A presidente Dilma Rousseff foi aconselhada a aproveitar a reforma ministerial e o início do novo governo para afastar a atual diretoria da Petrobras, em meio ao agravamento das denúncias de corrupção que levaram ao desgaste internacional da empresa e ao derretimento das ações. Mas Dilma ainda resiste às pressões e prioriza a definição da nova equipe de ministros. A expectativa é de que o novo ministério seja anunciado na próxima quinta-feira (18), quando Dilma será diplomada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Fontes do governo e lideranças petistas relataram ao Valor PRO que na rodada de conversas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros e dirigentes petistas, Dilma ouviu conselhos para aproveitar o início do segundo mandato e trocar o comando da Petrobras, inclusive afastando a presidente Graça Foster.

A temperatura subiu na última sexta-feira, depois que o Valor mostrou que a atual diretoria da Petrobras recebeu diversos alertas de irregularidades em contratos da estatal muito antes do início da Operação Lava-Jato, em março deste ano, e deixou de agir para conter desvios que ultrapassaram bilhões de reais. As advertências partiram da geóloga Venina Velosa da Fonseca, ex-gerente na Diretoria de Abastecimento, então ocupada pelo delator Paulo Roberto Costa, e foram destinadas a Graça Foster e para o diretor José Carlos Cosenza.

Na verdade, o que houve nos últimos dias é que os conselhos à presidente foram redobrados. As recomendações começaram quando a Polícia Federal deflagrou a sétima fase da Operação Lava-Jato, com a prisão dos executivos das empreiteiras. Na ocasião, auxiliares e dirigentes petistas sugeriram à presidente que renovasse a diretoria da estatal.

Já naquela época, Dilma ouviu de um graduado dirigente petista que substituir Graça Foster "era tão urgente quanto definir o novo ministro da Fazenda". A presidente foi aconselhada por petistas a procurar um nome do mercado, um gestor como Jorge Gerdau ou Murilo Ferreira, presidente da Vale.

Dilma ouviu dos petistas, e de auxiliares mais próximos, que o afastamento de Graça não significa associá-la ao esquema de corrupção. Ao contrário, Dilma está convicta de que não existe nenhum indício que vincule Graça aos desvios, e de que a presidente da companhia é responsável, na verdade, pela "faxina" na empresa. Os defensores do afastamento de Graça sustentam, contudo, que o problema não é a eventual ligação da presidente da Petrobras com desvios, mas o desgaste generalizado da imagem da empresa, que contaminou a atual diretoria.

Mas Dilma tem resistido e, quem a conhece de perto, sabe que ela não age sob pressão. A prioridade, agora, é concluir a reforma ministerial. Até quinta-feira, devem ser confirmados os nomes que serão mantidos, bem como os novos nomes do PT e PMDB.

Da cota petista, será formalizada a indicação do atual ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, que assumirá a Secretaria Geral da Presidência. Também do PT, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, e a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, seguem nos cargos. O partido ainda tem três indicações para o Ministério do Desenvolvimento Agrário: o presidente do Incra, Carlos Guedes, e os deputados federais Pedro Uczai (SC) e Pedro Eugênio (PE). Do PCdoB, o ministro Aldo Rebello deve continuar à frente dos Esportes.

Do PMDB, a sinalização é de que serão confirmados: a senadora Kátia Abreu (TO) na Agricultura, o presidente da Câmara, Henrique Alves (RN), no Ministério da Previdência Social, e o líder do governo, senador Eduardo Braga (AM), no Ministério de Minas e Energia.

Ainda da cota do PMDB, o suplente de deputado federal Eliseu Padilha (RS), que representou a sigla na coordenação da campanha de Dilma, ganhará um ministério - tudo indica que a Secretaria dos Portos. O ministro Moreira Franco segue na Aviação Civil, e Vinícius Lages no Ministério do Turismo. Lages é da cota pessoal do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), fiel aliado do Planalto.