pelos próximos quatro anos, Aécio Neves (PSDB-MG) retornou ontem ao Senado.

O candidato derrotado no segundo turno da disputa presidencial foi recebido por uma caravana de simpatizantes que se acotovelaram para acompanhá-lo em sua entrada no Congresso Nacional. Aécio repudiou manifestações que pedem a volta do regime militar e procurou minimizar o pedido do PSDB de auditoria dos votos, colocando-o na conta do jurídico da campanha.

Hoje, em ato com as lideranças de oposição que sustentaram sua candidatura, Aécio fará no Parlamento seu primeiro grande pronunciamento pós-eleição, que está sendo muito aguardado. Mas o evento pode ter ausências consideráveis. Os cinco governadores eleitos ou reeleitos do PSDB podem não comparecer. O governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, está conversando com os colegas e defendendo uma reunião apenas de governadores com Aécio.

Também reeleito, o governador de Goiás, Marconi Perillo, disse que tende a concordar com a proposta de Alckmin. "O poder Legislativo tem a função de fazer oposição, fiscalizar e fazer uma oposição construtiva, uma crítica que ajude o Brasil. Essa foi a postura do PSDB ao longo do tempo. A eleição colocou o partido na oposição. Agora, nós governadores temos um outro papel", avaliou. "A relação é institucional e tem que ser do mais alto nível, senão o prejudicado é o povo". Segundo Perillo, ele não teve problemas de relacionamento administrativo com a presidente Dilma Rousseff nos quatro anos do primeiro mandato.

Em entrevista aos jornalistas, no café ao lado do plenário do Senado, Aécio disse se sentir "vitorioso" pelo resultado alcançado na campanha. "Se não pude ser vitorioso nos votos, fiz uma campanha honrada, digna das expectativas dos brasileiros. Não sei se do outro lado o governo pode dizer o mesmo. Foi infelizmente a mais perversa das campanhas políticas já praticadas no nosso período de redemocratização. Não me lembro de campanha tão sórdida e mesquinha", afirmou.

"Fizeram ataques pessoais, terrorismo com beneficiários de programas sociais, distribuíram mensagens dizendo a esses beneficiários que se votassem no PSDB teriam sua inscrição anulada". Sobre sua atuação nos próximos quatro anos no Senado, Aécio afirmou: "Vou atuar falando a verdade e cobrando violentamente o governo de seus compromissos assumidos na campanha".

O senador rechaçou qualquer vínculo do PSDB com manifestantes que foram às ruas nos últimos dias pedindo impeachment da presidente Dilma e a volta do regime militar. "Meu repúdio mais violento e radical a manifestações de volta dos militares. Isso é uma apropriação indevida de um sentimento de liberdade da sociedade. Não há nenhum fato específico que leve a [pedir] impeachment. Essas manifestações que se misturam pedindo a volta do regime autoritário tem nosso repúdio mais veemente", garantiu, reiterando que será "oposição permanente e dura", ao governo. "Não sou golpista", pontuou.

O pedido de auditoria dos votos no segundo turno da eleição presidencial, feito pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) foi considerado "natural" por Aécio, que procurou minimizar a questão. "Não foi pedido de recontagem. O que houve foi pedido de auditoria para ter acesso ao sistema. É absolutamente natural e tem de ser respeitado como instrumento das partes envolvidas na campanha eleitoral querer informações sobre a totalização dos votos", alegou.

Segundo Aécio, a decisão pelo pedido não foi sua. "Foi uma decisão do departamento jurídico. Quando consultado, disse que fizessem se achassem necessário, até no sentido de tranquilizar a sociedade brasileira".

Aécio afirmou que não cabe contestar o resultado. "O resultado está aí e não estamos querendo mudá-lo. Fui o primeiro a ligar para a presidente Dilma para cumprimentá-la. Agora, ter acesso ao processo de totalização, de remessa dos dados é direito de todas as partes envolvidas, em benefício do próprio TSE, que obviamente não quer que paire qualquer dúvida". E voltou a defender o pedido. "Não tenho dúvidas em relação à lisura e correção dos ministros do TSE. Mas é instrumento legítimo [o pedido de auditoria]. A ação no TSE foi legítima, em busca da tranquilidade em relação a pessoas que ainda estão perplexas com o resultado", justificou.

Aécio garantiu que o PSDB volta da disputa eleitoral "renovado na capacidade de fazer oposição". Vislumbrou a divisão verificada nas urnas no embate com o executivo, ao dizer: "Quando o governo olhar para nós da oposição, sugiro que deixe de contar as cadeiras que ocupamos e passe a enxergar os mais de 51 milhões de eleitores que querem mudança". E deu a deixa de que não vai esperar virar o ano para buscar desconstruir a gestão. "Esse governo tem que tomar cuidado para não começar janeiro já com clima de fim de festa", afirmou.