O comércio bilateral com o Japão perdeu força este ano. No acumulado até novembro as vendas de produtos brasileiros para o país asiático somaram US$ 6,09 bilhões, com queda de 15% em relação a igual período do ano anterior. As importações brasileiras com origem Japão totalizaram US$ 5,55 bilhões no mesmo período e recuaram também 15% em relação a mesmo período do ano anterior. 
A redução nas trocas com o Japão foi muito mais acentuada que a do total do comércio exterior brasileiro. No mesmo período os embarques totais brasileiros caíram 6% enquanto as importações, 4,34%.

No período mais recente, o melhor ano da exportação brasileira para o Japão foi 2011, quando os embarques para o país asiático somaram US$ 9,47 bilhões, com superávit no comércio bilateral a favor do Brasil de US$ 1,6 bilhão, o melhor saldo pelo menos desde 2000.

Para o economista Kotaro Horisaka, brasilianista e professor da Universidade de Sophia, no Japão, o desempenho desse comércio bilateral reflete a dificuldade do país asiático para alavancar suas exportações e também seu baixo crescimento econômico.

Horisaka lembra que as exportações japonesas têm reagido aquém da expectativa, mesmo com a recente desvalorização do iene. Há cerca de um ano, diz ele, o dólar era equivalente a cerca de 80 ienes. Hoje, um dólar vale perto de 120 ienes.

"Mesmo com essa desvalorização de 50%, não houve elevação ainda das exportações japonesas", afirma.

Os últimos dados divulgados mostram que em novembro as exportações japonesas cresceram em valor, mas caíram em volume. Os embarques totais do Japão aumentaram 4,9% em novembro, contra igual mês de 2013, enquanto as importações diminuíram 1,7%. Em volume, a queda na exportação foi também de 1,7%, indicando que o iene mais desvalorizado anda não permitiu elevação da quantidade embarcada.

Horisaka diz que o desafio de elevar as exportações japonesas não passa apenas pela desvalorização cambial. "Nas últimas décadas, as fábricas antes instaladas no Japão migraram para a China e para países do sudeste asiático, em busca de custos mais baixos. Com isso, perdeu-se uma parte da produção em território japonês", conta.

Ao mesmo tempo, o Japão está em negociação na Parceria Trans- Pacífico (TPP, na sigla em inglês), um grande tratado internacional que deve reunir gigantes como Estados Unidos e China. "Esse acordo, porém, demanda grande negociação.

Ainda não há consenso." Um dos temais ainda não resolvidos está na troca dos setor Agrícola.

Enquanto os americanos querem expandir sua exportação, há uma preocupação dos japoneses em proteger seus produtores.

Já o crescimento da importação japonesa depende do aumento da demanda doméstica e do crescimento econômico do país. Atualmente, o Japão segue a política definida pelo primeiroministro Shinzo Abe.

Horisaka lembra que a recuperação econômica traçada por Abe passa essencialmente por três caminhos: o primeiro, com o "quantitative easing", estratégia para aumentar a base monetária, o segundo, baseado na elevação de investimento público, e o terceiro, que estabelece uma ampla reforma da economia, que inclui desburocratização de procedimentos e demanda, diz o professor, e a criação de uma nova indústria, focada em nichos com alto valor agregado tecnológico. Para ele, o país asiático não conseguirá voltar a atrair as fábricas que migraram para outras regiões da Ásia. "O Japão precisa criar uma indústria para o século XXI, fazendo uso da tecnologia que detém em áreas como Infraestrutura, transporte, tratamento de água e saúde, por exemplo." Um dos desafios para o Japão, diz Horisaka, é a alta dívida pública, que chega a 200% do Produto Interno Bruto (PIB), quando se contabiliza governo central e governos locais. Para administrar isso e ao mesmo tempo garantir os gastos da Previdência pública num país com população envelhecida, Abe promoveu a elevação do imposto sobre consumo de 5% para 8%.

A elevação da tributação ao consumidor, implementada em abril, tinha prosseguimento previsto para abril de 2016, quando iria para 10%. O aumento do imposto sobre consumo num país com uma das mais altas poupanças, porém, gerou desaquecimento na economia. No segundo trimestre do ano, o PIB japonês recuou 6,7% em relação a igual período do ano passado. No terceiro trimestre, o recuo foi de 1,9% em relação a iguais meses de 2013.

Para Horisaka, o esfriamento da economia japonesa certamente resultou da elevação da tributação.

A queda de demanda torna ainda maior o desafio de deixar para trás 15 anos de deflação e chegar a 2% de inflação até março de 2015, quando termina o atual ano fiscal japonês. A ideia que se defende, diz ele, é que a reação inicial de contenção de demanda como reação ao aumento de impostos irá ceder com o tempo e a economia poderá se recuperar com aumento também de consumo.

De qualquer forma, lembra ele, a elevação do imposto de consumo para 10% acabou sendo adiada para abril de 2017.

O economista Paulo Yokota acredita que o intercâmbio comercial Brasil-Japão pode ser fortalecido com parcerias em diversas áreas, desde produtos agrícolas até a área farmacêutica. Segundo ele, o investidor japonês tem interesse no país e há muito potencial para o desenvolvimento de negócios conjuntos.

"Muitos desses investimentos nem sempre são percebidos porque o capital japonês, em vez de vir de forma direta, tem vindo por meio de subsidiárias e controladas que as empresas japonesas possuem em outros países."