Paulistas podem ficar 5 dias sem água por semana

Governo de SP fechará as torneiras se situação hídrica não melhorar

TIAGO DANTAS

São Paulo - A população de São Paulo pode ter água apenas dois dias por semana, caso a crise hídrica do estado se agrave nos próximos meses. Em um cenário tido como pessimista pelo governo, em que a quantidade de chuvas fique abaixo das médias históricas, as obras previstas não surtam efeito e o consumo na Região Metropolitana aumente, seria necessário adotar um rodízio de dois dias com água e cinco sem, segundo o diretor metropolitano da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), Paulo Massato.


Por enquanto, porém, não há data para isso acontecer. A quantidade de chuvas neste verão está menor. A quatro dias do fim de janeiro, havia chovido até ontem 49,5% da média histórica na região do sistema Cantareira, conjunto de represas que abastece 6,5 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo. Por outro lado, o consumo na Grande São Paulo caiu cerca de 25%, de acordo com a Sabesp, passando de uma média de 71 mil litros por segundo em janeiro de 2014 para 53 mil litros por segundo este ano. 


Massato disse que, se a Sabesp optar por adotar um rodízio, a restrição terá que ser "drástica" para aumentar a economia de água que vem sendo feita nos últimos meses. Há duas semanas, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, admitiu que a companhia estuda o rodízio, embora a medida venha sendo constantemente negada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).


Ainda segundo Massato, o rodízio também estaria condicionado a uma redução no limite de água que pode ser retirado do sistema Cantareira, A vazão máxima é determinada pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE). Em dezembro de 2013, a Sabesp buscava 32 mil litros por segundo no Cantareira. Atualmente, retira 16,5 mil litros por segundo.


— O cálculo conceitual teórico é que se precisaria de um rodízio de dois dias com água por cinco dias sem água. Para não chegar a zero na represa, não ter mais água, se as obras não avançarem na velocidade que estamos planejando, podemos correr esse risco de um rodízio drástico — disse Massato.

 

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São Paulo e Rio pretendem investir R$ 10,5 bilhões para garantir abastecimento de água de capitais

Projetos preveem construção de novos sistemas produtores, mas não leva em conta soluções como dessalinização e reúso

POR CLARICE SPITZ E TIAGO DANTAS
28/01/2015 5:00
 
 

SÃO PAULO — Os governos de Rio e São Paulo pretendem investir R$ 10,5 bilhões nos próximos cinco anos para tirar do papel obras já planejadas, na tentativa de garantir o abastecimento de água nas duas maiores regiões metropolitanas do país. Os projetos preveem a construção de novos sistemas produtores, programas para reduzir o desperdício e mudanças nas redes de distribuição.

Projetos como usinas de dessalinização e de tratamento de esgoto, defendidos por especialistas para áreas com pouca oferta de água doce, não estão sendo levados em consideração pelos estados por enquanto. Estudo feito pelo Consórcio PCJ, que reúne empresários e administradores públicos da região de Campinas, aponta que seriam necessários R$ 6,1 bilhões para tirar sal da água do litoral paulista, bombeá-la pela Serra do Mar e levá-la até a Grande São Paulo.

 

O presidente da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), Jerson Kelman, diz que o custo desse processo é muito alto e que a dessalinização é mais indicada em áreas litorâneas. A técnica é utilizada com sucesso em Israel, onde 67% da água potável é retirada do mar, em outros países do Oriente Médio e em Cingapura. No Brasil, o único sistema que tira água diretamente do mar foi montado há cerca de dez anos no Arquipélago de Fernando de Noronha.

A Sabesp pretende aumentar a utilização de esgoto tratado na rede de distribuição de água. Obras para tratar esgoto e lançá-lo na Represa Guarapiranga e no Rio Alto Cotia custarão cerca de R$ 76,5 milhões.

DOIS RESERVATÓRIOS NA BARRA

Entre os investimentos que precisam ser feitos no Rio, estão R$ 200 milhões para construir quatro reservatórios e 760 quilômetros de rede distribuidora, a fim de garantir o abastecimento na Zona Oeste. Outros R$ 200 milhões devem ser destinados à construção de dois reservatórios na região de Barra, Recreio e Jacarepaguá — segundo a Cedae, a obra terminará em 2016.

Em São Paulo, a Sabesp terá que gastar cerca R$ 3,5 bilhões para buscar água no sistema São Lourenço, a quase 85 quilômetros da capital, fazer a interligação das represas Atibainha e Jaguari, na bacia do Paraíba do Sul, e para construir novos reservatórios.

Na semana passada, o governo federal liberou R$ 2,6 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para a obra do São Lourenço, que deve ficar pronta em 2017. Outros R$ 830 milhões devem ser gastos na transposição do Paraíba do Sul, cujo edital deve ser publicado até sexta-feira.

O programa de redução de perdas deve consumir R$ 3 bilhões. O objetivo é diminuir a taxa de água desperdiçada por vazamentos e defeitos para 16,7% até 2020.

ESTIAGEM JÁ ATINGE PREÇOS

A seca em São Paulo já se reflete nos preços de alimentos vendidos no atacado naquele estado. De acordo com a consultoria MB Agro, com menos da metade do volume de chuvas previsto para janeiro, verduras estão mais caras. O quilo da alface no atacado é 75% maior que o do fim do ano passado. Em janeiro de 2014, essa alta tinha sido bem menor: de 16%. Couve, espinafre e repolho também têm tido avanço de preços bem superior ao do verão passado. Com pastos mais secos, os preços da carne e do leite captados pelo produtor mantêm-se estáveis.

O avanço de preços no atacado ainda não chegou ao consumidor paulista.

— Estimamos que no primeiro trimestre deva haver esse repasse, ao menos para frutas, legumes e hortaliças — diz Francisco Queiroz, analista da MB Agro.

SEM ‘EFEITO SECA’ NO RIO

Para André Braz, da Fundação Getulio Vargas, os preços de alimentos no varejo no Rio e em São Paulo estão subindo dentro do que é esperado nesta época, sem que isso possa ser atribuído ao “efeito seca”. A Ceasa também ainda não vê interferência do clima sobre os preços.