Dono do menor índice de atraso nos pagamentos de empréstimos entre os bancos privados, o Itaú Unibanco afirmou ontem que a taxa de inadimplência ainda pode recuar mais até o fim do ano, enquanto Bradesco e Santander previram estabilidade.

O índice de atrasos do maior banco privado do país fechou setembro em 3,2%, no menor nível histórico desde a fusão entre Itaú e Unibanco, em 2008, e com recuo de 0,2 ponto percentual na comparação com julho.

Calotes em baixa ajudaram o Itaú a registrar um lucro líquido de R$ 5,4 bilhões no terceiro trimestre, com alta de 35,3% em relação a igual período de 2013.

Para atingir esse nível de inadimplência, o banco demonstra em outra linha do balanço que tem redobrado a cautela na hora de emprestar. Uma avaliação mais rigorosa dos tomadores de crédito pode estar levando a uma expansão mais lenta.

O estoque de empréstimos mais avais e fianças avançou 3,2% no terceiro trimestre e 10,2% no acumulado de 12 meses até setembro, com R$ 503,3 bilhões.

À primeira vista superior ou similar à dos concorrentes, essa expansão se deve principalmente à aquisição da Credicard, concluída em dezembro do ano passado.

Excluída a carteira de crédito comprada da empresa de cartões, o incremento anual teria sido de só 5,2%, segundo Marcelo Kopel, diretor de relações com investidores do Itaú. É uma alta inferior àquela registrada pelos bancos privados, de 5,8%, segundo dados do Banco Central.

No mês passado, o Itaú informou que prevê um avanço no estoque de crédito de aproximadamente 8% neste ano. Anteriormente, o banco havia divulgado uma projeção que ia de 10% a 13% de crescimento.

Outras aquisições têm ajudado o desempenho do Itaú no crédito. Só ao longo do terceiro trimestre o banco comprou R$ 4 bilhões em carteira de consignado do BMG, de acordo com Kopel. Esse volume representa um quarto do crescimento do estoque do Itaú do segundo para o terceiro trimestre.

Questionado pelo Valor sobre até que ponto o maior controle da qualidade dos ativos não está comprometendo o crescimento do crédito, Kopel afirmou que a opção do Itaú é pela qualidade dos ativos. "Estamos crescendo nas carteiras que escolhemos crescer, de forma sustentável. Continuaremos a conceder crédito apostando nessas carteiras que apresentam maiores garantias", disse o executivo.

O estoque de empréstimos consignado, por exemplo, fechou setembro em R$ 36,4 bilhões, ou 77,1% maior do que um ano antes. Juntas com o empréstimo com desconto na folha de pagamento, as carteiras de crédito imobiliário e de grandes empresas mostraram os maiores avanços.

A fuga de operações mais arriscadas levou ao encolhimento de pelo menos dois estoques de crédito do Itaú: pequenas e médias empresas e veículos.

A partir do próximo ano, ambas as modalidades de crédito voltarão a crescer, de acordo com o diretor do Itaú. Os modelos de aprovação de crédito, porém, já se tornaram mais rígidos.

Para atingir um saldo maior em pequenas empresas, o banco passou a atuar mais em transações que tenham recebíveis como garantia. "É um setor que deve voltar a crescer, mas abaixo da média das demais carteiras", afirmou Kopel.

Para o executivo, a estratégia do banco tem se mostrado acertada. "Nosso retorno sobre o patrimônio líquido permanece na casa dos 20%, o que mostra robustez na gestão do banco", disse. O indicador conhecido como ROE fechou setembro em 24,7%, maior patamar pelo menos desde o começo de 2013.

O ritmo mais lento do crédito no Itaú foi alvo de comentário de analistas. "Vemos tendências sólidas nas margens e na qualidade dos ativos e fracas no crescimento do crédito e nas receitas de tarifas", escreveu a equipe de análise do Goldman Sachs em relatório. Ontem, as ações PN do banco encerraram o dia com alta de 1,64%, cotadas a R$ 37,2. O Ibovespa subiu 0,81%.