A ansiedade provocada pela demora da presidente Dilma Rousseff em anunciar os nomes que irão compor o novo governo provocou ontem uma saia-justa envolvendo o ministro da Secretaria- Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Durante a tradicional celebração de Natal promovida pelo Movimento Nacional dos Catadores, em São Paulo, Dilma foi “desafiada” pelo mestre de cerimônias do evento, Anderson Miranda, a manter Carvalho no cargo. Responsável pela relação direta com movimentos sociais desde o início do governo Dilma, Carvalho deve ser substituído pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, que ocupou papel central na campanha pela reeleição da presidente e tem uma relação antiga de amizade com ela. O constrangimento começou quando o mestre de cerimônias pediu que o ministro se levantasse durante uma encenação natalina preparada especialmente para a presidente. Visivelmente contrariado, Carvalho resistiu, mas acabou obedecendo. Em pé, ao lado de Dilma e outros quatro ministros sentados, o chefe da Secretaria-Geral ouviu uma série de elogios de Miranda, que então “desafiou” a presidente a mantê-lo no cargo. Dilma ficou emburrada. O mestre de cerimônias percebeu o mal-estar e tentou consertar a situação. “Se o Gilberto não puder continuar, que a senhora escolha um ministro que tenha o mesmo poder”, disse o mestre de cerimônias, ao que Carvalho assentiu com polegar esquerdo levantado em sinal de positivo. A saia-justa continuou durante o discurso do coordenador nacional do Movimento Nacional dos Catadores, Roberto Laureano, que também manifestou preocupação com a substituição de Carvalho, mas semostrando otimista. “Pedimos uma equipe (de governo) que possa acompanhar isso (o processo de inclusão iniciado no governo Lula). Mas a gente sabe que a escolha que a senhora fizer para o próximo governo não vai nos excluir, pode até ser uma escolha melhor.” Apesar do agrado à Dilma, Laureano criticou o programa Cataforte III. Articulado pela Secretaria-Geral em parceria com outros ministérios, o programa dispõe, desde agosto de 2013, de R$ 200 milhões para a estruturação de cooperativas de catadores e centrais de Reciclagem. Seria a cereja do bolo do discurso de Dilma mas, segundo Laureano, esbarra na burocracia. “Estamos falando isso há dois anos. Tem que desburocratizar o Cataforte III. São R$ 200 milhões à disposição, mas os catadores não conseguem ter acesso a isso de jeito nenhum”, reclamou o coordenador dos catadores.

‘Novo governo’. Em seu discurso, Dilma teve de se explicar dizendo que “todo programa pode ser aprimorado”,mas reforçando os aspectos positivos do Cataforte III. Numa tentativa de se aproximar dos movimentos sociais, a presidente usou as cooperativas de catadores e Reciclagem como metáfora para a política econômica que pretende adotar no segundo mandato. “É a proposta mãe,crescer gerando renda e riqueza,mas com sustentabilidade. Esta é a concepção mãe do novo governo.É para isso que fui eleita”, afirmou a petista. Ao participar da celebração de Natal dos catadores, Dilma deu sequência a uma tradição inaugurada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano inaugural do seu primeiro mandato, em 2003.