Com a perda de 43,7 mil vagas formais em novembro, a indústria brasileira deve assistir em 2014 ao fechamento líquido de postos de trabalho com carteira assinada pela primeira vez desde 2002, quando começa a série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) disponibilizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. No mês passado, de acordo com o registro, a construção fechou 48,9 mil empregos e também pode encerrar o ano no vermelho, avaliam economistas.

O comércio abriu 105 mil vagas no período e contribuiu para o saldo positivo de 8,4 mil postos registrado pelo Caged - que surpreendeu a média de estimativas colhida pelo Valor Data, que previa fechamento de 18 mil postos. Junto com os serviços, o setor responde por 85,9% do total de postos de trabalho gerados no país entre janeiro e novembro.

A LCA Consultores estima que a indústria perca 170 mil empregos formais em 2014, levando em conta a série sem ajuste, que contabiliza apenas as informações enviadas ao MTE dentro do prazo legal. Sob esse critério, o setor fechou 14,7 mil postos no acumulado até novembro - resultado puxado pelos segmentos de metalúrgica e material de transportes, que acumulam saldos negativos de 18,9 mil e de 33,4 mil vagas, respectivamente. Novembro marcou o sétimo resultado negativo do setor em 2014 - quadro que deve se repetir em dezembro, mês em que a indústria tradicionalmente demite temporários.

Também levando em conta os dados sem ajuste, Fabio Romão, economista da LCA, projeta que o mercado formal crie 250 mil vagas neste ano, o pior resultado desde 1999. Com ajuste, o dado deve encerrar em 400 mil. "É um resultado ruim, mas bastante condizente com o nível de atividade", pondera. Para 2015, com a expectativa de um cenário "menos pior" para a indústria, o saldo deve subir para 480 mil (730 mil com ajuste).

Mais pessimista, a estimativa de André Muller, da Quest Investimentos, prevê criação 100 mil novos empregos neste ano, também na série sem ajuste. A projeção é semelhante à feita para 2015, levando em conta que a perda de fôlego do mercado de trabalho deva tirar ainda mais dinamismo das contratações nos setores de comércio e serviços.

O resultado do mês passado surpreendeu positivamente o economista, que estimava fechamento de 30 mil postos. Dessazonalizado, o saldo positivo de novembro sobe para 15 mil, afirma Muller. Também na série da Quest com ajuste sazonal, o desempenho do comércio, grande responsável pelo saldo positivo, subiu da média de 3 mil dos meses anteriores para 10 mil.

Em relatório, o banco Fator chama atenção para o setor, que tem conseguido se beneficiar da sazonalidade das festas de fim de ano mesmo com a piora recente das condições do mercado de trabalho. Em novembro, o comércio contratou em todos os Estados. O Sudeste acumulou o maior saldo de vagas, 50,7 mil, com contribuição da abertura de 26,2 mil postos em São Paulo. O Nordeste adicionou 21 mil vagas ao estoque, resultado semelhante ao da região Sul, com 20,3 mil.

Muller, da Quest, alerta para a situação bastante desconfortável da indústria, que reduz de maneira sucessiva os quadros de funcionários diante da queda da produção neste ano, que acumula perda de 3% até outubro.

O setor apurou demissões líquidas em todos os 12 segmentos acompanhados pelo cadastro. O ramo metalúrgico, mais uma vez, foi um dos destaques negativos, com perda de 3,4 mil vagas. O segmento químico e de produtos farmacêuticos fechou 8,5 mil postos. As indústrias têxtil e de calçados tiveram saldos negativos de 7,2 mil e de 5,1 mil, respectivamente.

A construção civil, na avaliação de Romão, da LCA, também dá sinais preocupantes. O saldo negativo comum em meses de novembro decorre das demissões de temporários contratados entre agosto e outubro. Esse fator não parece explicar, entretanto, o resultado do mês passado, já que nos três meses anteriores o setor já acumula saldo negativo de 22,8 mil vagas.

 

Governo não terá meta de emprego em 2015

 

O ministro do Trabalho, Manoel Dias, disse ontem, em Florianópolis, que o governo federal não trabalha com metas para a criação de postos de trabalho em 2015. "Os últimos meses foram atípicos. Tivemos Copa do Mundo, campanha eleitoral. E agora estamos diante de um novo quadro, com novas dificuldades, então não temos condições de fazer meta", afirmou Dias, durante divulgação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de novembro.

O ministro atribuiu à crise internacional o cenário difícil na economia e exaltou a política de emprego do governo Dilma Rousseff. Segundo Dias, o Brasil vive a era do pleno emprego, o que dispensaria a necessidade de se trabalhar com metas para o próximo ano.

"Não adianta colocar uma meta de criar 1 milhão ou 2 milhões de empregos, porque não temos a necessidade de gerar mais 2 milhões de emprego. Temos a necessidade de qualificar o emprego", afirmou.

Sobre o resultado de novembro, que registrou a criação líquida de 8.381 vagas, Dias disse ser também um resultado atípico, já que outubro costuma ser melhor do que novembro, mas neste ano a lógica se inverteu (outubro teve redução de 30.283 vagas).

Apesar de não trabalhar com metas, o ministro afirmou que o próximo ano deve ser bom, particularmente na construção civil. "Teremos um ano bom na construção civil, tanto que o Ministério das Cidades já nos pediu R$ 10 bilhões", afirmou, referindo-se aos recursos do FGTS que ajudam a financiar obras.

Dias disse também que a política de emprego do governo federal não vai mudar, independentemente das decisões da nova equipe econômica. "Com os investimentos que o Brasil terá em 2015, teremos condições de manter o pleno emprego", afirmou.

O ministro também citou os escândalos da Petrobras, dizendo não acreditar na interrupção de obras em decorrência do envolvimento de grandes empreiteiras na Operação Lava-Jato. "É um fato inédito e importante que esteja se prendendo corruptor agora. E não se trata de um corruptorzinho, são líderes do PIB nacional", afirmou Dias.