O resultado da balança comercial em outubro, negativo em US$ 1,177 bilhão, aprofundou o rombo nas transações comerciais com o exterior para US$ 1,871 bilhão no acumulado do ano e levou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) a rever seu discurso em relação ao desempenho para 2014.

Até hoje, a pasta estava confiante em um superávit no saldo anual entre vendas e compras internacionais. Agora, segundo o secretário de Comércio Exterior, Daniel Godinho, é necessário “aguardar o resultado para novembro que será decisivo no sentido da confirmação do resultado positivo”. Ele acrescentou que, por enquanto, a previsão de superávit está mantida. Nos últimos 12 meses, a balança comercial está superavitária em US$ 2,519 bilhões.

De acordo com Godinho, três fatores serão cruciais para um superávit da balança comercial. Ele começou a lista com “a possibilidade de uma melhora na conta petróleo principalmente em função do aumento da produção” nos últimos meses do ano.

Em seguida, o secretário indicou uma “possível melhora dos preços de minério de ferro e da quantidade exportada desse produto” no último bimestre de 2014. Por fim, há também a necessidade de uma “continuidade do aumento das exportações de carne”. A venda do produto cresceu 5% no acumulado do ano e 11% só em outubro.

Godinho descartou um impacto da desvalorização do real frente ao dólar nessa análise, porque, segundo ele, estudos internacionais e a experiência do próprio ministério mostram que há um atraso grande no impacto de uma mudança no patamar do câmbio nas exportações. “Em conjunto, o fator cambial não pode ainda ser revertido em prol das exportações brasileiras”, avaliou o secretário.

O resultado para o mês foi o pior desde 1998, quando houve déficit de US$ 1,443 bilhão. No mês passado, houve queda de 19,7% na média diária das exportações e de 15,4% na quantidade importada por dia útil.

Em números absolutos, os embarques internacionais de mercadorias saíram de US$ 22,821 bilhões para US$ 18,330 bilhões. Esse resultado se deve a uma queda de 30,3% nas vendas de manufaturados, uma retração de 15,4% nos embarques de básicos e um recuo de 1% nas exportações de semimanufaturados.

Para os produtos manufaturados, as maiores quedas aconteceram em plataformas de petróleo, que passou de US$ 1,9 bilhão em outubro do ano passado para US$ 93 mil no mês passado, óleos combustíveis (queda de 62,4%) e automóveis de passageiros (retração de 52%).

Em relação aos produtos semimanufaturados, as principais retrações foram observadas nas vendas de óleo de soja em bruto (52,7%), ouro em forma semimanufaturada (30,4%) e açúcar em bruto (3,8%). Entre os básicos, os recuos mais expressivos aconteceram com soja em grão (55,6%), minério de ferro (41,3%) e milho em grão (30,2%).

A queda de preço nos minério de ferros – 40% na comparação entre outubro de 2013 e 2014 – levou a China a perder o posto de principal parceiro comercial brasileiro em outubro para os Estados Unidos. No acumulado do ano, porém, os chineses continuam à frente dos EUA.

Já a queda nas importações, de US$ 23,051 bilhões para US$ 19,507 bilhões em números absolutos, se deve a recuo nas compras internacionais de combustíveis e lubrificantes (que retrocederam 36,2%), bens de consumo (queda de 14%), bens de capital (recuo de 12%) e matérias-primas e intermediários (queda de 9,3%).

Sobre a conta petróleo, Godinho analisou que “mantido o ritmo de importações, podemos terminar [com um déficit da conta petróleo] na casa dos US$ 15 bilhões. Esse é um dos fatores fundamentais que explicarão o resultado do ano”. Até o momento, o saldo é negativo em US$ 13,773 bilhões. No mesmo período do ano passado, era de US$ 18,903 bilhões.

 

 

Para secretário, programas contestados pela UE estão de acordo com regras da OMC

 

O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Daniel Godinho, criticou ontem o painel aberto na sexta-feira pela União Europeia (UE) na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a política industrial brasileira.

De acordo com ele, "os regimes contestados pela UE são plenamente compatíveis com regras multilaterais e, por isso, estamos muito confiantes com o resultado do painel aberto pela UE". Entre as políticas atacadas pelo bloco econômico europeu está o Inovar-Auto. O regime, com validade até 2017, e oferece desconto no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) a montadoras que se comprometeram com planos de investimento no Brasil.

Na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, afirmou que o Brasil demonstrará aos europeus a adequação do regime automotivo às regras da OMC: "Achamos que nosso regime é perfeitamente compatível e vamos demonstrar isso."

A UE abriu o que será a maior disputa comercial contra o Brasil na OMC, contestando parte central da política industrial do governo de Dilma Rousseff, apenas cinco depois de sua reeleição.