A reunião do conselho de administração da Petrobras na sextafeira, interrompida e adiada para amanhã pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi uma notícia inesperada e com razões ainda não esclarecidas que deixou o mercado surpreso. À tarde as ações subiam mais de 5%, provavelmente tentando antecipar a possibilidade de alta dos combustíveis, antes do adiamento. 

A estatal enfrentou outro complicador: o mercado recebeu com reticência a notícia de que o Partido dos Trabalhadores (PT) quer indicar o ex-governador da Bahia, Jacques Wagner para o lugar de Graça Foster na Petrobras. 

Segundo fontes ouvidas pelo Valor , o que travou a reunião do conselho na sexta-feira, agora marcada para Brasília, tem a ver com problemas em relação à auditoria PwC, responsável pelos balanços da Petrobras. O clima foi tão tenso, conforme relatos, que sequer deu tempo de mencionar a questão do reajuste. 

Desde o início do mês, o mercado esperava que a Petrobras divulgasse o balanço do terceiro trimestre no último dia útil de outubro. No entanto, não há data oficial. Agora, o resultado deverá ser divulgado em 14 de novembro, um dia antes de vencer o prazo legal de 45 dias após o fechamento do trimestre. 

Ainda não estão claras as razões que levaram a consultoria PwC a questionar os dados do balanço da Petrobras. A estatal, que tem ações na bolsa de Nova York e está sujeita ao regulador americano Securities and Exchange Commission (SEC), agora terá de se posicionar sobre as medidas tomadas após a divulgação do depoimento de seu exdiretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, que confessou ter recebido suborno de empresas prestadoras de serviços. 

Na sua delação, o ex-diretor mencionou cobrança de 3% de todos os contratos. A Justiça calcula que o esquema tenha desviado R$ 10 bilhões da estatal. A seção 10A da lei americana (Securities Exchange Act) diz que o auditor externo que checa os balanços de uma empresa com valores mobiliários negociados nos Estados Unidos deve incluir no seu trabalho, entre outros procedimentos, alguns específicos averiguar, com nível satisfatório de segurança, a existência de "atos ilegais" que afetariam de maneira material as demonstrações financeiras. 

Feito isso, ele tem a obrigação de comunicar ao comitê de auditoria da empresa e seu conselho de administração sua posição sobre as suspeitas identificadas. 

Caso não haja uma resposta considerada adequada por parte da administração, a auditoria deve reportar isso ao conselho de administração, que tem um dia para enviar uma comunicação à SEC sobre o aviso recebido, com cópia para o auditor. 

Se essa carta não for enviada pela própria empresa em um dia, o auditor deve suspender o contrato com a firma, ou fazer uma notificação direta à SEC no dia útil seguinte. Se o auditor não cumprir esse ritual, ele pode ser processados civilmente pelo regulador do mercado americano. 

Em meio a essa complicada situação da empresa que veio a notícia sobre a intenção de indicar Jacques Wagner como solução política para o lugar da atual presidente, Graça Foster, que é pessoa de confiança da presidente Dilma, no comando da estatal. Um analista de mercado comentou que Wagner não tem perfil e formação para presidir, neste momento, uma empresa com tamanha complexidade e com uma dívida bruta de R$ 307 bilhões e um mega programa de investimentos. 

Um ponto é que Wagner foi um dos padrinhos do ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli, bem como do diretor financeiro, Almir Barbassa. Logo que saiu da empresa, Gabrielli foi para a Secretaria de Planejamento da Bahia. Ele e Barbassa podem ser responsabilizados pois deveriam atestar perante a SEC a veracidade das informações prestadas aos investidores e a eficácia dos sistemas de controle. 

Por outro lado, a própria presidente Dilma disse, depois de reeleita, que não fará indicações políticas na Petrobras, onde colocou, em 2012, Graça Foster, de sua estrita confiança. Sobre a possibilidade de convite a Rodolfo Landim, ex -presidente da BR e da OGX, um amigo diz que ele seria "maluco" se aceitasse. Outro empecilho é que, como sócio da petroleira Ouro Preto, teria que vender sua participação.