O técnico em eletrônica Hugo da Silva já pensa em diminuir a frequência ao lava-jato para conseguir gastar menos com a limpeza do carro (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press )
O técnico em eletrônica Hugo da Silva já pensa em diminuir a frequência ao lava-jato para conseguir gastar menos com a limpeza do carro


Os brasilienses devem preparar o bolso para mais um aumento nas contas da casa. A tarifa de água e esgoto vai subir, a partir de 1º de março, pelo menos 13,83%. O cálculo, da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), levou em consideração a inflação do último ano, de 6,41%, o bônus-desconto para os que gastaram menos água, e os investimentos realizados entre 2008 e 2014 pela Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb). A conta, no entanto, pode ser maior. Segundo a assessoria da Adasa, a concessionária julga que, para “manter a garantia e qualidade dos serviços prestados, além de assegurar a manutenção de custos”, será necessária uma correção de 23,97%.

A proposta da Caesb foi apresentada ontem, em audiência pública no auditório da Adasa. Estiveram presentes representantes da empresa pública, incluindo o presidente, Maurício Ludovice. A regra, agora, é pressa. A intenção da diretoria e do presidente da Adasa, Vinícius Benevides é estudar as sugestões para que, até sexta-feira, o reajuste da tarifa seja publicado no Diário Oficial do Distrito Federal.

A Caesb não confirmou a proposta de 23,97% e, em nota, informou que não vai se pronunciar sobre o assunto. A agência, por sua vez, comunicou que os cálculos foram feitos levando em conta a garantia do consumidor de pagar uma tarifa justa e o direito ao equilíbrio econômico-financeiro do contrato da concessionária.

Arrocho
Independentemente do valor que vier a ser definido, o reajuste será o maior dos últimos quatro anos, podendo atingir mais que o dobro do aumento de 11,2% aplicado em 2012. A alta deve manter o DF como uma das unidades federativas com a água mais cara do país. Um estudo da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA), do Ministério das Cidades, apontou que, em 2013, o custo da tarifa média do insumo no DF era de R$ 3,73 por mil litros, atrás apenas do Rio Grande do Sul, onde a taxa era de R$ 4,18.

As posições, contudo, podem se inverter este ano. Em 2014, o reajuste da taxa de água e esgoto na capital federal foi de 7,4%, contra 6,04% da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), que atende 320 dos 497 municípios do estado. Agora, enquanto os consumidores do DF pagarão pelo menos 13% a mais pela taxa de água e esgoto, os moradores de Porto Alegre, a capital gaúcha, terão um aumento de 3,69% a partir de 1º de fevereiro, segundo informou o Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE).

Até o momento, o reajuste sinalizado em Brasília é o maior entre as principais cidades do país, ficando acima do aumento de 6,49% de São Paulo, e dos 11,98% que serão aplicados em Campinas (SP) a partir de fevereiro. No Rio de Janeiro ainda não há previsão de alta. As correções elevadas, na maioria acima da inflação, podem provocar um efeito negativo na economia ao longo do ano, avaliou Elson Teles, economista do Itaú-Unibanco.

“Os reajustes da água, ao lado do aumento de outras tarifas até agora represadas, vão gerar um impacto forte no custo de vida”, analisou. Teles acredita que, até o fim de 2015, a tarifa média de energia elétrica vá subir 30%, seguida dos 10% dos combustíveis, dos 11,5% do transporte urbano e dos 7,5% da água. “Esse agrupamento, que responde por cerca de 23% da inflação, vai contribuir para que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche o ano em 7,1%, acima do teto da meta”, avaliou.

Cautela
O presidente da Adasa, Vinícius Benevides, reconheceu que o reajuste pode pesar no bolso do consumidor, mas destacou que, apesar de a capital federal não correr risco de racionamento, a correção da tarifa pode trazer mais incentivos à economia de água. “O preço é sempre um inibidor do consumo. Contudo, é possível reduzir o gasto e eventuais desperdícios com medidas simples, como tomar banho em menos de 10 minutos, escovar os dentes com a torneia fechada, não usar mangueiras para molhar o jardim ou lavar o carro”, afirmou.

A alta da tarifa traz preocupações ao consumidor não apenas no uso de água em casa, mas também nos gastos com serviços. Quem opta por levar o carro em lava-jatos para uma limpeza geral já começa a fazer as contas diante de um provável repasse dos empresários. O técnico eletrônico Hugo da Silva, 28 anos, desembolsa R$ 15 a cada 10 dias para ter o automóvel limpo, e pensa em reduzir a frequência para economizar. “O jeito vai ser lavar o veículo de 15 em 15 dias, ou uma vez por mês”, disse.

Como ficarão as faturas

Preços válidos entre 1º de março deste ano e 31 de março de 2016

Para atividades residenciais
Faixa de consumo (em mil litros) Tarifa popular (em R$) Tarifa normal (em R$)
0 a 10 18,9 25,3
11 a 15 35,5 46,9
16 a 25 46,3 60
26 a 35 88,5 96,8
36 a 50 106,8 106,8
Acima de 50 117 117

Para atividades comerciais, públicas e industriais
Faixa de consumo (em mil litros) Tarifa comercial e pública (em R$) Tarifa industrial (em R$)
0 a 10 64,2 64,2
Acima de 10 106 96,7

Reajustes de água e esgoto no DF nos últimos cinco anos
Ano Aumento (em %)
2011 7,23
2012 11,2
2013 9,5
2014 7,4
2015 13,83

 

 

Nova ajuda da Argentina

Correio Braziliense - 27/01/2015

Para tentar minimizar o perigo de o país viver novos apagões, o governo federal recorreu novamente à Argentina. Só que desta vez não mais para comprar energia, mas para usar o gasoduto do país vizinho para abastecer a usina termelétrica Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. De acordo com uma fonte ouvida pela Reuters, o pedido foi feito à administração de Cristina Kirchner este mês.

Nos últimos anos, o governo brasileiro tem autorizado a geração de energia por períodos determinados na termelétrica no sul para ajudar no esforço de economia de água nos reservatórios das hidrelétricas. A exemplo do que ocorreu em 2014, o Brasil deve, após conseguir o aval para usar o duto, importar Gás Natural Liquefeito (GNL), que chegará de navio até a Argentina, de onde será “injetado” no duto até a termelétrica brasileira.

“A queda no preço do gás, acompanhando o preço do petróleo, favorece a operação”, disse a fonte, que estima que a usina deve gerar gás por cerca de US$ 9 o milhão de BTUs (unidade de medição do gás) este ano, ante US$ 18 em 2014. Uma outra fonte do governo federal afirmou que “a tendência é religar a usina”, mas não soube precisar quando.

A térmica tem potência instalada de 640 megawatts (MW), mas deve ser autorizada a gerar com menor capacidade, de até cerca de 240 MW, por conta da disponibilidade do gasoduto argentino. A usina foi paralisada em 2009 após suspensão do fornecimento de gás natural pela argentina YPF. Desde então, vem sendo religada em momentos de necessidade, usando gás liquefeito importado de outros lugares.

O combustível, porém, tem de usar o gasoduto argentino para chegar à usina. Por isso, quando a térmica precisa ser acionada, é necessário negociar acesso ao duto. No ano passado, o Brasil comprou GNL de Trinidad e Tobago. A contratação foi concluída em fevereiro. Em março, o primeiro navio iniciou os procedimentos de descarga na Argentina.