O benefício da queda dos preços do petróleo ainda não chegou para as empresas aéreas brasileiras, que têm cerca de 40% dos gastos totais dedicados a esse combustível. Mas analistas e as próprias companhias do setor dizem que no ano que vem o custo com querosene de aviação será menor por conta desse cenário do mercado internacional. O querosene de aviação, combustível utilizado nas aeronaves, tem seu preço reajustado no Brasil no fim de cada mês. A fórmula cunhada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) leva em conta não só a cotação no exterior como também o câmbio. Stephen Trent, analista do setor para o Citi, lembrou em entrevista ao Valor que durante um bom tempo nos últimos três meses em que o petróleo - e o combustível de aviação no Golfo do México, que é o padrão - sofreu forte queda, o real teve desvalorização considerável ante o dólar. E foi só no fim de novembro que essa toada se inverteu, o que significa que é a partir de dezembro que a economia de custos pode começar a se materializar. A demora em chegar ao país o impacto do insumo mais barato, diz o analista, chega a até 60 dias. Eduardo Masson, que é diretor financeiro e de relações com investidores da Gol Linhas Aéreas, afirma que no primeiro trimestre de 2015 é que o benefício será mais visível. O executivo reforça que o foco da Gol será da melhora de rentabilidade durante 2015. Além disso, a Gol avalia que, mesmo se o petróleo se recuperar durante 2015, o querosene não vai encarecer como o observado neste ano. "Nossa interpretação é que o preço do combustível será bem baixo no ano que vem e, mais do que isso, com o preço sobre preço [reajuste feito sobre o mês anterior], demora ainda mais tempo para ficar caro. Acreditamos em preços mais baixos no primeiro semestre e mesmo no segundo não é esperada retomada total", afirmou Masson ao Valor. Na semana passada, a TAM referendou essa visão. Para a companhia, parte do grupo Latam Airlines com a chilena LAN, apenas no médio prazo a queda nos preços do querosene será sentida. A expectativa durante 2015, no entanto, é de instabilidade na cotação, o que atrapalha a empresa. "Não temos previsão de onde o preço vai ficar. Continuamos acompanhando o mercado para saber se teremos corte de custos. É importante lembrar que a alta acentuada do dólar, por outro lado, aumenta os custos da companhia com combustível", disse Marco Antonio Bologna, presidente do conselho da TAM S.A., ao lado de Claudia Sender, executiva-chefe da TAM Linhas Aéreas. A estimativa da TAM ser mais pessimista do que a Gol faz sentido, segundo Trent, do Citi. Para ele, é exatamente a Gol que mais se beneficia dos preços menores. "Em terceiro lugar, vemos a Latam como beneficiada", comenta. Nos nove meses até setembro de 2014, a Gol gastou R$ 2,85 bilhões com combustível para seus aviões. Em relação ao mesmo período do ano passado, a alta foi de 8%, mas não impediu que a margem operacional da companhia subisse de 1,7% para 4,6% em um ano. Esse montante responde por 40% das despesas totais da aérea. No caso da Latam Airlines, no mesmo período o gasto foi de R$ 7,73 bilhões de acordo com o câmbio da época, corte de 5,2% e representante de 34% das despesas. Pelos cálculos do Citi, com a expectativa de R$ 2,38 por litro do combustível em 2015 - uma previsão "conservadora", segundo o próprio analista -, o ganho em lucros para a Gol pode ser de 5% a 7%. A margem sobre o Ebitdar (lucro antes de juros, impostos, depreciação, amortização e leasing de aviões) pode saltar de 19% para 22%. "Há muita preocupação com o câmbio, porém. E eles ainda têm muito espaço para cortar a oferta de assentos, ainda estão reconfigurando a oferta", opina. Em relatório, o Credit Suisse também comentou o barateamento do querosene de aviação. O banco elevou a recomendação da Gol de neutra para compra, passando o preço-alvo de R$ 12 para R$ 20 - o ativo é cotado atualmente a R$ 13,75. Ao mesmo tempo, cortou da Latam de compra para neutra e reduziu o preço-alvo dos recibos de ações (ADRs) de US$ 24 para US$ 13. De acordo com o texto assinado pelo analista Bruno Savaris, junto com uma abordagem mais racional para receita, a queda de 40% nos preços do petróleo deve acelerar ainda mais a expansão de margem em 2015 no setor. "Enquanto esperamos que as companhias aéreas repassem parcialmente o benefício para os clientes ao longo do tempo, especialmente dentro de rotas internacionais em que a concorrência é mais feroz, o ganho de custo é relevante, já que os gastos com combustível equivalem a cerca de 35% a 40% das receitas das empresas", afirma a casa de análise. "Esperamos que as companhias aéreas expandam suas margens a partir do primeiro trimestre."
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O benefício da queda dos preços do petróleo ainda não chegou para as empresas aéreas brasileiras, que têm cerca de 40% dos gastos totais dedicados a esse combustível. Mas analistas e as próprias companhias do setor dizem que no ano que vem o custo com querosene de aviação será menor por conta desse cenário do mercado internacional. O querosene de aviação, combustível utilizado nas aeronaves, tem seu preço reajustado no Brasil no fim de cada mês. A fórmula cunhada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) leva em conta não só a cotação no exterior como também o câmbio. Stephen Trent, analista do setor para o Citi, lembrou em entrevista ao Valor que durante um bom tempo nos últimos três meses em que o petróleo - e o combustível de aviação no Golfo do México, que é o padrão - sofreu forte queda, o real teve desvalorização considerável ante o dólar. E foi só no fim de novembro que essa toada se inverteu, o que significa que é a partir de dezembro que a economia de custos pode começar a se materializar. A demora em chegar ao país o impacto do insumo mais barato, diz o analista, chega a até 60 dias. Eduardo Masson, que é diretor financeiro e de relações com investidores da Gol Linhas Aéreas, afirma que no primeiro trimestre de 2015 é que o benefício será mais visível. O executivo reforça que o foco da Gol será da melhora de rentabilidade durante 2015. Além disso, a Gol avalia que, mesmo se o petróleo se recuperar durante 2015, o querosene não vai encarecer como o observado neste ano. "Nossa interpretação é que o preço do combustível será bem baixo no ano que vem e, mais do que isso, com o preço sobre preço [reajuste feito sobre o mês anterior], demora ainda mais tempo para ficar caro. Acreditamos em preços mais baixos no primeiro semestre e mesmo no segundo não é esperada retomada total", afirmou Masson ao Valor. Na semana passada, a TAM referendou essa visão. Para a companhia, parte do grupo Latam Airlines com a chilena LAN, apenas no médio prazo a queda nos preços do querosene será sentida. A expectativa durante 2015, no entanto, é de instabilidade na cotação, o que atrapalha a empresa. "Não temos previsão de onde o preço vai ficar. Continuamos acompanhando o mercado para saber se teremos corte de custos. É importante lembrar que a alta acentuada do dólar, por outro lado, aumenta os custos da companhia com combustível", disse Marco Antonio Bologna, presidente do conselho da TAM S.A., ao lado de Claudia Sender, executiva-chefe da TAM Linhas Aéreas. A estimativa da TAM ser mais pessimista do que a Gol faz sentido, segundo Trent, do Citi. Para ele, é exatamente a Gol que mais se beneficia dos preços menores. "Em terceiro lugar, vemos a Latam como beneficiada", comenta. Nos nove meses até setembro de 2014, a Gol gastou R$ 2,85 bilhões com combustível para seus aviões. Em relação ao mesmo período do ano passado, a alta foi de 8%, mas não impediu que a margem operacional da companhia subisse de 1,7% para 4,6% em um ano. Esse montante responde por 40% das despesas totais da aérea. No caso da Latam Airlines, no mesmo período o gasto foi de R$ 7,73 bilhões de acordo com o câmbio da época, corte de 5,2% e representante de 34% das despesas. Pelos cálculos do Citi, com a expectativa de R$ 2,38 por litro do combustível em 2015 - uma previsão "conservadora", segundo o próprio analista -, o ganho em lucros para a Gol pode ser de 5% a 7%. A margem sobre o Ebitdar (lucro antes de juros, impostos, depreciação, amortização e leasing de aviões) pode saltar de 19% para 22%. "Há muita preocupação com o câmbio, porém. E eles ainda têm muito espaço para cortar a oferta de assentos, ainda estão reconfigurando a oferta", opina. Em relatório, o Credit Suisse também comentou o barateamento do querosene de aviação. O banco elevou a recomendação da Gol de neutra para compra, passando o preço-alvo de R$ 12 para R$ 20 - o ativo é cotado atualmente a R$ 13,75. Ao mesmo tempo, cortou da Latam de compra para neutra e reduziu o preço-alvo dos recibos de ações (ADRs) de US$ 24 para US$ 13. De acordo com o texto assinado pelo analista Bruno Savaris, junto com uma abordagem mais racional para receita, a queda de 40% nos preços do petróleo deve acelerar ainda mais a expansão de margem em 2015 no setor. "Enquanto esperamos que as companhias aéreas repassem parcialmente o benefício para os clientes ao longo do tempo, especialmente dentro de rotas internacionais em que a concorrência é mais feroz, o ganho de custo é relevante, já que os gastos com combustível equivalem a cerca de 35% a 40% das receitas das empresas", afirma a casa de análise. "Esperamos que as companhias aéreas expandam suas margens a partir do primeiro trimestre."