Se os EUA tiveram papel central na redução da população cubana - cerca de 1 milhão partiu para o território americano -, a reaproximação entre os países tende a ajudar a repor pelo menos parte disso. O investimento econômico impulsionado por Barack Obama amenizaria as privações materiais que são uma das razões por que as cubanas são as que têm menos filhos na América Latina.

 

 

Nos anos 60, uma cubana tinha 5 filhos em média. Desde 1978, o número passou a figurar abaixo dos dois filhos por mulher, considerados necessários para repor a população. Segundo dados de 2012, é de 1,45. "Tive uma só e minha filha também falou que só terá essa", disse a enfermeira Ydania Rivera, de 53 anos, que nesta segunda-feira, 22, levava a neta, Lauren, ao médico no centro de Havana. Para ela, a baixa renda é o principal motivo para a queda populacional que o governo tenta reverter - recentemente, a licença-maternidade foi ampliada para um ano no ano passado houve 156 nascimentos a mais que em 2012.

 

Ydania ganha o equivalente a US$ 40 por mês. "Lauren precisa de um tipo de leite que custa US$ 1,45 por dia. O pacote de fraldas com 12 unidades, com sorte, custa US$ 3. Se for pagar para alguém cuidá-la, são mais US$ 15 por mês", relata a enfermeira, que destaca também outras razões para o forte controle familiar: o bom sistema de saúde, que distribui anticoncepcionais com cobertura de 77%, e a facilidade para fazer aborto.

 

A interrupção de gravidez passou a ser legal em 1965, desde que feita até a décima semana. A conjunção entre crise econômica e facilidade para abortar levou a números que preocupam o próprio regime: 40% das grávidas interrompem a gestação e, para cada 100 partos, há 66 abortos, também segundo dados oficiais de 2012. O governo reconhece o "problema de saúde", mas pondera que sua contagem é precisa, ao contrário da feita onde a prática é proibida.

 

A doceira Carmen Flores, de 48 anos, recorreu à rede estatal há 6 anos para interromper uma gestação. "Achei que já não era o momento, por ter outros projetos e para a minha saúde. Foi simples e seguro. O nível de instrução é alto em Cuba, por isso as famílias sabem quantos filhos podem ter", argumenta.

 

Como o número de óbitos supera o de nascimentos e há emigração forte, o país chega a perder 80 mil habitantes por ano. Em 2025, um em cada quatro habitantes terá mais de 60 anos, tendência que agrava a falta de mão de obra e eleva os custos da assistência social e médica.

 

Josué García, de 26 anos, é ciclotaxista no centro de Havana. Na carteira, leva uma foto da filha de 3 anos, Salet, que provavelmente não terá irmãos. "Gostaria de ter cinco, um homem pode ter até 20 na minha opinião. Mas mal consigo alimentar uma. Vivemos para comer em Cuba, não para fazer planos. Com turistas americanos e mais empregos, espero que isso mude."