A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniram-se ontem por quase seis horas na Granja do Torto, residência oficial da presidente da República, em Brasília. 

O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, também participou da conversa. 

O grupo deflagrou as articulações para a formação do novo ministério. Lula gostaria que Dilma nomeasse um de seus indicados para o ministério da Fazenda: o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles - seu Albuquerque sinalizou que o mesmo movimento pode ocorrer no Senado. "Oposição independente pressupõe, tanto no Senado quanto na Câmara, a busca de candidaturas alternativas para presidir as duas Casas. Em 2012, o PSB teve candidato a presidente da Câmara [o próprio Delgado] e apoiou uma candidatura alternativa no Senado [Pedro Taques, do PDT do Mato Grosso, agora eleito governador]. Nossa ideia é buscar de novo esse protagonismo." A posição oficial do PSB em relação ao governo só será anunciada em reunião da Executiva Nacional, dia 17, após ouvir os diretórios estaduais, na próxima semana. Mas a "oposição independente" deve ser aprovada, de acordo com as reuniões de senadores e deputados com o presidente do partido, Carlos Siqueira. 

Beto Albuquerque participou das conversas. 

"O nosso tipo de oposição, se for essa a posição do partido, não se confundirá com uma oposição conservadora", disse Siqueira. 

"Nós seremos sempre um partido que primará por sua visão programática e seu ideário socialista, se diferenciando, como oposição, de uma posição de centro-direita que eventualmente venha atuar no Congresso e na sociedade." O PSB quer manter fidelidade ao ideário socialista, para chegar em 2018 com uma "identidade própria" e continuando a defender a quebra da polarização entre PT e PSDB, que foi mote de sua campanha presidencial - primeiro com o ex-governador Eduardo Campos e, depois de sua morte, com Marina Silva. 

Por outro lado, o partido não quer estar vinculado a movimentos considerados de direita, como o que ocorreu sábado, em São Paulo, no qual manifestantes pediram impeachment da presidente e até a volta da militarização do país. 

Siqueira, presidente da legenda, afirmou que o PSB terá pauta própria, identificada com os interesses populares, para "dar nitidez ao tipo de partido que somos, socialista, claramente de esquerda, compromisso do qual o PSB não abrirá mão nunca enquanto existir". 

O pragmatismo dos governadores eleitos pelo PSB também pesou. 

As dificuldades financeiras dos Estados e a dependência do governo federal recomenda uma boa relação com o Planalto. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), eleito governador do Distrito Federal, participou da reunião. 

"A eleição nos colocou na oposição, mas é da tradição do PSB votar de acordo com os interesses do país. A posição que eu defenderei na bancada é que tenhamos uma posição de independência. 

Uma posição de ajudar o Brasil a superar os inúmeros desafios que temos pela frente. 

2015 será um ano difícil e temos que estar unidos em torno desses desafios", disse Rollemberg. 

Para Albuquerque, que disputou a Vice-Presidência na chapa de Marina, o PSB quer manter "identidade própria" e ser "oposição independente" é a reafirmar o papel do PSB nessa eleição, que lutou contra a polarização entre PT e PSDB. "Fazer oposição independente significa que vamos fazer oposição com a nossa cara. Poderemos estar contrários a medidas do governo e também a medidas sugeridas pela grande oposição. Precisamos de uma nova oposição, que indique um caminho novo para o futuro." O PSB, que tem 24 deputados, terá 34 na próxima legislatura. 

No Senado, a bancada tem hoje quatro parlamentares e terá seis. 

Seriam sete, mas Rollemberg, que tem mais quatro anos de mandato, renunciará para assumir o governo e seus suplentes não são do PSB. O primeiro, Hélio José, é do PSD. E o segundo, Luis Cláudio Avelar, do PCdoB. 

O deputado Romário, eleito senador pelo PSB, defendeu que o partido seja independente no Congresso, votando "a favor do que for positivo e propositivo para o povo brasileiro". O senador Antônio Carlos Valadares (SE) definiu a posição majoritária como de "oposição propositiva independente, sem alinhamento com o governo de forma alguma". 

favorito -, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, ou o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda Nelson Barbosa. 

O Valor mostrou que Trabuco recusou o convite. 

Lula esteve ontem em Brasília para poder conciliar a agenda com a de Dilma, que viaja na terça- feira, dia 11, para a Cúpula do G-20, na Austrália. O ex-presidente, por sua vez, conduz uma rodada de conversas para discutir os rumos do PT após a eleição. 

Amanhã, Lula se reunirá com a bancada de senadores do PT em São Paulo. 

Lula está preocupado com o PT, que venceu a eleição presidencial com uma margem apertada de votos e sofreu uma derrota fragorosa em São Paulo. A Executiva Nacional do PT, por sua vez, divulgou na segundafeira uma resolução reivindicando mais espaço no segundo mandato de Dilma, e a prerrogativa de influir mais ativamente na política econômica. 

As conversas intensificaram-se nos últimos dias. Ontem, Dilma recebeu no Planalto o governador do Ceará, Cid Gomes (Pros), e o governador eleito Camilo Santana (PT). Cotado para assumir um ministério, possivelmente o da Educação, Cid reuniu-se com Mercadante na Casa Civil. 

Além da formação da nova equipe, Dilma, Lula e Mercadante fizeram um balanço das eleições e discutiram a composição de forças no Congresso. O Palácio do Planalto tenta formar um bloco na Câmara, com o PT à frente, para evitar a eleição do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), para a presidência da Casa. 

O PP do senador Ciro Nogueira, e o PDT do ex-ministro Carlos Lupi são siglas que o PT tenta manter ao seu lado na Casa. 

Lula está preocupado também com o Senado e tenta manter sob seu controle a articulação política do governo na Casa. 

Tendo em vista um segundo mandato mais difícil para Dilma, Lula já conversou nesta semana com o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), e agora deve reforçar as reuniões com os petistas. 

O encontro com a bancada de senadores petistas em São Paulo foi marcado a pedido de Lula, segundo o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), e deve ser realizado no instituto do ex-presidente. 

"Lula tem preocupação com o desempenho do governo no Senado. Não houve uma mudança muito grande na correlação de forças, mas sim na qualificação da oposição, com quadros experientes", afirmou Costa. Entre os experientes estão os recémeleitos Tasso Jereissati (PSDB-CE) e José Serra (PSDB-SP), além de Aécio Neves (PSDB-MG), candidato à Presidência derrotado por uma margem pequena de votos. 

"Vai dar trabalho", disse o líder do PT no Senado. 

Outra preocupação de Lula é a maior fragmentação de partidos no Senado. 
"Vamos ter que negociar muito mais", afirmou Costa. 

Os parlamentares do PT queixam- se das dificuldades no diálogo com Dilma e buscam no ex-presidente um interlocutor. "Esperamos que nossa opinião chegue à presidente por intermédio de Lula", disse o líder do PT no Senado.