Total será devolvido à estatal em caso de condenação dos réus
SÃO PAULO - Chega a R$ 118,8 milhões o total bloqueado pela Justiça em contas e aplicações financeiras realizadas no Brasil por 15 pessoas investigadas na Operação Lava-Jato e por três empresas envolvidas no caso — a D3TM, usada pelo ex diretor da Petrobras Renato Duque, a Hawk Eyes e a Techint, usadas pelo lobista Fernando Soares.
O levantamento foi feito a pedido do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, e exclui os valores que já foram encontrados em contas e aplicações feitas no exterior. Se os réus forem condenados, o dinheiro será devolvido à Petrobras para ressarcir prejuízos.
Até o fim do processo, no entanto, o dinheiro bloqueado deve ser remetido a uma conta judicial. No caso de aplicações financeiras, a transferência ocorrerá na data do vencimento, sem prejudicar rendimentos. Se for devolvido à estatal, o valor dificilmente superará as perdas da empresa. Se houver excedente, irá para a União.
O maior valor bloqueado é de Gerson Almada, da Engevix, com R$ 37,5 milhões. A seguir aparecem Ildefonso Colares Filho, da Queiroz Galvão, com R$ 18,1 milhões e Agenor Franklin Magalhães Medeiros, da OAS, com R$ 11,99 milhões. Boa parte do valor bloqueado está em fundos de previdência. Os valores em ações não foram levantados, mas os papéis estão bloqueados.
Renato Duque, ex diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras, é o único do grupo que ainda não foi denunciado pelo Ministério Público Federal.
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Nestor Cerveró no dia em que foi preso, em 14/01/2015 - Geraldo Bubniak / AGB
RIO - Não foi por um simples engano que a defesa do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró arrolou a presidente Dilma Rousseff como testemunha de defesa do executivo em um dos processos da Operação Lava-Jato na Justiça Federal do Paraná. A manobra foi intencional, mais um recado dele ao Planalto de que não vai aceitar sozinho a culpa pela compra da Refinaria de Pasadena (EUA), em 2006. O negócio deu prejuízo de US$ 792 milhões, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU).
O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, protocolou nesta segunda-feira a defesa no processo em que o ex-diretor é acusado de receber propina por contratos de navios-sonda. Dilma estava entre as testemunhas porque foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras até 2010, quando concorreu à Presidência pela primeira vez.
Menos de três horas depois, o advogado retirou o nome dela da lista, alegando um erro identificado pelo próprio Cerveró. O Conselho não tinha ingerência sobre esse tipo de contrato.
Segundo uma fonte próxima a Cerveró, o erro foi proposital para mostrar a disposição dele de apontar a responsabilidade de Dilma na compra de Pasadena, esse sim um tipo de negócio que só poderia ser feito com aval do Conselho. Cerveró nunca engoliu o fato de Dilma, em março de 2014, tê-lo acusado de induzir o Conselho a erro com um resumo executivo “técnica e juridicamente falho”. Em maio, ao depor numa comissão da Petrobras, ele entregou um documento elaborado por seu advogado mencionando o Estatuto Social da estatal para demonstrar que a decisão não poderia se basear só no resumo técnico. Em seguida, enviou texto similar à Comissão de Ética Pública e à CPI da Petrobras.
Desde o início do escândalo, Cerveró tem dito a amigos que não será o “bode expiatório”, dando a entender que Pasadena servia a interesses de outros executivos, como seu sucessor no cargo, Jorge Zelada, e Renato Duque, ex-diretor de Serviços. Ao GLOBO, Ribeiro reafirmou que o erro não foi intencional, mas confirmou a linha de defesa de responsabilizar o Conselho.