­BRASÍLIA­ Após 26 dias sem dar declarações públicas, a presidente Dilma Rousseff defendeu ontem em seu pronunciamento medidas impopulares no início do seu segundo mandato, que lhe custaram críticas até de aliados, como restrições na concessão de benefícios com seguro­desemprego, abono salarial, pensão por morte e auxílio­doença. Ela classificou essas iniciativas como “mudança de caráter corretivo” e negou que signifiquem perda de direitos trabalhistas.

A presidente pediu aos seus ministros que “travem a batalha da comunicação” para defender o governo, não deixando críticas sem respostas e combatendo “a falsa versão de boatos”. Desde a divulgação dessas medidas, porém, Dilma estava em silêncio: seu último pronunciamento ocorrera na sua posse, em 1º de janeiro, e a última entrevista, em 22 de dezembro, durante café da manhã com jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto.

Ontem, ela afirmou que o ajuste que está começando a executar se deve à necessidade de reequilíbrio fiscal. Dilma evitou qualquer interpretação de que estaria assumindo erros de seu primeiro mandato. E frisou que essa é continuidade do projeto do PT, iniciado em 2003 e que surpreenderá o país com uma gestão exemplar.

— Devemos enfrentar o desconhecimento e a desinformação, sempre e permanentemente. Vou repetir: sempre e permanentemente! Não podemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre. Reajam aos boatos. Travem a batalha da comunicação. Levem a posição do governo à opinião pública. Sejam claros. Sejam precisos e se façam entender. Não podemos deixar dúvidas — afirmou.

ATO CONTRA MEDIDAS NO DF

Durante a campanha do ano passado, ela afirmou que nunca retiraria direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”. No entanto, as centrais sindicais, inclusive a Central Única dos Trabalhadores ( CUT), ligada ao PT, fazem manifestação hoje em Brasília contra as medidas anunciadas este mês:

— Quando for dito que vamos acabar com as conquistas históricas dos trabalhadores, respondam em alto e bom som: Não é verdade! Os direitos trabalhistas são intocáveis e não será o nosso governo, um governo dos trabalhadores, que irá revogá­los — afirmou.

Dilma afirmou que adequará os benefícios trabalhistas à realidade atual do país:

— Vamos adequar o seguro desemprego, o abono salarial, a pensão por morte e o auxílio doença às novas condições socioeconômicas do país — afirmou. — Nestes casos, que são corretivos, não se trata de medidas fiscais, trata­se de aperfeiçoamento de políticas sociais para aumentar sua eficácia, eficiência e sua justiça. Nós sempre aperfeiçoamos nossas políticas, sempre. E o Bolsa Família é um exemplo, eu diria um excelente exemplo.

Na mesma linha, ela ofereceu argumentos para rebater críticas à mobilidade urbana e à crise hídrica. Citou investimentos do governo federal e “a maior estiagem das últimas décadas”. E disse que estão sendo tomadas as medidas “cabíveis” para garantir o suprimento de energia elétrica.

Dilma deixou claro seu apoio ao programa de ajuste fiscal conduzido pela equipe econômica. Afirmou que a estratégia fiscal adotada no primeiro mandato, que incluiu a redução da meta fiscal com expansão dos gastos públicos e cortes de impostos, foi adotada para proteger a economia brasileira de choques externos (desaceleração mundial) e internos (problemas climáticos que afetam preços de alimentos e a produção de energia). E destacou que está na hora de promover um reequilíbrio fiscal para que o país cresça e mantenha programas sociais.

— A razão de ser da gestão responsável e consistente da política econômica é estimular o crescimento e dar meios para a execução de políticas que melhorem o bem­estar da população. Esta é a razão de ser das políticas — disse ela. 

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