Título: Mais pressão com aviso prévio
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Fonte: Correio Braziliense, 30/06/2011, Economia, p. 14

Vem aí mais pressão sobre a inflação e ela não foi computada pelo Banco Central na hora de traçar o cenário para fazer a variação de preços convergir para o centro da meta, de 4,5% no ano que vem. O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, admitiu ontem, durante a divulgação do segundo relatório de inflação do ano, que custos adicionais como os que as empresas terão com o pagamento de um aviso prévio proporcional ao tempo trabalhado e também o aumento dos gastos das famílias com mais benefícios para o empregado doméstico não entraram na conta da autoridade monetária.

Na nova projeção de inflação para 2012, o BC registrou uma piora de 0,2 ponto percentual. Nessa projeção está mensurado apenas o significativo aumento de aproximadamente 13% para o salário mínimo no mês de janeiro, o que fará com que o atual piso salarial do país salte de R$ 545,00 para R$ 616,00. Só que essas novas pressões têm data marcada para acontecer. O Supremo Tribunal Federal deve decidir a questão do aviso prévio no segundo semestre e é intenção do governo brasileiro encaminhar, até o fim do ano, uma proposta de legislação ao Congresso Nacional sobre o emprego na área doméstica para que o Brasil possa, no futuro, ratificar a convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre o tema.

O economista da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, um especialista no mercado de trabalho, disse não ter dúvidas de que as duas propostas implicam em aumento do custo da mão de obra e isso, com o mercado de trabalho aquecido e a economia em crescimento, gera pressão inflacionária. "O Banco Central terá que continuar aumentando os juros", observou. Como efeito colateral, Camargo disse que a nossa economia vai ficar menos competitiva em relação a outros países, especialmente os asiáticos. "Nosso custo de produção já e maior e a educação deles (dos asiáticos) melhor", avaliou o economista.

O Banco Central, aliás, já está bastante preocupado com o aumento do custo de produção via reajustes reais dos salários bem acima da inflação. O diretor foi categórico ao afirmar que é um problema o fato de os salários crescerem sem que a produtividade acompanhe o movimento. Esse é um sinal que vem do setor de serviços, cuja demanda está sendo pressionada pelo aumento de renda das famílias que estão ingressando em nova faixa de renda. "A despesa com serviços tende a crescer na medida em que aumenta a renda familiar", disse Carlos Hamilton.

Outro fator que atrapalha o controle da inflação é a indexação. Em contratos como os de aluguel e tarifas públicas ¿ água e energia elétrica, por exemplo ¿ o reajuste se dá anualmente pela variação de um determinado índice. Nos salários acontece a mesma coisa e o ponto de partida para os reajustes é sempre a inflação passada. Ganhos reais têm sido significativos não apenas para o salário mínimo ¿ de 76,5% no período de 2002 a 2011 ¿, com a massa salarial como um todo crescendo acima de 6% no período dos últimos 12 meses. "A indexação torna mais resistente a queda da inflação", constatou o diretor do BC. (VM e VC)

TJLP de 6% ao ano O Conselho Monetário Nacional (CMN) manteve em 6% ao ano a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) que irá vigorar no terceiro trimestre. A decisão foi divulgada hoje no sistema de dados eletrônicos do Banco Central, o Sisbacen. Criada no fim de 1994, a taxa está no menor patamar da história desde o terceiro trimestre de 2009. A TJLP serve de base para a correção dos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).