A Vale vai enfrentar o cenário adverso no mercado de minério de ferro, cujos preços à vista no mercado da China estão abaixo de US$ 70 por tonelada, com uma estratégia que combina redução de custos na produção e aumento de margem nas vendas. "Estamos com foco na otimização de margens [de vendas]

e melhoria da produtividade", disse o novo diretor-executivo de ferrosos e estratégia da Vale, Peter Poppinga. A busca por medidas para capturar ganhos adicionais será relevante em 2015 e 2016, quando a mineradora deverá enfrentar anos difíceis.

Apesar dos desafios, a Vale se preparou para esse momento menos "exuberante" da mineração, afirmou o presidente da companhia, Murilo Ferreira. "Temos de continuar focados em disciplina, alocação de capital e austeridade para obter resultados em qualquer situação", disse Ferreira. O objetivo da Vale é estar posicionada entre os 25% mais eficientes da indústria no minério de ferro, níquel, cobre, carvão e fertilizantes. Ferreira afirmou que a Vale se beneficiou por ter enxergado antes, entre 2011 e 2012, o fim do "superciclo" das commodities, o que levou a uma política de austeridade. Como resultado, as despesas com vendas, gerais e administrativas, que estavam chegando a US$ 2 bilhões em 2011, ficaram em 2014 em patamar de US$ 800 milhões.

Ferreira negou ontem, em encontro com jornalistas, que tenha sido sondado, indicado ou convidado para substituir Graça Foster como presidente da Petrobras. Ele disse que está "completamente" dedicado a implantar os grandes projetos em curso na companhia, como o de minério de ferro, conhecido pela sigla S11D, em Carajás, no Pará, e o de carvão, em Moçambique, em que a Vale anunciou, semana passada, parceria com a Mitsui. O negócio com os japoneses deve permitir à Vale economia de caixa de US$ 3,7 bilhões.

Ferreira também reforçou o argumento que sustenta a posição da Vale de fazer uma possível oferta inicial de ações em bolsa (IPO, na sigla em inglês) com os ativos de metais básicos (níquel e cobre). A Vale não está satisfeita com o valor percebido pelos investidores em relação a esses ativos. "Só vamos fazer uma transação de metais básicos se for para destravar valor, ou seja, se o mercado não estiver reconhecendo, via precificação das ações, o valor que esse negócio tem." Ele disse que estimativas de mercado indicam que o negócio de metais básicos da Vale pode valer entre US$ 28 bilhões e US$ 35 bilhões. Todo o trabalho para preparar o possível IPO, incluindo sinal verde do conselho de administração, pode levar de oito a nove meses, previu Ferreira.

Poppinga, de sua parte, detalhou como a Vale poderá reduzir mais custos de produção e aumentar margem de vendas. Disse que há novos projetos de minério de ferro entrando em atividade, como o de Conceição Itabiritos, em Minas Gerais, e o N4WS, em Carajás, que terão margem alta em termos de receita. Ao mesmo tempo, a Vale conta na sua estratégia com o papel a ser desempenhado pelo centro de distribuição da Malásia, inaugurado este ano, que permite misturar minérios mais pobres com o de Carajás enriquecendo o produto final e aumentando o preço de venda. Pelo produto de Carajás com 65% de teor de ferro, a Vale está conseguindo um prêmio de US$ 10 por tonelada, disse o presidente.

Ferreira afirmou que esta semana a Vale obteve autorização para supressão vegetal das expansões em Carajás, projetos que vão permitir à Vale ter produção acessível com menor custo. Ao mesmo tempo, Poppinga fará um trabalho de se aproximar de todos os clientes na China, país com o qual a Vale tem acelerado acordos envolvendo os seus supermineraleiros, os Valemax. A empresa tem 15 desses navios que poderá vender para armadores por valores de até US$ 2 bilhões em troca de acordos de aluguel de longo prazo.