O Banco Central prometeu e cumpriu: acelerou o ritmo de alta de juros este mês para 0,5 ponto porcentual elevou a taxa básica Selic para 11,75% ao ano, mesmo em um cenário
de economia estagnada. A decisão foi tomada por unanimidade pelos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) e confirmou os sinais dados nos últimos dias.

O comunicado que se seguiu à decisão, porém, surpreendeu os analistas de mercado,ao adotar uma mudança de tom sobre os próximos passos. Segundo o comunicado, o esforço adicional de política monetária “tende a ser implementado com parcimônia”.Isso,segundo os integrantes do Copom ,considerando os“efeitos cumulativos e defasados” da política de juros. A próxima reunião do comitê está marcada para 21 de janeiro.

Com a alta de ontem, a Selic atingiu o nível mais alto em mais de três anos. Ela se seguiu a outros sinais de que o governo busca aumentar a credibilidade da política econômica no mercado, em especial no combate à inflação.Em outubro,logo após as eleições, o BC surpreendeu ao elevar a Selic em 0,25 ponto porcentual.A escolha do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com perfil ortodoxo, também contribuiu para sinalizar mudança na política econômica.

O comunicado do Copom,porém,dividiu os analistas sobre os sinais dados pelo BC . O BC pode ter dado uma “no cravo e outra na ferradura” para conter as expectativas de mercado de um ciclo de alta de juros mais forte e deixar aberta a possibilidade de reduzir o ritmo das elevações nas próximas reuniões,à espera do efeito da alta na Selic.

O superintendente do Departamento Econômico do Citibank Brasil, Marcelo Kfoury, afirma que o objetivo do comunicado é impedir que o mercado espere uma elevação de 0,75
ponto porcentual da Selic na reunião do colegiado em janeiro.

Já o consultor e ex-diretor da Área Internacional do Banco Central Alexandre Schwartsman destacou, em relatório a clientes, que o Copom deixou claro que já fez a maior parte do
trabalho de combate à inflação. Para ele,o uso da palavra“parcimônia”indica que os próximos passos serão altas menores, de 0,25 ponto porcentual.

Para Zeina Latif,economista chefe da XP Investimentos, a ação do BC não foi clara. Para ela, a alta de 0,50 ponto porcentual sinalizou que o BC está preocupado com a  credibilidade do governo. Mas o comunicado indica que não dará mais um aumento do mesmo tamanho nas próximas reuniões.

“Por mais que eles (Copom) falem que não,a altade 0,25 ponto na reunião de outubro surpreendeu e a justificativa foi o câmbio e o alinhamento dos preços relativos. Agora esse comunicado torn a muito difícil entender com clareza o  diagnóstico do BC, e isso é muito ruim.” O  aumento de 0,5 ponto porcentual estava na conta de dois terços dos analistas consultados pelo serviço AE Projeções, da Agência Estado, já ressabiados pela alta da Selic em outubro.

Vigilante. Na semana passada, quando confirmado à frente do BC, o presidente Alexandre Tombini foi claro. Ele admitiu que a inflação acumulada em 12 meses continuava alta e, nessas circunstâncias,apolítica monetária deve se manter “especialmente vigilante” para evitar que ajustes de preço se espalhem para o resto da economia.

A expectativa em relação à atuação da equipe econômica é um ingrediente a mais nas formações das apostas dos analistas sobre a condução da política monetária. Acredita-se que haverá mais austeridade fiscal, o que pode contribuir para o trabalho do BC nos juros em 2015,quando a alta começará a provocar impacto na economia.

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