Os movimentos responsáveis pela piora no resultado da balança comercial observados ao longo do ano atuaram com mais força em outubro. Forte queda no preço das commodities e recuo em volumes embarcados, encolhimento nas vendas de diversos setores de manufaturados e o embarque de uma plataforma de US$ 1,9 bilhão em outubro de 2013, fizeram com que as exportações caíssem em ritmo mais forte (19,7%) do que as importações (15,4%) no mês passado.
 
Com apenas mais dois meses para o fim do ano, o déficit de US$ 1,8 bilhão no acumulado de janeiro a outubro só será revertido se o desempenho das exportações vier acima do esperado. A tendência é que o ano termine com saldo negativo pequeno, o que frustraria o leve superávit esperado pelo mercado e pelo BC.
 
Rodrigo Branco, economista do Centro de Estudos de Estratégias de Desenvolvimento (Cedes-Uerj), afirma que a tendência verificada ao longo do ano, de recuo de preços das commodities e queda no volume exportado de manufaturas, teve "efeito cheio" no resultado do mês passado. "Está cada vez mais difícil vislumbrar superávit neste ano. O petróleo, que poderia compensar os recuos, não vai ter força para fazer esse movimento. Já havia queda de preço e quantidade nas vendas de básicos, mas agora ela veio mais muito mais forte."
 
Mesmo tirando da conta das exportações de manufaturados a plataforma de US$ 1,9 bilhão, embarcada em outubro de 2013, a queda nos embarques totais de manufaturados no mês passado foi de 13,3%. Com a plataforma, o recuo foi de 30,3%.
 
Para Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), é evidente que os embarques de manufaturados, independentemente das plataformas, estão caindo. Ele lembra que, no acumulado do ano, as exportações de manufaturados recuaram 10,1% contra iguais meses de 2013. A exportação total brasileira, na mesma comparação, caiu 3,7%.
 
A queda na exportação de manufaturados, diz Souza, tornou a pauta de exportação brasileira mais dependente das commodities e mais vulnerável à queda de preços das cotações internacionais de produtos básicos agrícolas e metálicos. "Não há problema nenhum no fato de o Brasil ser competitivo nos básicos, mas também precisamos recuperar a capacidade de exportar da indústria", diz.
 
Um exemplo do efeito mais volátil das commodities está no resultado por países. O recuo nas vendas de minério de ferro e soja contribuíram para a queda de 43,8% na exportação do Brasil para a China no mês passado. O país é o principal destino das exportações brasileiras.
 
A queda na receita da soja se deve em parte à antecipação da quantidade embarcada durante o ano. Com isso, restaram menos grãos a partir de outubro, quando sazonalmente a exportação de soja é mais fraca.
 
O país não foi o único destino com redução de embarques em outubro. As exportações para a União Europeia recuaram 40,4%. As vendas para a Argentina caíram 35,9%. Os embarques para os Estados Unidos ficaram praticamente estáveis, com queda leve de 0,3%.
 
No acumulado até outubro, contra igual período do ano anterior, a queda foi de 3,7% nas exportações totais. O recuo foi puxado principalmente por China, Argentina e União Europeia, com reduções de 6,8%, 26,8% e 10,4%, respectivamente.
 
Para Souza, a desvalorização do real frente ao dólar pode ajudar mais a indústria doméstica a exportar e a concorrer com o importado no mercado interno. É preciso, porém, diz ele, ao mesmo tempo em que o dólar mais forte dá fôlego para a indústria, iniciar mudanças estruturais para o aumento da competitividade, com a redução de custos e a elevação da qualificação.
 
A desvalorização da moeda brasileira neste segundo semestre, entretanto, não teve efeito substancial também no resultado de outubro, na visão dos analistas. O real mais fraco deve começar a aparecer com mais força no nível das vendas de manufaturas no ano que vem.
 
Mesmo assim, diz Alberto Ramos, chefe de pesquisa para América Latina do Goldman Sachs, o comércio brasileiro está passando por uma deterioração "muito grande" nos termos de troca nos últimos meses, em linha com a piora do saldo comercial "apesar de um crescimento econômico muito baixo."
 
O real continua apreciado mesmo com a recente desvalorização por causa da atuação do Banco Central no mercado cambial, causando recessão na indústria, ainda na visão de Ramos.
 
Para Branco, haverá déficit na balança comercial este ano, mas não "muito alto", até por uma questão de tempo. "Entretanto há redução nas vendas em todos os setores e, diferentemente do primeiro semestre, estamos assistindo a uma queda nas exportações mais forte do que o registrado nas importações", diz.