Título: Despedida em casa
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 03/07/2011, Política, p. 2

Atendendo a um pedido de Itamar Franco, família declina do convite de Dilma Rousseff para fazer um velório com honras de chefe de Estado no Palácio do Planalto, em Brasília. O Político será velado em Juiz de Fora (MG) e em belo horizonte

São Paulo e Brasília ¿ A proposta para fazer o velório no Palácio do Planalto com todas as honrarias de um chefe de Estado, com direito à desfile do caixão em carro aberto e a salvas de canhões, foi descartada pelo senador e ex-presidente Itamar Franco antes de morrer. A presidente Dilma Rousseff fez a oferta aos familiares do político, que recusaram prontamente para atender a um pedido do homem simples e discreto. A família mandou agradecer a gentileza da presidente. Preferiu fazer valer um pedido que Itamar havia feito à sua secretária particular: queria ser cremado e velado na Câmara Municipal de Juiz de Fora (MG).

Quando morreu, Itamar Franco tinha ao seu lado apenas quatro pessoas: suas duas filhas, Georgina e Fabiana, e dois assessores pessoais: a secretária Neuza Mitterhoff que trabalha para ele há 40 anos, e o coronel Mário Peluso, assessor particular. O ex-presidente começou a passar mal na noite de sexta-feira, quando ficou inconsciente. Teve o seu estado de saúde agravado ao amanhecer, os médicos perderam as esperanças uma hora antes do óbito oficial.

A morte de Itamar causou comoção nos corredores do Hospital Albert Einstein. Ele estava internado na UTI de uma área reservada à qual só pessoas íntimas tinham acesso. Médicos e enfermeiros que cuidavam do paciente ficaram abalados com o falecimento. "As duas filhas dele e uma senhora que é sua assessora não param de chorar", contou Vanda Peixoto, enfermeira do hospital.

O corpo passou o dia de ontem sendo preparado para o velório de três dias. Hoje, às 7h30, segue do Hospital Albert Einstein, no Morumbi, para o Aeroporto de Congonhas (SP) rumo a Juiz de Fora (MG), onde será velado na Câmara de Vereadores com cerimônia aberta ao público. Amanhã, o corpo seguirá para funeral no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro. Após esse velório, ainda na segunda-feira, o corpo de Itamar será cremado na cidade de Contagem (MG) numa cerimônia íntima para amigos e familiares. Até ontem, a família não havia decidido o que fazer com as cinzas do político mineiro. Itamar havia confidenciado que gostaria de ser depositado ao lado do túmulo da mãe, Itália Franco, que morreu em dezembro de 1992 pouco antes de ele ser empossado oficialmente como presidente da República.

As duas filhas de Itamar estavam bastante abaladas, ontem, no hospital. Georgina é casada com um americano e mora nos Estados Unidos. Fabiana, a mais nova, mora com a mãe em Juiz de Fora. Itamar não tinha boa relação com a sua ex-mulher, Anna Elisa Surerus, mãe das suas duas únicas filhas. Ela não compareceu ao hospital nem confirmou presença nas duas cerimônias fúnebres marcada para o início da semana.

Sem visitas A família pediu durante o dia para que os políticos não fossem visitá-lo no hospital. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi ao local mesmo assim para prestar a sua homenagem ao colega. "Como senador, era respeitado por todos. Ele vinha se destacando como uma pessoa que, a cada momento, alertava sobre a necessidade de se cumprir bem a Constituição e o regimento interno do Senado. Alertou mais de uma vez o governo da necessidade de se apresentarem projetos de lei. Ele era contra as medidas provisórias", disse.

No lugar de Itamar, assume o primeiro suplente José Perrella de Oliveira Costa (PDT-MG), conhecido por sua atuação como presidente do Cruzeiro Esporte Clube. Ex-deputado federal pelo PFL entre 1999 e 2003 e deputado estadual de 2006 a 2011, Zezé Perrella tem atuação identificada com os interesses corporativistas do futebol, é integrante da bancada da bola. Em 2002, tentou uma vaga ao Senado, mas não teve sucesso.