Tombini, presidente do BC: sem deixar pistas sobre continuidade do programa de swap cambial a partir de janeiro O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, mudou ontem a sua mensagem central de política monetária: ela deve se manter "ativa" para conter a inflação, e não mais "especialmente vigilante", como vinha sendo repetido. É provável que a nova linguagem seja uma indicação de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC não está tão próximo do fim do atual ciclo de aperto monetário como acreditava um número crescente de analistas econômicos.

Ontem, em depoimento na Comissão Mista de Orçamento da Câmara dos Deputados, Tombini previu uma aceleração da inflação nos próximos meses, a qual seria seguida por "um longo período de declínio, que vai culminar com o atingimento da meta de 4,5% ao ano".

Para ele, a meta de superávit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2015, anunciada pelo futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, traz a política monetária para o campo neutro, "talvez ligeiramente contracionista no período à frente". "É um número duro, difícil, mas creio, sim, factível. O governo terá condições de atingir", disse.

O presidente do BC repetiu pelo menos três vezes no seu depoimento que, embora a política fiscal possa contribuir para um melhor cenário inflacionário, esses dois instrumentos devem se manejados de forma independente.

Contrariando a expectativa do mercado financeiro, ele não deu indicações se pretende oferecer novos "swaps" cambiais a partir de janeiro. Ele apenas voltou a dizer que o estoque atual de "swaps" já atende de forma significativa à demanda por proteção cambial da economia e reafirmou o compromisso de rolar esses instrumentos. "Temos duas semanas para acompanhar o mercado e tomar uma decisão", disse, quando questionado se o programa seria estendido.

Tombini, que ontem fez a sua prestação de contas semestral à Comissão Mista de Orçamento, foi cobrado pela oposição por ter retomado o atual ciclo de aperto monetário apenas três dias depois do segundo turno das eleições, quando a presidente Dilma Rousseff foi avalizada para um segundo mandato. "A presidente disse na campanha que os juros iriam cair", disse o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE). "Três dias depois das eleições, os juros subiram."

Tombini respondeu que as reuniões do Copom são agendadas com muita antecedência e que, entre os seus encontros de setembro de outubro, a desvalorização do dólar ampliou o risco inflacionário, levando a autoridade monetária a rever a sua estratégia, que até então era de manter os juros em 11% ao ano.

Mendonça Filho tentou obter um aparte de Tombini para contestá-lo durante a sua exposição, que foi inicialmente negado pelo presidente da Comissão, Devanir Ribeiro (PT-SP), e concedido apenas depois do término da fala do chefe do BC. "A política monetária comandada pelo BC tinha como contrapeso a política fiscal comandada pelo [ministro da Fazenda, Guido] Mantega", disse Mendonça Filho. "Um desastre fiscal. Tiveram que recorrer a um ortodoxo [Levy] para consertar as bobagens praticadas."

Na sua apresentação inicial, Tombini voltou a repetir que "não haverá complacência por parte do Banco Central" com a inflação, repetindo a expressão que foi usada para sinalizar a retomada do ciclo de aperto monetário em fins de outubro, com uma alta de 0,25 ponto percentual no juro básico, e sua intensificação na semana passada, com 0,5 ponto.

"Nas atuais circunstâncias, a política monetária deve se manter ativa para conter os efeitos de segunda ordem dos ajustes de preços relativos." Até então, o Copom vinha dando ênfase, em seus documentos oficiais, que "cabe especificamente à política monetária manter-se especialmente vigilante para garantir que pressões detectadas em horizontes mais curtos não se propaguem para horizontes mais longos".

Na linguagem cifrada do BC, "especialmente vigilante" sinalizou a intensificação no ritmo de alta no juro básico da economia, que de fato ocorreu na semana passada. Já a expressão "política monetária ativa" parece ser uma indicação do Banco Central de continuidade do atual ciclo de aperto monetário.

O mercado tem tentado antecipar quais serão os próximos passos da estratégia do BC, que já subiu a taxa básica em 4,5 ponto desde abril de 2013 para trazer a inflação à meta de 4,5% até fins de 2016. Na semana passada, o comunicado da reunião do Copom, que subiu a Selic de 11,25% ao ano para 11,75% ao ano, informou que "o esforço adicional de política monetária tende a ser implementado com parcimônia". Essa teria sido uma indicação de que a alta dos juros que deve ocorrer na reunião do Copom de janeiro será de 0,25 ponto percentual, mas muitos analistas entenderam como uma indicação de que o ciclo de alta poderia parar por aí.