Título: Caem o desemprego e a renda
Autor: Branco, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 30/06/2011, Economia no DF, p. 41

O emprego está em alta e a renda, em baixa no Distrito Federal. A Pesquisa de Emprego e Desemprego no DF (PED-DF), realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mostrou que a taxa de desocupação recuou 1,3 ponto percentual no ano, caindo de 14,3%, em maio de 2010, para 13%, no mesmo mês deste ano. O contingente de desempregados diminuiu em 18 mil pessoas no período, caindo de 201 mil para 183 mil, ou seja, 9%. Na comparação mensal, também houve queda, já que em abril o índice de desemprego ficou em 13,6%, e o número de pessoas sem ocupação era de 191 mil, um decréscimo de 4,4%

Se o mercado de trabalho vive uma maré de contratações, os salários não estão tão bons assim. Segundo a PED, a renda média real do morador de Brasília e região recuou 3% em abril frente ao mesmo mês do ano passado, e 3,7% e em relação a março deste ano. A renda deixou o patamar tradicional dos R$ 2 mil e atingiu R$ 1.942.

Para explicar o fenômeno, os pesquisadores do Dieese aventam duas hipóteses. Uma é de que as vagas de trabalho criadas no DF estariam contribuindo para o decréscimo do rendimento médio, como se tratam de segmentos que exigem pouca qualificação e, consequentemente, ofertam salários menores. Em maio, os setores da economia que puxaram o emprego foram serviços (8 mil postos), comércio (5 mil) e construção civil (2 mil). Um outro motivo possível é que a inflação elevada ¿ o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses está em 6% ¿ estaria reduzindo o poder de compra dos brasilienses.

Desaquecimento "Sempre tivemos crescimento ou estabilidade do rendimento no DF. Caso a tendência de queda continue, pode esfriar um pouco a economia local", afirmou Clóvis Scherer, superintendente regional do Dieese. No entanto, Scherer destaca que o crescimento da ocupação em segmentos como comércio e serviços revela que as medidas de desestímulo ao consumo adotadas pelo governo federal ¿ como alta de juros e restrição do crédito ¿ ainda não se fizeram sentir como era esperado.

A continuação do consumo aquecido apesar das tentativas de desaceleração garantiu um emprego a Cássia Ferreira Miranda, 28 anos. A jovem começou a trabalhar como vendedora em uma loja de calçados do DF há uma semana. Ela, que sempre atuou no ramo do comércio, acredita que o setor oferece boas oportunidades em Brasília. "O pessoal aqui está sempre comprando, ainda mais as mulheres", comenta .

O economista Júlio Miragaya, diretor de Gestão de Informações da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), parceira do Dieese na realização da PED-DF, prevê que o número de desempregados registrará novas quedas até meados do segundo semestre. "Pelo menos até setembro ou outubro, a tendência deve ser redução. Depois, poderá haver certo equilíbrio", acredita.

Ele diz, no entanto, que o emprego estará sujeito ao comportamento da inflação e aos movimentos da População Economicamente Ativa (PEA) do DF. A PEA representa a quantidade pessoas inseridas no mercado de trabalho em uma determinada região, estejam ocupadas ou buscando emprego. "É um aspecto que dá incerteza, pois a nossa PEA vem apresentando tendência de recuo e isso tem contribuído para a queda do desemprego. Mas não sabemos até quando isso vai se manter", destaca Miragaya.

A PED-DF de maio representa um marco na série histórica da pesquisa por dois motivos. A taxa de desemprego de 13% é a menor já registrada para o período desde 1992, quando o estudo começou a ser realizado. Além disso, o contingente de desempregados registrado para o mês, de 183 mil pessoas, é o menor desde maio de 1998, quando a quantidade de desocupados no DF ficou em 179 mil habitantes.

Estudo A Pesquisa Emprego e Desemprego (PED) é realizada há 19 anos no Distrito Federal, desde 1992. Em outras regiões metropolitanas o estudo é mais antigo. Em São Paulo, por exemplo, é feito há 26 anos, desde 1985. No DF, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e seus parceiros visitam aleatoriamente 2.912 domicílios para fazer um balanço do comportamento do mercado de trabalho a cada mês. Os entrevistados que fornecem as informações têm garantia de sigilo absoluto por parte dos pesquisadores.

RECUO EM SETE CIDADES No conjunto das sete regiões metropolitanas onde a Pesquisa Emprego e Desemprego (PED) é realizada, houve recuo no desemprego, a exemplo do que ocorreu no Distrito Federal. O total de desocupados em maio, estimado em 2,4 milhões de pessoas, teve 40 mil integrantes a menos do que no mês anterior. Assim, a taxa de desemprego passou de 11,1% para 10,9%. O nível de ocupação aumentou 1% no mesmo período, com criação de 192 mil novos postos de trabalho. A PED é aplicada no Distrito Federal, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.