Diante da necessidade de ajustes, um crescimento econômico baixo já está dado em 2015, mas o desempenho da economia pode ter uma composição um pouco mais equilibrada pelo lado da oferta, algo não visto desde 2010. Embora essa percepção não seja consenso, um número considerável de instituições avalia que, no próximo ano, a indústria aumentará mais do que os serviços dentro do Produto Interno Bruto (PIB).
 
Para economistas consultados pelo Valor, o setor industrial não deve mostrar recuperação consistente, mas uma expansão deve ser garantida pela base de comparação baixa de 2014. Por outro lado, a tendência de depreciação do real e a consequente moderação dos ganhos de renda da população apontam para uma desaceleração mais estrutural dos serviços. Já para a indústria, o cenário de câmbio mais desvalorizado e menor pressão de custos com mão de obra pode ajudar o setor a começar a recuperar a competitividade.
 
Com previsão de alta de 0,8% para o PIB em 2015, Caio Megale, do Itaú Unibanco, estima que os serviços vão avançar 0,6% no exercício, e a indústria terá um aumento um pouco maior, de 0,9%. Megale observa, no entanto, que o setor industrial mal deve recuperar o tombo de 1,3% previsto para 2014, ao passo que os serviços vão crescer novamente, ainda que em ritmo mais fraco, após terem subido 0,8% no ano anterior. "Acho difícil extrapolar tendências de 2015, porque será um ano de freio e arrumação, mas para os próximos anos devemos ver um rebalanceamento entre estes dois setores", diz ele.
 
O economista explica que a distribuição do crescimento entre indústria e serviços está relacionada principalmente ao câmbio. Em períodos de real mais forte, o poder de compra da população aumenta, o que favorece a expansão dos setores que dependem de itens que não podem ser transacionados com o exterior e, portanto, não sofrem competição externa. Esse foi o quadro observado em boa parte dos últimos anos, quando, na média de 2009 a 2014, considerando a estimativa do Itaú para o último ano, o PIB da indústria cresceu 1% ao ano, ante média anual de 2,5% dos serviços.
 
Nos próximos cinco anos, a expectativa é que a indústria tenha influência mais positiva sobre o PIB do que os serviços, prevê Megale, já que a trajetória de enfraquecimento da moeda local significa menos poder de compra dos consumidores e, do outro lado, custos de produção menores. De qualquer forma, complementa, 2015 não pode ser considerado como o início de um novo ciclo de expansão da indústria, porque o ajuste fiscal e o aperto monetário terão efeito restritivo sobre a atividade.
 
Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, também avalia que a composição do PIB deve ser mais favorável para a indústria daqui para frente, mas tem uma visão um pouco mais positiva sobre 2015 para o setor, que, em suas estimativas, deve avançar 1,3% dentro do PIB no período - quase o dobro da alta de 0,7% esperada para a atividade dos serviços. Segundo Alessandra, além de uma depreciação real de cerca de 4% do câmbio e da pressão menor do mercado de trabalho sobre os custos, um terceiro fator deve atuar a favor da indústria: a retomada do crescimento da economia global, liderada pelos Estados Unidos.
 
A Tendências estima que a economia dos EUA, importante compradora de manufaturados brasileiros, vai avançar na casa de 3% no ano que vem, o que dará um impulso maior às exportações do que em 2014, ano que muito provavelmente vai terminar com déficit na balança comercial do Brasil. A retomada da atividade americana, aliada a um câmbio mais atrativo para as vendas externas, deve levar as exportações de bens e serviços a um aumento de 2,6% dentro do PIB em 2015, calcula Alessandra.
 
Apesar de trabalhar com avanço de 1,2% do PIB industrial no próximo ano, Guilherme Maia, da Votorantim Corretora, é cético em relação a possíveis efeitos positivos do câmbio na produção industrial. Mencionando que a economia brasileira é fechada, dado que a corrente de comércio do país não chega a 30% do PIB, e que poucos setores industriais são exportadores, Maia avalia que o crescimento previsto para a indústria em 2015 é mais um efeito estatístico do desempenho pífio do ano anterior.
 
A MCM tem cenário semelhante ao da Tendências: trabalha com alta de 1,2% e 0,7% do PIB industrial e do de serviços no ano que vem, respectivamente. Para o economista Leandro Padulla, porém, o comportamento mais positivo da indústria será influenciado pelo setor extrativo, com incremento da produção de petróleo. Já o segmento de transformação deve aumentar menos de 0,5% no período. "Não vejo a indústria voltando a ganhar espaço dentro do PIB no curto prazo. O movimento esperado para 2015 é passageiro", disse.
 
De acordo com Padulla, a expectativa para 2015 é parecida com o que ocorreu depois da crise financeira mundial, quando o PIB da indústria deu um salto de 10,4%, após ter caído 5,6% em 2009. "A indústria deve voltar ao seu desempenho médio, enquanto nos serviços há uma acomodação", comenta o economista, em função da desaceleração da renda. Nos cálculos da MCM, o rendimento médio real dos ocupados nas seis principais regiões metropolitanas do país vai crescer somente 0,5% em 2015, após ter subido 2,9% neste ano.
 
"Teremos piora do mercado de trabalho após dez anos de melhora", comenta Maia, da Votorantim, o que irá moderar o consumo das famílias e, consequentemente, o setor de serviços. Segundo ele, como a busca por uma ocupação tende a aumentar no próximo ano, a taxa de desemprego nas seis principais áreas metropolitanas deve subir de 5% neste ano para 6,5% em 2015, o que deve ter efeito negativo sobre a confiança dos consumidores e, consequentemente, sobre o setor de serviços.