A ex-ministra Marta Suplicy - Geraldo Magela/Agência Senado/17-12-2014
SÃO PAULO - A senadora Marta Suplicy deu ontem mais um passo para aprofundar a crise que vive com o partido desde o final ano passado, quando deixou o Ministério da Cultura com uma carta de demissão com críticas à gestão da presidente Dilma Rousseff. A publicação de um artigo no jornal “Folha de S.Paulo” com duros ataques ao governo causou irritação até em aliados próximos, como o coordenador nacional da corrente petista à qual ela pertence, a Construindo um Novo Brasil (CNB). Francisco Rocha, o Rochinha, disse que Marta está magoada e que “alguém deveria conversar com ela”.
— Não aceito que nenhum petista cuspa no prato em que comeu. Nem eu, Rochinha, nem ela, Marta — disse Rochinha, que descarta um pedido de expulsão da senadora: — Para expulsar a Marta pelo que ela fala, o PT teria de fazer uma lista enorme (de expulsões).
No artigo de ontem, Marta criticou a “falta de transparência” do governo, que teria levado a economia a uma “situação de descalabro”, e ironizou a declaração de campanha da presidente de que não mexeria em direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”. Para a senadora, a presidente está “fazendo a vaca engasgar de tanto tossir”.
Antigo aliado de Marta, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) condenou o texto da senadora, em sua conta no Twitter. Ele considerou o teor do texto “inaceitável”. “Não traduz o sentimento dos petistas nem do povo brasileiro”, escreveu o petista. Já o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, que foi secretário de governo de Marta em São Paulo, mas acabou criticado por ela em uma entrevista recente, não quis falar sobre o assunto.
— O PT está certo. Ela quer é polemizar e não vamos fazer isso. Marta quer deixar o partido e está conversando diretamente com São Paulo, onde há um sentimento antipetista forte. Ela quer uma saída à esquerda do partido, com discurso moralista — disse um dirigente nacional da legenda, para quem Marta já está com os dois pés fora do PT e pensando em sua campanha à prefeitura.
Cortejada por partidos
Apesar dos novos ataques ao governo, a direção nacional do PT preferiu o silêncio para não precipitar a saída de Marta da legenda. A maior preocupação do PT é que, fora do partido, Marta possa atrapalhar a campanha de reeleição do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, em 2016. A senadora viu as portas do PMDB se fecharem quando Haddad anunciou o peemedebista Gabriel Chalita como secretário de Educação, sinalizando para uma possível dobradinha na eleição municipal. Mas a ex-prefeita tem alternativas para ser candidata contra Haddad, já que vem sendo cortejada por partidos como o Solidariedade, o PPS ou o PSB.
Intitulado “O diretor sumiu”, o artigo foi divulgado pela assessoria da senadora para toda a imprensa e republicado nas redes sociais dela. Marta, no entanto, não quis dar entrevistas. No início do mês, já havia feito outras acusações ao partido, em que usava a expressão “desmandos” e dizia que a solução para o PT seria “mudar ou acabar”.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também não quis comentar as declarações de Marta. Na semana passada, um dos diretores do Instituto Lula, o ex-ministro Paulo Vannuchi, já havia reclamado da senadora, dizendo que Marta fazia uma campanha “sórdida” contra o PT. As afirmações foram consideradas muito pesadas e tensionaram ainda mais a relação.
Ex-marido de Marta, o senador Eduardo Suplicy foi surpreendido com o artigo da senadora e disse que Marta não tem motivos graves para se ressentir com o partido.
— Ela tem consciência de que, se em alguns momentos ela não se sentiu tão considerada, por outro lado sabe o quanto o partido a acolheu — disse o senador, salientando que Marta não pediu aconselhamento.
Ex-companheira de Marta no PT, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) avaliou que a “radicalidade” do discurso de Marta demonstra sua intenção de deixar o partido.
— Tenho a impressão de que ela já decidiu sair do partido. Senão, estaria fazendo essas críticas internamente. É uma situação muito grave — disse Erundina, que deixou o PT há 15 anos.
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Aécio Neves, que disputou a presidência com Dilma - Pablo Jacob / Agência O Globo
BRASÍLIA - A oposição enfrenta uma situação de impasse na disputa pela presidência da Câmara. Diante da pressão de parte dos deputados do PSDB para que o partido desembarque da candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) e apoie o candidato do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, entrou em campo e buscou ajuda até do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para tentar conter a debandada. Cobrado na véspera pela cúpula do PSB, que o apoiou no segundo turno da eleição presidencial, Aécio conseguiu a promessa de Alckmin de que ligaria para os 14 deputados do partido em São Paulo para manter o voto em Delgado.
— Vamos manter o apoio a candidatura de Júlio Delgado. Essa é a melhor opção política para o partido, para a Câmara e para o país — disse Aécio nas conversas com quem o procurou para discutir o apoio do partido.
Cotado para reassumir a liderança do PSDB na Câmara, o deputado Carlos Sampaio (SP) não descarta a possibilidade de mudanças na decisão diante de fatos novos, mas diz que qualquer decisão será tomada em conjunto pelos partidos que estão neste bloco de oposição: PSDB, PSB, PPS e PV.
— Temos uma posição clara em favor do candidato das oposições. Cabem novas reflexões diante de fatos novos? Sim, mas o nosso time decidirá em bloco, sob a batuta de Aécio. Reflexões individuais sobre o melhor caminho para a oposição são legítimas, desde que conversadas com Aécio — disse Sampaio.
Um dos fatores que pesam na decisão de alguns deputados tucanos é a oferta que Eduardo Cunha fez para que o partido o apoie formalmente: a primeira vice-presidência da Câmara e também a escolha de comissões temáticas.
— Os blocos para a disputa dos demais cargos da Mesa Diretora e em comissões têm que ser fechados antes da eleição. No segundo turno, não dá mais — pressionou o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO).