A Conferência do Clima de Lima por pouco não elimina as esperanças trazidas pela parceria de China e EUA de um acordo para conter o aquecimento global. Está cada vez mais claro que reunir 195 países para determinar diretrizes de como, quanto e em que prazo reduzir as emissões de carbono é uma missão quase impossível, que desemboca em um mínimo denominador comum das ambições nacionais. No caso das mudanças climáticas isso significa fazer muito pouco, muito tarde. Em 11 dias de reuniões, os participantes haviam chegado a um acordo sobre apenas um mísero parágrafo do comunicado final. Houve, entretanto, progresso: pela primeira vez todos os países concordaram em reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa. O princípio é necessário, promissor, mas tudo o mais no documento em torno dele é diluído e genérico.

Em Lima, a questão paralisante foi a mesma das mais recentes conferências da ONU: a quem cabe a maior responsabilidade de impedir que os fenômenos climáticos se tornem extremos e ameacem a vida no planeta. Os países em desenvolvimento vieram com os velhos argumentos de que os desenvolvidos jogaram no ar a maior parte dos gases de efeito estufa, e a eles cabe agora contribuir com a parte do leão para resolver o problema, com a ajuda voluntária dos países em desenvolvimento.

Essa rota certa para o impasse foi contornada pela manutenção da exigência dos países emergentes e pobres, de que as responsabilidades são "comuns, mas diferenciadas". Dessa vez, porém, os países ricos conseguiram romper o padrão. Ao concordar que todos terão de reduzir as emissões, a conferência jogou de lado a "culpa" dos países ricos, argumento que não levou a lugar nenhum e tornou-se obsoleto, pois desde 2005 a China assumiu o posto de segundo maior poluidor mundial. A própria China se convenceu de que precisa agir rápido para resolver seus desastres ambientais e isso mudou positivamente as chances de um acordo global.

Quase todas as questões relevantes foram empurradas para a Conferência de Paris, em dezembro de 2015, onde se espera que um acordo robusto e eficaz seja aprovado. Até lá, a reunião de Lima sugeriu que os países apresentem suas intenções de redução das emissões até fim de março de 2015. O texto aprovado menciona que itens importantes para a mensuração das intenções, como o ano-base a partir do qual será feita a redução, a obrigatoriedade de divulgação dos números e sua verificação, são facultativos, por exigência de países capitaneados pela China, que alegou motivos de soberania para assim agir. A proposta original tornava obrigatória a apresentação com metodologia e outros itens que permitissem e facilitassem a comparação do esforço dos países.

Até maio, será apresentado um esboço de acordo para a Conferência e, em 1º de novembro de 2015, a Organização das Nações Unidas apresentará documento avaliando se, conjugadas, as intenções de todos os países são ou não suficientes, tempestivamente, para que o aquecimento global não ultrapasse 2 graus centígrados, limiar em que seus efeitos no clima são manejáveis. Em Paris terá de ser colocado de pé um fundo de US$ 100 bilhões anuais para a adaptação climática dos países em desenvolvimento e para custear as ações de mitigação das mudanças do clima.

Pelo que se viu nas últimas conferências, antes e depois do fracasso em Copenhague, em 2009, só um milagre será capaz de produzir um acordo global ousado e urgente. Não apenas porque os países emergentes se opõem a isso, mas porque os EUA são tradicionalmente refratários a amarrar suas mãos em tratados internacionais. Agora ainda mais, pois os republicanos conquistaram maioria na Câmara e Senado e, para muitos deles, aquecimento global provocado por ações humanas não passa de pura empulhação.

As chances de conter o aquecimento em dos 2 graus diminuem bastante com o tempo. A possibilidade de avançar na direção certa surgiu fora das CoPs, na ação de China e EUA. Ambos, mais a União Europeia, que anunciou metas, são responsáveis por 55% das emissões. Um compromisso firme que os unisse a Japão, Rússia, Índia e Brasil englobaria 70% delas. Negociações entre eles não seriam incompatíveis com a Conferência do Clima e trariam real progresso em uma batalha que até agora vem sendo tragicamente perdida.