Marta volta a criticar governo e amplia crise com petistas

Ex-ministra afirmara que política econômica vive ‘descalabro’

POR TATIANA FARAH
28/01/2015 6:00 / ATUALIZADO 28/01/2015 11:50
 

A ex-ministra Marta Suplicy - Geraldo Magela/Agência Senado/17-12-2014

SÃO PAULO - A senadora Marta Suplicy deu ontem mais um passo para aprofundar a crise que vive com o partido desde o final ano passado, quando deixou o Ministério da Cultura com uma carta de demissão com críticas à gestão da presidente Dilma Rousseff. A publicação de um artigo no jornal “Folha de S.Paulo” com duros ataques ao governo causou irritação até em aliados próximos, como o coordenador nacional da corrente petista à qual ela pertence, a Construindo um Novo Brasil (CNB). Francisco Rocha, o Rochinha, disse que Marta está magoada e que “alguém deveria conversar com ela”.

— Não aceito que nenhum petista cuspa no prato em que comeu. Nem eu, Rochinha, nem ela, Marta — disse Rochinha, que descarta um pedido de expulsão da senadora: — Para expulsar a Marta pelo que ela fala, o PT teria de fazer uma lista enorme (de expulsões).

No artigo de ontem, Marta criticou a “falta de transparência” do governo, que teria levado a economia a uma “situação de descalabro”, e ironizou a declaração de campanha da presidente de que não mexeria em direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”. Para a senadora, a presidente está “fazendo a vaca engasgar de tanto tossir”.

Antigo aliado de Marta, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) condenou o texto da senadora, em sua conta no Twitter. Ele considerou o teor do texto “inaceitável”. “Não traduz o sentimento dos petistas nem do povo brasileiro”, escreveu o petista. Já o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, que foi secretário de governo de Marta em São Paulo, mas acabou criticado por ela em uma entrevista recente, não quis falar sobre o assunto.

— O PT está certo. Ela quer é polemizar e não vamos fazer isso. Marta quer deixar o partido e está conversando diretamente com São Paulo, onde há um sentimento antipetista forte. Ela quer uma saída à esquerda do partido, com discurso moralista — disse um dirigente nacional da legenda, para quem Marta já está com os dois pés fora do PT e pensando em sua campanha à prefeitura.

Cortejada por partidos

Apesar dos novos ataques ao governo, a direção nacional do PT preferiu o silêncio para não precipitar a saída de Marta da legenda. A maior preocupação do PT é que, fora do partido, Marta possa atrapalhar a campanha de reeleição do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, em 2016. A senadora viu as portas do PMDB se fecharem quando Haddad anunciou o peemedebista Gabriel Chalita como secretário de Educação, sinalizando para uma possível dobradinha na eleição municipal. Mas a ex-prefeita tem alternativas para ser candidata contra Haddad, já que vem sendo cortejada por partidos como o Solidariedade, o PPS ou o PSB.

Intitulado “O diretor sumiu”, o artigo foi divulgado pela assessoria da senadora para toda a imprensa e republicado nas redes sociais dela. Marta, no entanto, não quis dar entrevistas. No início do mês, já havia feito outras acusações ao partido, em que usava a expressão “desmandos” e dizia que a solução para o PT seria “mudar ou acabar”.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também não quis comentar as declarações de Marta. Na semana passada, um dos diretores do Instituto Lula, o ex-ministro Paulo Vannuchi, já havia reclamado da senadora, dizendo que Marta fazia uma campanha “sórdida” contra o PT. As afirmações foram consideradas muito pesadas e tensionaram ainda mais a relação.

Ex-marido de Marta, o senador Eduardo Suplicy foi surpreendido com o artigo da senadora e disse que Marta não tem motivos graves para se ressentir com o partido.

— Ela tem consciência de que, se em alguns momentos ela não se sentiu tão considerada, por outro lado sabe o quanto o partido a acolheu — disse o senador, salientando que Marta não pediu aconselhamento.

Ex-companheira de Marta no PT, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) avaliou que a “radicalidade” do discurso de Marta demonstra sua intenção de deixar o partido.

— Tenho a impressão de que ela já decidiu sair do partido. Senão, estaria fazendo essas críticas internamente. É uma situação muito grave — disse Erundina, que deixou o PT há 15 anos.

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Renan terá adversário do próprio PMDB

 
• Luiz Henrique vai disputar presidência do Senado com apoio da oposição
 
Cristiane Jungblut – O Globo
 
BRASÍLIA - Depois de dias de negociação entre oposição e um grupo dissidente do PMDB, o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) lançou ontem seu nome para disputar a presidência do Senado, como alternativa ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que quer mais um mandato no comando da Casa. Os partidos de oposição - DEM e PSDB - buscavam há semanas um nome de dentro do próprio PMDB para tentar derrotar Renan. A manobra teve o aval do presidente nacional da legenda, senador Aécio Neves (PSDB-MG).
 
