Conseguir crédito não será nada fácil para as empresas em 2015 e o dinheiro certamente sairá mais caro do que nos últimos anos. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) acaba de anunciar uma nova política de concessão de crédito, que terá taxas mais altas para os setores não prioritários. Os empréstimos com recursos livres dos bancos mal vão compensar a inflação projetada e as taxas devem acompanhar o esperado aumento da Selic. Já o mercado de capitais não promete desempenho melhor do que o deste ano, influenciado pela austeridade das políticas monetária e fiscal e pela expectativa de baixo crescimento econômico interno e elevação dos juros americanos.

O BNDES tem sido uma das principais fontes de crédito, especialmente depois que o governo resolveu impulsionar os empréstimos dos bancos públicos para ativar a economia. Nos últimos anos, o banco recebeu R$ 486 bilhões do Tesouro para bancar o subsídio da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e o Programa de Sustentação do Investimento (PSI); e, em novembro, era responsável por 15,3% dos empréstimos totais para as empresas. Nos 11 primeiros meses do ano, liberou R$ 162,3 bilhões em créditos.

Mas o BNDES não deve contar com novas injeções de recursos futuramente em vista da promessa do governo de restringir os gastos para combater a inflação e conter a dívida bruta, que supera o patamar de 60% do Produto Interno Bruto (PIB). Como parte do ajuste, a TJLP, adotada em 90% dos empréstimos concedidos pelo banco, foi elevada na semana passada dos 5% em que estava desde janeiro de 2013 para 5,5% ao ano a partir de 2015. Novos aumentos podem ser esperados (Valor 23/12), mesmo porque o subsídio só aumentou nesse período, em que o juro básico passou de 7,25% para 11,75% ano. Na mesma reunião, foi decidido que as taxas do PSI também serão aumentadas no próximo ano para a faixa de 6,5% a 11% ao ano em comparação com os 4% a 8% ao ano que vigoraram neste ano.

Para se adequar à nova dieta, o BNDES reformulou as regras operacionais. Serão considerados prioritários os financiamentos à infraestrutura, que já abocanharam 35,7% dos desembolsos, ao transporte coletivo, ao saneamento básico, à inovação e à gestão pública, e às pequenas e médias empresas. Nos projetos prioritários, a participação dos recursos corrigidos pela TJLP será limitada a 70% do valor total, nos menos prioritários a taxa será aplicada em até 30% do crédito.

Nos bancos privados, a oferta de recursos não será muito melhor. O Banco Central prevê expansão de 12% do crédito, mesmo percentual deste ano, inferior aos 14,6% de 2013 e aos 20,6% de 2010. Excluindo as operações para o financiamento imobiliário e o rural, o crédito com recursos livres deve crescer 7%, pouco acima dos 5% deste ano, praticamente empatando com a inflação.

O prazo médio das operações com empresas diminuiu para pouco mais de dois anos. O juro médio do crédito com recursos livres chegou a 23,5% ao ano, em novembro, dois pontos acima do patamar de um ano atrás, e a perspectiva é de que os aumentos continuem, acompanhando a elevação dos juros básicos. As operações de capital de giro, as mais frequentes nas empresas, acumulavam no ano até novembro aumento de apenas 1%, bem menos do que a inflação do período.

Restaria às empresas recorrer ao mercado de capitais, que o ministro da Fazenda nomeado, Joaquim Levy, gostaria muito de ver florescer. Mas o fraco desempenho econômico e as turbulências do cenário internacional causadas pela perspectiva de elevação dos juros nos Estados Unidos tornaram este ano mais um na sequência de desempenhos decepcionantes registrados desde 2012.

Somente duas emissões de ações foram realizadas no ano, somando R$ 15,4 bilhões, o segundo menor volume em sete anos. Várias operações registradas foram canceladas. Na renda fixa, o volume captado foi de R$ 116,7 bilhões em 11 meses, 1,5% a mais do que em igual período de 2013.

Nada indica que as condições que dificultaram a captação de recursos pelas empresas em 2014 serão amenizadas em 2015. Ao contrário, podem até se agravar em vários aspectos como na continuidade da alta da Selic no mercado interno e na elevação dos juros americanos e letargia da economia brasileira. A reduzida disponibilidade de crédito é mais um dos fatores que conspiram para o fraco desempenho da economia no próximo ano.