Os efeitos de um possível racionamento de energia e de água na atividade econômica, os aumentos de preços administrados, além do descrédito gerado pela Operação Lava-Jato nos negócios da Petrobras levaram o mercado a reduzir fortemente as expectativas para o crescimento brasileiro em 2015. As medidas tomadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foram bem recebidas, mas os investidores veem a economia brasileira bastante frágil a curto prazo. Os analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) no boletim Focus, divulgado ontem, revisaram para baixo a estimativa de avanço do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e preveem que 2015 irá terminar com a inflação no patamar mais alto em 11 anos.

Conforme o Focus, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) esperado pelo mercado saltou de 6,67%, na semana passada, para 6,99%. A previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) recuou de 0,38% para 0,13%. Para 2016, as expectativas são um pouco melhores. Segundo os analistas, a inflação deve ficar em 5,7%, ainda assim distante da meta, de 4,5%. A previsão para o crescimento da economia é de 1,54% no ano que vem.

Entre os economistas de bancos e corretoras consultados regularmente pelo BC, muitos não descartam a possibilidade de que o nível de produção neste ano seja menor do que o de 2014. “O cenário para 2015 é difícil, e as revisões nas estimativas devem continuar a cada semana, principalmente para o PIB, que pode entrar num cenário negativo”, afirmou a sócia da consultoria Tendências, Adriana Ribeiro.

A consultoria está entre as mais pessimistas, e espera contração de até 0,5% do PIB em 2015. Ela explica que a piora nas expectativas observada nas últimas edições da pesquisa Focus decorrem de uma “confluência de fatores negativos”. Muitos dos analistas já trabalham com a certeza de racionamento de energia e água, o que impacta diretamente a produção industrial do país e, consequemente, o avanço do PIB para o ano. Além disso, os economistas preveem que vários preços administrados pelo governo, como gasolina e energia, que foram contidos durante muito tempo, vão aumentar fortemente em 2015.

A maior alta é esperada no valor cobrado pela energia elétrica, já que o ministro da Fazenda sinalizou o fim dos aportes de dinheiro público para as distribuidoras. Ou seja, o rombo provocado nas empresas pela política equivocada dos últimos anos vai ser recuperado por meio de tarifas mais elevadas. “Esperávamos, no início do ano, uma alta de 18% para energia, já revisamos para 24,5%, e vamos rever essa previsão, novamente, para algo em torno de 34%”, informou Adriana.

Alimentos
“Além de afetar os preços administrados, as questões climáticas podem ainda influenciar os valores de alimentos e ter forte impacto no PIB caso haja apagão”, emendou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Ele aponta que apenas depois do primeiro trimestre, quando as medidas de controle fiscal começarem a surtir efeito, é que as previsões devem melhorar. “De toda forma, a condição atual da economia indica que este será um ano fraco.”

 

 

Bovespa tem queda de 0,49%

 

ROSANA HESSEL

O pessimismo em relação à economia brasileira e a incerteza sobre o futuro da Grécia na União Europeia após a vitória do partido Syriza, da extrema-esquerda — que levaram o euro para o menor patamar em 11 anos — ajudaram a derrubar a Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa). O Ibovespa, principal indicador do pregão, abriu em forte baixa, chegou a escorregar 1,54%, mas diminuiu as perdas e fechou com recuo de 0,41%, em 48.576 pontos.

O mercado também foi afetado pela queda de mais de 4% das ações da Vale, cuja nota de crédito foi rebaixada pela Standard & Poor’s na sexta-feira. Os papéis preferenciais da Petrobras, que tinham chegado a cair 2% pela manhã, diante da expectativa de publicação do balanço sem auditoria nesta terça-feira, encerraram desvalorização de 0,90%, cotados a R$ 9,91.

“A Grécia jogou mais volatilidade no mercado, mas o principal foco de problemas está aqui dentro”, avaliou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, que prevê retração de 1% no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, devido, entre outros fatores, à crise de energia. O economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, tem avaliação semelhante. “O novo governo grego não sancionará loucuras nem sairá da Zona do Euro”, disse, apostando que o primeiro-ministro Alexis Tsipras tentará apenas renegociar a dívida de 240 bilhões de euros com credores oficiais.

Velho observou que as bolsas europeias refletiram essa expectativa, ao fechar no azul, depois de abrirem em queda. O índice FTSEurofirst 300, que reflete as principais ações do continente, teve alta de 0,58%. Já a bolsa de Atenas caiu 3,2% devido ao temor de fuga de investidores. Nos Estados Unidos, o Dow Jones, principal indicador da Bolsa de Nova York, terminou o dia perto da estabilidade, com alta de 0,03%.