Pressionado pela alta do dólar, o Banco Central (BC) confirmou ontem que continuará a oferecer a chamada "ração diária" da moeda americana ao mercado. No Congresso Nacional, o presidente do BC, Alexandre Tombini, defendeu "políticas bem ajustadas" para enfrentar esse período de turbulência nos mercados emergentes.

 

 

 

Na saída da audiência pública no Senado, quando o dólar se aproximava de R$ 2,75, Tombini disse aos jornalistas que vai manter as intervenções diárias no câmbio a partir de 1.º de janeiro de 2015, mas pode haver ajustes no volume atual de US$ 200 milhões de contratos que são vendidos diariamente.

 

"Os parâmetros do swap cambial para o começo de 2015 serão decididos nos próximos dias. Eles podem ser ajustados para o mínimo de US$ 50 milhões e máximo de US$ 200 milhões", afirmou Tombini.

 

A fase atual do programa de operações de swap cambial - mecanismo equivalente à venda futura da moeda americana - estava programada para terminar no fim deste ano. Em funcionamento desde agosto de 2013, já foram ofertados mais de US$ 100 bilhões, correspondentes a quase 30% das reservas internacionais do País. Esses instrumentos, porém, são liquidados em reais.

 

Proteção. Tombini voltou a dizer que o objetivo do governo não é segurar a cotação do dólar, mas dar proteção aos agentes financeiros. Depois de anunciar a continuidade do programa, o dólar perdeu força, mas mesmo assim fechou o dia em R$ 2,74, com alta de 2%.

 

O presidente do Banco Central disse que o Brasil precisa adotar "políticas mais sólidas" para sobressair em relação aos outros emergentes em momentos de fuga de capitais como o de agora, com o agravamento da crise na Rússia.

 

"Primeiro há uma venda de ativos nos mercado emergentes, tratada indiscriminadamente, mas ao longo do tempo os países vão sendo separados", disse. "É importante que tenhamos políticas bem ajustadas para enfrentar esse período", completou.

 

Ao longo da apresentação, ele defendeu afinidade entre a alta dos juros, praticada pelo Banco Central, e contenção dos gastos públicos, prometida pela nova equipe de Joaquim Levy, como receituário para retomar a confiança dos empresários e consumidores. A meta de economia de 1,2% do PIB em 2014 para o pagamento dos juros da dívida foi classificada como "desafiante, mas factível".

 

Inflação. A maior preocupação da autoridade monetária é evitar que a alta da moeda americana se transforme em "inflação persistente". O IPCA acumulado em 12 meses encerrados em novembro acumula 6,56%, mas a inflação deve fechar o ano abaixo do limite de 6,5%, garantiu Tombini. Para isso, o IPCA não pode superar 0,86% no último mês do ano. "Acreditamos que a inflação de dezembro será menor que isso. Logo, estaremos abaixo de 6,5%", afirmou.

 

No cenário do presidente do Banco Central, a inflação acumulada em 12 meses deve atingir o pico no primeiro trimestre de 2015, no início da segunda gestão da presidente Dilma Rousseff. O prometido "longo período de declínio" da inflação só ocorrerá a partir do segundo trimestre do ano que vem e a meta, de 4,5%, só será alcançada no fim de 2016.

 

"O Banco Central não será complacente com inflação, e fará o que for necessário para viabilizar um cenário de inflação mais benigno no período de 2015-2016", disse Tombini.