Luiz Henrique anunciou sua candidatura ontem à tarde, depois de ter conversado por telefone com Renan pela manhã e de ter almoçado com o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). O senador se encontra hoje, às 10h, com o presidente do Senado, a quem pretende derrotar. Em tom de provocação, Luiz Henrique disse que vai conversar com Renan para lhe "pedir voto".
 
A eleição para a presidência do Senado será no próximo domingo, em votação secreta. No sábado, o PMDB reunirá sua bancada para anunciar quem será o candidato oficial do partido. Segundo Luiz Henrique, sua candidatura é "irreversível" e será apresentada diretamente no Plenário do Senado caso a bancada do PMDB não a avalize.
 
- Estamos trabalhando (a candidatura) no PMDB, mas, se não conseguirmos viabilizar no PMDB, nos apresentaremos como candidato da instituição. É uma decisão irreversível. Na sexta-feira, deve ser o lançamento oficial, com uma chapa com nomes para todos os cargos - disse Luiz Henrique, avisando:
- Não é para protestar, é para disputar para valer.
 
A manobra do grupo - chamado de históricos do PMDB - preocupou a cúpula do PMDB e os aliados de Renan. Para o comando da campanha de Renan, Luiz Henrique tem "estofo", por ter sido presidente nacional do PMDB na década de 1990 e um dos fundadores do partido. O PMDB tem e terá a maior bancada do Senado, com 19 senadores. O tom foi de preocupação entre os aliados de Renan.
 
- Não é bom - resumiu um cacique do PMDB, apostando ainda no nome de Renan.
 
Os líderes da oposição comemoram. O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), vinha negociando com ala dissidente do PMDB e ontem conversou com Luiz Henrique. A ideia era justamente ter um candidato do PMDB, com força para vencer Renan.
 
- O candidato é o Luiz Henrique. Mas ele não é o candidato da oposição. Ele é um nome do Senado como instituição. Ele tem mais história, mais condições de ganhar a eleição. Ele assusta mais (o grupo do Renan) - disse Agripino.
 
- O Luiz Henrique terá todos os votos do PSDB. Ele é o velho MDB da luta democrática - acrescentou o líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira.
 
Luiz Henrique conversou por telefone com o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, e disse que tem apoio de senadores do PSDB, DEM, PP, PSB e PDT. Ontem, depois da conversa com Renan e do surgimento de Luiz Henrique, o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), que havia se lançado como candidato alternativo a Renan disse que o PSB tem poucos votos e que é preciso esperar até sexta-feira para definir se sua candidatura será mantida ou não.
 
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Aécio entra em campo para evitar debandada na Câmara

Senador pediu ajuda a Alckmin e a FH para que deputados mantenham apoio a Júlio Delgado

POR ISABEL BRAGA
28/01/2015 6:00 / ATUALIZADO 28/01/2015 7:31
 

Aécio Neves, que disputou a presidência com Dilma - Pablo Jacob / Agência O Globo

BRASÍLIA - A oposição enfrenta uma situação de impasse na disputa pela presidência da Câmara. Diante da pressão de parte dos deputados do PSDB para que o partido desembarque da candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) e apoie o candidato do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, entrou em campo e buscou ajuda até do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para tentar conter a debandada. Cobrado na véspera pela cúpula do PSB, que o apoiou no segundo turno da eleição presidencial, Aécio conseguiu a promessa de Alckmin de que ligaria para os 14 deputados do partido em São Paulo para manter o voto em Delgado.

— Vamos manter o apoio a candidatura de Júlio Delgado. Essa é a melhor opção política para o partido, para a Câmara e para o país — disse Aécio nas conversas com quem o procurou para discutir o apoio do partido.

Cotado para reassumir a liderança do PSDB na Câmara, o deputado Carlos Sampaio (SP) não descarta a possibilidade de mudanças na decisão diante de fatos novos, mas diz que qualquer decisão será tomada em conjunto pelos partidos que estão neste bloco de oposição: PSDB, PSB, PPS e PV.

— Temos uma posição clara em favor do candidato das oposições. Cabem novas reflexões diante de fatos novos? Sim, mas o nosso time decidirá em bloco, sob a batuta de Aécio. Reflexões individuais sobre o melhor caminho para a oposição são legítimas, desde que conversadas com Aécio — disse Sampaio.

Um dos fatores que pesam na decisão de alguns deputados tucanos é a oferta que Eduardo Cunha fez para que o partido o apoie formalmente: a primeira vice-presidência da Câmara e também a escolha de comissões temáticas.

— Os blocos para a disputa dos demais cargos da Mesa Diretora e em comissões têm que ser fechados antes da eleição. No segundo turno, não dá mais — pressionou o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO).