Título: Uma vida dedicada ao país
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 03/07/2011, Política, p. 2

Itamar Franco passou com sucesso por dois importantes momentos da política nacional: a renúncia de um presidente da República e a formulação de um plano para domar a inflação, que dizimava a economia

O senador e ex-presidente da República Itamar Franco (PPS-MG) vai ficar na história como o homem que teve o Brasil nas mãos em dois dos momentos mais agudos da nação. Na renúncia, em 1992, do presidente Fernando Collor de Mello, de quem era vice, e na formulação, dois anos mais tarde, do que veio a se chamar Plano Real, um conjunto de medidas que tinha por objetivo extinguir a hiperinflação que assolava a economia brasileira. Em ambos, teve sucesso. Dissipou a frustração com a queda do primeiro presidente eleito democraticamente no país depois da ditadura militar e deixou como herança uma economia estabilizada.

Itamar Augusto Cautiero Franco, conforme certidão de batismo, nasceu em Juiz de Fora, na Zona da Mata, em 28 de junho de 1931, filho de Augusto César Stiebler Franco ¿ morto dias antes ¿ e de Itália Cautiero Franco. No título de eleitor do parlamentar, no entanto, consta 1930 como o ano de nascimento, registrado em Salvador, o que ajudou a propalar suposições de que a mãe de Itamar teria dado à luz a bordo do navio que a trouxe naquele período de Salvador para o Sudeste com a família. O registro teria sido feito na capital baiana. O ex-presidente, se tinha condições de acabar com a dúvida, nunca se importou em esclarecer a diferença de datas.

O parlamentar teria chegado a Juiz de Fora aos quatro meses. Fez os cursos primário e secundário entre 1935 e 1948 no Instituto Granbery. Em 1954, formou-se em engenharia civil e eletrotécnica pela Faculdade de Engenharia. Trabalhou como auxiliar no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como topógrafo no Departamento Nacional de Obras e Saneamento (Dnos) e como auxiliar-técnico no Serviço Social da Indústria (Sesi).

Entrou para a política aos 23 anos, ao se candidatar, em 1954, a uma cadeira na Câmara de Vereadores, pelo PTB. Foi derrotado. Com o fim dos partidos políticos, determinado pelo Ato Institucional n° 2, em 27 de outubro de 1965, e a implantação do sistema de bipartidarismo, filiou-se ao MDB, que fazia oposição ao regime militar. Em 1966, elegeu-se prefeito de Juiz de Fora. Depois, conseguiu outro mandato, mas deixou o cargo para concorrer ao Senado pela primeira vez. Venceu e se tornou vice-líder do MDB na Casa em 1976. Foi reeleito em 1982.

Quatro anos mais tarde, quando o MDB, transformado em PMDB, decidiu apoiar o ex-prefeito de Contagem (MG) Newton Cardoso para o governo de Minas, Itamar se transferiu para o PL. Lançou-se na disputa ao governo e perdeu. Seguiu o mandato no Senado e participou da formulação da Constituição de 1988 como líder do PL.

Presidente No início de 1989, foi convidado pelo ex-governador de Alagoas Fernando Collor de Mello, candidato à Presidência da República, para ser vice na disputa pelo Palácio do Planalto pelo PRN. Com a vitória da chapa, logo depois de assumir o cargo, Itamar iniciou uma série de críticas ao presidente, sobretudo em relação ao programa de privatizações. As denúncias de irregularidades contra o governo fizeram com que o ex-senador se afastasse em definitivo do então presidente da República.

Com a renúncia de Collor, em 2 de outubro de 1992, Itamar assumiu o comando do país e, para garantir apoio, aceitou os principais partidos do país à época em ministérios como Transportes, Previdência Social e Meio Ambiente, que foram entregues ao PMDB; e Relações Exteriores, Minas e Energia e Bem-Estar Social, assumidos pelo PSDB. Outras pastas, no entanto, foram ocupadas por aliados próximos: Murílio Hingel na Educação e Henrique Hargreaves na Casa Civil.

