RIO - A Petrobras — que informou nesta quinta-feira mais uma vez a intenção de publicar na próxima semana seu balanço referente ao terceiro trimestre do ano passado com perdas relativas aos casos de corrupção — deverá registrar baixas contábeis de cerca de R$ 10 bilhões, de acordo com uma fonte do governo. Na lista de casos contabilizados, estarão a construção das refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Comperj, no Rio de Janeiro. Estão ainda as obras de modernização das refinarias Repar (Paraná), Replan (Paulínia, em São Paulo) e Henrique Lage, em São José dos Campos (SP). Também terão perdas as obras do Gasoduto Urucu-Manaus e Cabiúnas (no Rio).

Em comunicado enviado nesta quinta-feira à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a estatal detalhou que seu balanço vai incluir “a avaliação individual de ativos e projetos cuja constituição se deu por meio de contratos de fornecimento de bens e serviços firmados com empresas citadas na Operação Lava-Jato, inclusive a refinaria Abreu e Lima, o que poderá resultar no reconhecimento de perdas e consequente revisão de seu ativo imobilizado atual”.

CONSELHO SE REÚNE DIA 27

Para calcular a perda contábil, a Petrobras vai reduzir do seu lucro o valor dos contratos que tiveram corrupção. Para isso, tomou como base os depoimentos de delação premiada feitos por ex-funcionários da Petrobras e executivos das empresas fornecedoras à Justiça. A companhia bloqueou a contratação de 23 empresas citadas na Lava-Jato. O balanço do terceiro trimestre deveria ter sido divulgado em meados de novembro, mas foi adiado em duas ocasiões por conta das denúncias de corrupção. O Conselho de Administração da Petrobras vai se reunir no próximo dia 27 para aprovar o balanço do terceiro trimestre do ano passado, que ainda não terá o aval da auditoria PricewaterhouseCoopers.

Além das perdas contábeis de R$ 10 bilhões, a mesma fonte do governo destaca que a companhia cortará investimentos neste ano em cerca de 30%. Por ano, com base em seu Plano de Negócios 2014-2018, a estatal previa investir cerca de US$ 44 bilhões.

— A queda de investimento é de 30%. É uma retração baixa diante das dificuldades que a companhia vem enfrentando, já que não vai conseguir captar recursos no exterior — disse a fonte.

Sobre a queda de 30%, a Petrobras não confirma nem nega. Em nota, disse que está revisando seu planejamento para o ano de 2015, implementando uma série de ações voltadas para a preservação do caixa, de forma a viabilizar seus investimentos sem a necessidade de efetuar novas captações, tomando por premissas taxa de câmbio de R$ 2,60 e preço médio do barril do Brent em 2015 de US$70. “Tais medidas incluem a antecipação de recebíveis, a redução do ritmo dos investimentos em projetos, a revisão de estratégias de preços de produtos e a redução de custos operacionais em atividades ainda não alcançadas pelos programas estruturantes”, destacou. A empresa não comentou a previsão de perdas.

BUSCA DE CREDIBILIDADE

Segundo Maurício Pedrosa, estrategista da Queluz Asset Management, os investidores olharão com bastante atenção os números da empresa. O objetivo é avaliar a metodologia usada para contabilizar as perdas.

— O mercado embutiu no preço das ações da Petrobras uma estimativa sobre as perdas, mas o cálculo não é um consenso porque trata-se de algo intangível. Será importante saber o número oficial — disse Ricardo Zeno, sócio-diretor da AZ Investimentos.

Nesta quinta, as ações preferenciais (PN, sem voto) subiram 5,36% e as ordinárias (ON, com voto) avançaram 6,41%, após a Petrobras afirmar que o balanço trará o custo da corrupção:

— A empresa deve divulgar uma estimativa de perdas até para dar credibilidade aos números. Se viesse maravilhoso, seria difícil acreditar no balanço. Divulgar resultados financeiros é o requisito mínimo para qualquer empresa de capital aberto no mundo, e mesmo um documento como esse, não auditado, resgatará um pouco da credibilidade — disse Alexandre Wolwacz, diretor da escola de investimentos Leandro & Stormer.