Artilharia contra deflação

O Globo - 23/01/2015

BC europeu injetará € 60 bi por mês no mercado, acima do previsto . Fórum Econômico elogia

MARTHA BECK

DAVOS (SUÍÇA) E RIO- A estratégia do Banco Central Europeu (BCE) para tentar reanimar a economia da região foi o assunto do dia ontem no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. O BCE anunciou que vai adotar um programa de estímulos semelhante ao do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que consiste na compra de ativos financeiros para injetar dinheiro na economia — o chamado quantitative easing. Serão comprados € 60 bilhões em ativos por mês, até meados de setembro de 2016, em um total de pelo menos € 1,1 trilhão, segundo cálculos da Bloomberg.

O objetivo , conforme o BCE, é levar a inflação para perto de 2% ao mês. Em dezembro, a taxa da zona do euro ficou negativa em 0,2%, o que representa deflação. Um dos primeiros debates do Fórum ontem, realizado antes mesmo do anúncio do BCE, foi justamente sobre como os mercados estão respondendo às mudanças nas políticas monetárias de Estados Unidos e Europa. Participaram dele a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, o ex-secretário do Tesouro americano Lawrence Summers e o presidente do Goldman Sachs, Gary Cohn.

RISCO DE LONGA ESTAGNAÇÃO

Christine Lagarde afirmou que só a expectativa dos mercados acerca do estímulo do BCE, com a desvalorização da moeda única europeia, já mostrava sua eficácia. Ontem, após o anúncio do programa, o euro caiu 2,1% frente ao dólar , a US$1,1366, a menor cotação em 11 anos. Sobre os benefícios para a Europa como um todo, ela disse:— Se houver uma estabilização da inflação na zona do euro, os mercados emergentes europeus, cujas moedas são ancoradas no euro, serão beneficiados.Para Summers, devido ao quadro de deflação,a União Europeia precisa recorrer também a medidas fiscais para estimular a economia.—Todos nós somos a favor do quantitative easing na Europa, mas ele não é suficiente . Deflação e longa estagnação são os riscos do nosso tempo—disse o ex-secretário do Tesouro, ressaltando, porém, que o BCE tem menos chances de estimular a economia que o Fed, devido ao fato de a taxa básica de juros na zona do euro já estar negativa, enquanto a dos EUA está entre zero e 0,25%.

O estímulo europeu está abaixo do total gasto pelo Fed, que promoveu três programas. Como resultado de suas compras de ativos, o balanço do BC americano passou de US$ 700 bilhões, em 2008, para US$ 4,5 trilhões em outubro de 2014, quando terminou o terceiro programa.Especialistas ouvidos pelo GLOBO consideraram positivo o pacote anunciado pelo BCE, cujo volume superou as expectativas. Carlos Langoni, professor da Fundação Getulio Vargas e ex-presidente do Banco Central brasileiro, ressaltou, no entanto , que as medidas não alteram o panorama internacional, "ainda tenso e incerto ".— O crescimento econômico na Europa faz bem para o mundo. Aumenta o consumo e as possibilidades de exportação — disse Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior e sócio da consultoria Barral M Jorge.

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Levy, um ‘Davos Man’ brasileiro

O Globo - 23/01/2015

Ministro da Fazenda tem bom trânsito no Fórum. Lagarde se diz "encantada "

Martha Beck

Ele é um "Davos Man" . O termo, usado para definir a elite econômica global, cai como uma luva em Joaquim Levy, ao menos no que diz respeito ao seu bom trânsito no Fórum Econômico Mundial. PhD em Economia pela Universidade de Chicago, ex-funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex vice-presidente do Banco Internamericano de Desenvolvimento (B ID), Levy tem andado pelos corredores do fórum com desenvoltura, parando sempre para um aperto de mãos ou um tapinha nas costas. Entre palestras e re uniões, ele tem encaixado em sua agenda conversas com ex-colegas . Ontem , saiu de um encontro reservado com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, para emendar uma conversa com um amigo dos tempos de FMI. Após a reunião, Lagarde não quis dar entrevistas. Mas, ao ser perguntada sobre o encontro com Levy, fez questão de falar rapidamente: —Eu estou encantada de ver o novo ministro da Fazenda e estou encantada com o fato de ele ser um ex -funcionário do FMI. Ele é muito competente.