O estilo de governo de Itamar provocava polêmica. Por ter amigos em postos-chave, setores da imprensa cunharam a expressão "República do pão de queijo" para designar o grupo político que comandava o país. O presidente foi alvo de críticas também ao incentivar o retorno da produção e da comercialização do automóvel Fusca. Em outro episódio, um dos que gerou grande repercussão, Itamar foi flagrado por fotógrafos em um carnaval, no Sambódromo do Rio de Janeiro, ao lado de uma modelo que usava minissaia e estava sem a roupa de baixo.

Em seu último ano de governo, ele anunciou o Plano Real ao lado do então ministro Fernando Henrique Cardoso, que havia sido transferido das Relações Exteriores para o Ministério da Fazenda. Depois, lançou o tucano como candidato ao Palácio do Planalto e conseguiu eleger o sucessor. No entanto, a relação entre os dois esfriou exatamente por divergências em relação à paternidade do Plano Real, reivindicada por ambos.

Candidatura Itamar pretendia se candidatar à Presidência em 1998, mas o PMDB, partido ao qual se filiou novamente, não o apoiou na decisão. O ex-presidente disputou, então, o governo de Minas Gerais, vencendo a briga pelo Palácio da Liberdade e tendo Newton Cardoso como vice. Ao assumir, decretou a moratória do pagamento da dívida com a União, que tinha, pela segunda vez, o desafeto Fernando Henrique como presidente da República. Itamar chegou a colocar veículos blindados no Palácio da Liberdade e a deslocar um comando da Polícia Militar para o sul de Minas, como resposta às privatizações de FHC, que, na avaliação do governador, poderiam envolver Furnas, que mantém hidrelétricas na região.

O ex-presidente decidiu não se recandidatar ao governo federal e, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na corrida pelo Palácio do Planalto em 2002, foi indicado embaixador do Brasil na Itália. Deixou o cargo em 2005. Tentou negociar com o PMDB nova candidatura ao Senado em 2006, mas o partido optou por lançar Newton Cardoso, que perdeu a disputa. Itamar foi indicado conselheiro do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e, em maio de 2009, anunciou a filiação ao PPS. Disputou e venceu vaga para o Senado no ano passado, com 5,1 milhões de votos.

A trajetória

28 de junho de 1930 Itamar Augusto Cautiero Franco é registrado em Salvador, capital da Bahia, como nascido a bordo de um navio que fazia a rota Salvador-Rio de Janeiro.

1931 No registro de batismo, esse é o ano de seu nascimento, em Juiz de Fora.

1954 Forma-se em engenharia civil e eletrotécnica na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora.

1967 Filia-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e é eleito prefeito de Juiz de Fora.

1973 Eleito novamente prefeito de Juiz de Fora.

1974 Eleito senador pelo MDB.

1982 Reeleito senador, agora pelo PMDB.

1986 Depois de divergências com o PMDB mineiro, que apoiara a candidatura de Newton Cardoso ao governo de Minas, transferiu-se para o Partido Liberal (PL). Concorreu ao governo de Minas Gerais pela Coligação Movimento Democrático Progressista, mas foi derrotado pelo candidato do PMDB e continuou no Senado.

1989 Eleito vice-presidente da República na chapa de Fernando Collor de Melo, ambos pelo PRN.

2/10/1992 Com o afastamento de Collor em virtude de processo de impeachment, assumiu o cargo de presidente da República, provisoriamente.

29/12/1992 Toma posse como presidente efetivo com o impeachment de Collor.

1995 Torna-se embaixador do Brasil em Portugal.

1996 É nomeado embaixador na Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington.

1998 Eleito governador de Minas Gerais pelo PMDB.

2003 Indicado para a embaixada do Brasil na Itália.

2006 Tenta candidatar-se presidente da República pelo PMDB, competindo pela indicação do partido com Anthony Garotinho, ex-governador do Rio de Janeiro, mas desiste da disputa.

2010 Eleito senador por Minas pelo PPS, na dobradinha com Aécio Neves (PSDB), também eleito. Durante seu mandato como senador, foi vice-líder da oposição.

25 de maio de 2011 Diagnosticado com leucemia, é internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo