Com os ânimos menos exaltados após o fim das eleições, investidores se deparam com o último bimestre do ano e a decisão sobre como tratar seu portfólio. Ainda que o mercado praguejasse contra a reeleição de Dilma Rousseff, a reação na última segunda-feira ficou bem aquém do pânico alardeado. A tendência de redução da volatilidade por conta da ausência de ruído eleitoral pode ser uma oportunidade para repensar algumas aplicações. E é nesse sentido que a bolsa surge no horizonte.

Com os ânimos menos exaltados após o fim das eleições, investidores se deparam com o último bimestre do ano e a decisão sobre como tratar seu portfólio. Não que o cenário seja outro, é claro. Ainda que o mercado praguejasse contra a reeleição de Dilma Rousseff, a reação na última segunda-feira ficou bem aquém do pânico alardeado. A tendência de redução da volatilidade por conta da ausência de ruído eleitoral pode ser uma oportunidade para repensar algumas aplicações. E é nesse sentido que a bolsa surge no horizonte. Se de um lado o investidor ainda encontra na renda fixa retornos atrativos mesmo em aplicações conservadoras, há um consenso de que é hora de começar a buscar mais risco.

 

Num novo mês de expressiva volatilidade, a bolsa, que chegou a perder quase 7% na semana anterior ao segundo turno da eleição, recuperou parte do desempenho nos dias que seguiram o resultado. Com isso, o Ibovespa fechou outubro com alta de 0,95%, aos 54.628 pontos, e tem ganhos de 6,06% no ano. No acumulado de 2014, chama atenção a trajetória dos índices small caps e de dividendos (Idiv), com queda de 9,9% e 5,3%, respectivamente.

 

Ainda na renda variável, depois de subir por oito meses seguidos, o índice de fundos de imobiliários (Ifix) teve queda de 1,3% em outubro.

 

No mercado de câmbio, após disparar em setembro, com valorização de 9,3%, o dólar encerrou o mês com leve alta. A moeda americana subiu 1,2%, a R$ 2,48.

 

 

Já na renda fixa, os preços dos títulos públicos voltaram a subir de forma abrangente. Depois da queda vista em setembro, o IMA-B, que reflete o desempenho médio de títulos atrelados à inflação (as NTN-Bs), fechou outubro com alta de 2,1%, superando a variação de 0,94% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), o referencial das aplicações conservadoras. No ano, o IMA-B tem o destaque de alta, com ganho de 14,3%. Fundos de renda fixa renderam 1,1% em outubro, enquanto a poupança, 0,60% (leia mais em DI com taxa até 1,1% bate a poupança com Selic a 11,25%).

 

Michael Gagliardi, da gestora de patrimônio G5, ressalta que sua estratégia não mudou radicalmente após o fim das eleições. Os bons frutos que tem colhido na renda fixa seguem em seu radar, com atenção especialmente a títulos públicos pós-fixados de médio prazo. “Nossa ideia era e continua sendo de que a mudança não é tão grande quanto o mercado esperava. Nunca trabalhamos com um cenário de ruptura”, diz o gestor.

 

Isso quer dizer que a renda fixa continua como a maior aposta da G5. Na visão de Gagliardi, diversos títulos embutiram em seus preços uma perspectiva negativa demais em meio às eleições, o que vale principalmente para as notas indexadas à inflação.

 

Com isso, a gestora tem se posicionado de forma mais agressiva de olho nos próximos anos em títulos públicos como NTN-Bs com vencimentos entre 2018 e 2022, e também com uma parte prefixada em títulos privados de curto prazo.

 

No Tesouro Direto, site de venda de títulos públicos à pessoa física, o investidor encontrava na sexta-feira uma NTN-B de 2020 com prêmio de 5,81% (mais a variação da inflação). “Você está comprando uma taxa que embute certa alta e ainda tem uma gordura”, afirma Gagliardi.

 

Essa parte da curva de juros agrada o gestor, pois garante um horizonte com certa previsibilidade em relação à condução da política monetária e não fica tão exposta às oscilações provocadas por fluxo, especialmente do estrangeiro.

 

Ainda que a decisão do Banco Central de elevar a taxa básica de juros para 11,25% na semana passada tenha pego o mercado de surpresa, o superintendente-executivo de fundos de investimentos da Santander Asset Management, Eduardo Castro, afirma que o cenário da casa segue de um ciclo de alta total de 100 pontos-base.

 

Com uma boa avaliação das primeiras sinalizações dadas pelo governo eleito, Castro ressalta que, se de fato as políticas fiscais e monetárias estiverem mais alinhadas ao longo dos próximos quatro anos e se houver um combate à inflação mais eficiente, sua previsão de aumento da Selic deve se manter. E isso se reflete nas oportunidades na renda fixa.

 

“Estamos preferindo taxas prefixadas às de carregamento em inflação, principalmente porque, a depender da continuidade da sinalização mais positiva, você pode ter uma queda na previsão da inflação embutida nas NTN-Bs”, explica Castro.

 

Ele, contudo, ressalva que a gestora começa a planejar um aumento das posições prefixadas nas carteiras, mas de forma ainda lenta, já que a curva de juros segue sujeita à influência de diversos fatores. Nesse grupo de incertezas está a composição do próximo governo, especialmente da equipe econômica, além de uma maior formalização da condução da política fiscal.

 

A preferência da gestora está em títulos com vencimentos entre 2017 e 2021. Na sexta-feira, LTNs com prazos de 2017 e 2018 estavam sendo negociadas com taxas de 12,35% e 12,34%, respectivamente, no Tesouro Direto.

 

O superintendente ressalta que a indefinição política até o dia 26 de outubro provocou muita volatilidade no mercado e levou os gestores a adotarem uma posição mais conservadora na margem. Agora, deixa-se de olhar um evento isolado e passa-se a analisar as perspectivas para o médio e longo prazo.

 

Embora o cenário doméstico permaneça complicado e os desafios no fronte externo persistam, a consolidação das primeiras impressões favoráveis do governo poderá ser benéfica para a bolsa. “Hoje os gestores de renda variável têm a capacidade de manter uma carteira mais estrutural, o cenário de volatilidade está relativamente resolvido. Estamos acompanhando qual vai ser o nível de entrega desse governo de agora para frente”, comenta Castro. O ambiente ainda é instável, mas as perspectivas são mais favoráveis.

 

Gagliardi, da gestora de patrimônio G5, considera que o mercado já antecipou em grande parte a reeleição do governo, evento embutido nos baixos preços dos ativos. “A renda variável começou a entrar mais no nosso radar. Determinados ativos de muita qualidade foram penalizados de maneira excessiva.”

 

Ainda que a alocação da G5 em bolsa seja feita quase na íntegra via fundos, o gestor destaca que agora já enxerga ações com preços que embutem um cenário ruim com baixa probabilidade de se concretizar. Companhias do setor financeiro se encaixam nessa análise, mas é preciso continuar a ponderar a relação entre risco e retorno.

 

“O nível de taxa de juros ainda é muito interessante e com um risco infinitamente abaixo da renda variável”, afirma Gagliardi, que faz ponderações. “Para a pessoa que estava muito fora da bolsa nos últimos anos é hora de considerar com muito carinho entrar de novo. De forma gradativa, procurando gestores ou ativos de qualidade, descontados.”

 

Otávio Vieira, sócio da Fides Asset Management, conta que a instituição começou a aumentar a exposição ao mercado acionário. O foco também está em ações de bancos, mas a gestora segue com posições em papéis de educação, da Suzano Papel e Celulose e em alguns casos mais pontuais, como PDG, Contax e JHSF. “É preciso estar preparado”, diz.

 

Antes das eleições, a exposição da gestora estava muito pequena em bolsa e a ideia agora é se mover com calma, conforme as indicações do novo governo. E é preciso estar atento também ao movimento de investidores institucionais, que no ano estão com saldo líquido negativo de R$ 16,2 bilhões em bolsa. A reversão de sua posição poderá ser a “mola propulsora” para a retomada do mercado, na visão de Vieira.

 

Em relatório enviado a clientes um dia após as eleições presidenciais no qual elenca algumas medidas que poderão ser anunciadas pelo novo governo, a equipe de análise do HSBC afirma que os novos elaboradores da política e o ritmo do ajuste relacionado serão críticos para o mercado de ações no Brasil.

 

O cenário básico do banco é de ajuste gradativo, o que pode gerar apreensão de investidores em relação à ausência de mudanças e, consequentemente, se refletir nos preços dos ativos. Caso os múltiplos fiquem mais comprimidos e as previsões de lucro das empresas tenham queda adicional, o HSBC vê uma oportunidade de adicionar risco diante de uma “surpreendente estabilização da política”.

 

Nesse contexto, a carteira do banco conta com ações de exportadoras como de papel e celulose (Klabin e Suzano) e de carne bovina (Minerva), consideradas não tão sensíveis à demanda doméstica e com potenciais benefícios de uma desvalorização do real; papéis defensivos de setores que tendem a permanecer como prioridades no próximo mandato, como educação (Estácio Participações); e ações que devem se favorecer sob um cenário de estabilização política, como de bancos (Bradesco, Itaú Unibanco) e shopping centers (Iguatemi).