As pessoas jurídicas enfrentam mais dificuldades para tomar crédito em banco. Pior do que a elevação das taxas médias de juros, de 1,1 ponto porcentual ao ano (de 14,8% ao ano, em outubro de 2013, para 15,9% ao ano, em outubro de 2014), é o que ocorre com os prazos médios dos empréstimos. Estes caíram, nas mesmas datas, de 63,9 meses para 60,8 meses. Mas apenas entre setembro e outubro o prazo médio caiu de 71,7 meses para 60,8 meses, segundo o Banco Central.

 

 

Os números oficiais mal revelam o que de fato ocorre no mercado de crédito: a inadimplência está oculta por sucessivas operações de renegociação de dívidas - adotadas por empresas que não podem pagar os empréstimos bancários no vencimento - ou em casos de atrasos com fornecedores, entre os quais concessionárias de serviços públicos.

 

Em alguns setores, as dificuldades são dramáticas, segundo reportagem de Josette Goulart, no Estado de segunda-feira. Levantamentos do Itaú BBA e da consultoria Datagro mostraram que 60 usinas de açúcar e álcool fecharam as portas desde 2008 e que pelo menos 30 companhias estão em recuperação judicial. O endividamento dessas companhias com os bancos é estimado em R$ 77 bilhões. Segundo a agência de classificação de riscos Fitch Ratings, já se pode falar em risco sistêmico do setor, reduzindo a oferta de capital de giro.

 

O risco de crédito afasta os bancos de grande parte dos tomadores. O temor de calote pelos bancos é tão grande que alguns já incluem entre os fatores de risco o da escassez de água, no caso dos setores mais dependentes do insumo, como o têxtil, o químico, o farmacêutico, o de bebidas, papel e celulose, além do sucroalcooleiro. "Se avaliarmos que a água é fundamental para a empresa e que ela não tem um plano B, não vamos abrir limite de crédito", disse ao jornal Valor Cláudio Cusin, diretor do Banco Indusval.

 

Ao mesmo tempo, empresas que pretendiam lançar títulos no exterior estão adiando a colocação, porque os investidores pretendem juros mais altos. Além disso, o boletim Focus de 5 de dezembro, preparado pelo Banco Central com base em pesquisa com consultorias econômicas, registrou a expectativa de que a cotação do dólar atinja R$ 2,70, no final do ano que vem, ante R$ 2,67, na pesquisa anterior. Ontem, as cotações superavam R$ 2,60. O aperto de crédito pode agravar a estagnação neste fim de ano e as expectativas para 2015.