Depois de um ano já fraco para o crédito, os bancos esperam que 2015 seja igual ou até pior para a expansão do estoque de empréstimos e financiamentos no país. A demanda mais fraca e uma seleção mais rigorosa do perfil dos tomadores por parte dos bancos devem determinar o ritmo mais moroso de desembolsos.

Entre economistas, a expectativa é de crescimento do crédito ligeiramente abaixo do visto em 2014. Executivos do alto escalão de três grandes bancos de varejo ouvidos pelo Valor esperam que o saldo de empréstimos das instituições no ano que vem, na melhor das hipóteses, repita o avanço deste ano, tendendo a ficar abaixo disso. Em 12 meses até outubro, o estoque de operações de crédito cresceu 12,2%, para R$ 2,93 trilhões, em termos nominais, segundo dados do Banco Central (BC).

A equipe de análise econômica do Santander Brasil estima avanço nominal de 8% para o mercado de crédito como um todo no ano que vem. "Os próximos dois anos serão difíceis. O crédito só deve começar a reagir à medida que a confiança reagir, no fim de 2016 e em 2017", avalia Cristiano Souza, economista do Santander.

Já a Tendências calcula um crescimento real de 4,3% no ano que vem, o mesmo percentual de 2014. A consultoria espera que, em 2015, o crédito livre recupere espaço, enquanto o direcionado tende a desacelerar. "Algumas incertezas de 2014 podem melhorar em 2015, trazendo de volta a demanda por bens duráveis", afirma Mariana Oliveira, economista da Tendências.

Para o Goldman Sachs, o sistema deve ter expansão de "um dígito elevado", mas com os bancos públicos ainda mais acelerados do que os privados.

A expectativa de analistas também é de maior desaceleração nos financiamentos com recursos direcionados - como crédito imobiliário, rural e desembolsos do BNDES. Será o resultado da menor disposição de empresas e famílias em tomar dívidas de longo prazo e da perspectiva de um ajuste fiscal diminuindo incentivos a linhas de crédito subsidiado.

Principal banco no crédito imobiliário, a Caixa Econômica Federal trabalha com um cenário de manutenção da liberação de empréstimos habitacionais para o ano que vem. "Os desembolsos devem ficar estáveis ou crescer, no máximo, 5% em 2015", afirma Teotônio Costa Rezende, diretor-executivo de habitação do banco. A Caixa deve encerrar 2014 com R$ 140 bilhões concedidos em crédito imobiliário, 10% a mais que em 2013.

Mesmo no crédito livre as perspectivas não são animadoras. O executivo de uma instituição financeira de varejo de grande porte relatou ao Valor que espera expansão do estoque de empréstimos com recursos livres para pessoas físicas dois pontos percentuais menor do que em 2014, sustentado basicamente pelo crédito consignado.

Nas linhas para pessoas físicas, os bancos vão concentrar suas ofertas em crédito consignado, financiamento imobiliário e cartões, numa repetição daquilo que já foi feito em 2014.

Em queda há mais de um ano, o estoque de veículos ainda pode continuar diminuindo em 2015. No máximo, encerrará o ano que vem estável. Pelo menos um grande banco privado trabalha com o cenário de retração. Segundo um executivo, isso deve ocorrer porque o percentual mínimo de entrada exigido para o financiamento de um carro cresceu. Portanto, por mais que o número de operações cresça, ainda será insuficiente para fazer o saldo se expandir.

Outra instituição de grande porte só arrisca prever que repetirá na primeira metade do ano que vem os volumes desembolsados no segundo semestre de 2014. A reprise é bem-vinda, uma vez que, quando o volume é comparado à produção feita de janeiro a junho, houve uma melhora.

O que pode mudar a equação para os bancos é a entrada em vigor, em novembro, das novas regras para a retomada de veículos em caso de inadimplência. Mais livres da burocracia, o processo de recuperação de um carro pelo banco deve acelerar, encurtando um prazo que hoje pode chegar a mais de seis meses. No fim, isso pode estimular novos empréstimos.

O crédito para empresas promete solavancos, principalmente em torno das companhias envolvidas na Operação Lava-Jato, para as quais a oferta de recursos se contraiu. Os bancos também estão mais restritivos nos desembolsos para pessoas jurídicas de ramos como o sucroalcooleiro e o de autopeças. Outra importante preocupação no radar é o risco de racionamento de energia elétrica em 2015, dado o baixo nível dos reservatórios de água.