Ao anunciar novos ministros às vésperas do Natal, a presidente Dilma Rousseff finalmente pagou a fatura com o PMDB na tentativa de acalmar o principal aliado do Palácio do Planalto. Depois de semanas de impasses e negociações, ela oficializou a elevação de cinco para seis o número de pastas do partido, contemplando caciques da legenda e integrantes do baixo clero partidário. Os detalhes da reforma ministerial foram acertados até o último minuto antes do anúncio, em uma novela que se arrastou ao longo do dia e só se concluiu no início da noite de ontem.

O PMDB ficará com as pastas da Agricultura (Kátia Abreu); Pesca (Helder Barbalho); Minas e Energia (Eduardo Braga); Aviação Civil (Eliseu Padilha); Portos (Edinho Araújo) e Turismo (Vinicius Lages) — este último deve ficar, a princípio, até que o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), consiga se desvencilhar das acusações de ter participado do esquema de corrupção da Petrobras, investigado pela Operação Lava-Jato. Alves foi um dos citados na delação premiada do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Ontem, divulgou nota em que diz ter pedido ao vice-presidente da República, Michel Temer, que não o incluísse na reforma ministerial até que a apuração das denúncias sobre ele seja concluída.

Depois de três semanas de expectativas, finalmente a senadora Kátia Abreu foi confirmada para o Ministério da Agricultura. Nos últimos dias, lideranças indígenas estiveram em Brasília para protestar contra a escolha, e membros do próprio PT criticaram a troca. Na cota pessoal de Michel Temer, o deputado Eliseu Padilha (RS) assume a Aviação Civil na vaga de Moreira Franco. E, em uma prova de força política, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) convenceu a bancada de senadores do partido a apoiar a indicação do filho Helder.

No troca-troca ministerial, o PCdoB, o Pros e o PSD terão uma pasta cada um. Numa das mais importantes — a Educação —, sai Henrique Paim, que assumiu o lugar de Aloizio Mercadante quando este foi para a Casa Civil, e entra o governador do Ceará, Cid Gomes (Pros). Já o ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB), vai para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. No lugar de Rebelo, entra o deputado George Hilton (PRB-MG), que deve estar na pasta durante a Olimpíada Rio 2016. Gilberto Kassab (PSD), ex-prefeito de São Paulo, assumirá Cidades. 

Peso institucional
A nova leva de ministros também inclui a Defesa, da qual sai Celso Amorim e entra o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), que esteve cotado para diversas pastas e foi convidado na noite de segunda-feira. Segundo aliados do petista, a presidente Dilma quer dar um peso institucional maior ao ministério, sobretudo após o desgaste com os militares por conta da divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade. 

A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial também passará por mudanças. Da pasta, sai Luiza Bairros e assume a acadêmica Nilma Lino Gomes. Dilma também anunciou ontem que no lugar de Jorge Hage na Controladoria-Geral da União (CGU), assume Valdir Simão, que está na Secretaria Executiva da Casa Civil. Na nota em que confirma o nome dos ministros, a presidente agradece a dedicação dos titulares que deixam as pastas. 

Dilma chegou de manhã no Palácio do Planalto para acertar os pontos da reforma. Por volta das 13h, seguiu para o Palácio da Alvorada, onde participou de uma breve confraternização com ministros, parlamentares e assessores. Ela passou menos de 40 minutos reunida com eles. “Deu beijinhos, serviu queijo com champanhe, disse que 2015 será difícil e que contava com a gente. Mais nada”, decepcionou-se um aliado. Estiveram no encontro o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB- RJ), o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams e o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Mercadante, que será mantido à frente da pasta. O Palácio do Planalto não divulgou a lista dos participantes da confraternização.




Esplanada versão 2015

>> Confira os 13 nomes anunciados ontem pelo Planalto 


(Elza Fiúza/Agência Brasil) 

Aldo Rebelo (PCdoB) — Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
Jornalista, Aldo Rebelo, 58 anos, é deputado federal desde 1990. Foi líder do governo Lula em 2003, primeiro ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) e presidente da Câmara entre 2005 e 2007. Atualmente, é ministro do Esporte. Entra no lugar de Clelio Campolina Diniz.


(Breno Fortes/CB/D.A Press) 

Cid Gomes (Pros) — Ministério da Educação 
Formado em engenharia civil pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Cid Gomes, 51 anos, ocupou o primeiro cargo político como deputado estadual pelo Ceará, em 1990. Seis anos depois, foi eleito prefeito de Sobral (CE), posto para o qual foi reeleito. Em 2007, elegeu-se governador do Ceará, repetindo o feito quatro anos depois. Foi filiado ao PSB de 2003 até 2013, quando ingressou no Pros. Assume o MEC na vaga de Henrique Paim (PT).


(PMDB/Divulgação) 

Edinho Araújo (PMDB) — Secretaria Especial de Portos 
Edinho Araújo, 65 anos, nasceu em Santa Fé do Sul (SP), cidade da qual foi prefeito de 1977 a 1982. Em 1983, foi eleito deputado estadual, cargo que exerceu por três mandatos e, em seguida, foi deputado federal por oito anos, até se tornar prefeito de São José do Rio Preto (SP). Eleito novamente deputado federal em 2010, foi relator do projeto que criou a Comissão Nacional da Verdade e é vice-líder do PMDB na Casa. Entra no lugar de César Borges (PR).


(Monique Renne/CB/D.A Press) 

Eduardo Braga (PMDB) — Ministério de Minas e Energia
Eduardo Braga, 54 anos, nasceu em Belém e se formou em engenharia elétrica pela Universidade Federal do Amazonas. Foi vereador de Manaus aos 21 anos e, em seguida, deputado estadual, eleito em 1986. Dez anos depois, assumiu a prefeitura de Manaus. Deixou o cargo e dedicou-se às empresas dele até 2002, quando foi eleito governador do Amazonas. Depois, venceu a disputa para o Senado e, em 2012, passou a ocupar a liderança do governo na Casa. Assume a vaga deixada por Edison Lobão (PMDB).




(Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados) 

Eliseu Padilha (PMDB) — Secretaria de Aviação Civil
Formado em direito, Eliseu Padilha, 69 anos, foi eleito prefeito de Tramandaí (RS) em 1989. Em 1995, ingressou no Congresso Nacional, como deputado federal. Dois anos depois, ele se licenciou do cargo para assumir o Ministério dos Transportes. Em 2003, foi eleito novamente deputado federal, cargo do qual se despede, pois não disputou a reeleição na Câmara este ano. Assume a SAC no lugar de Moreira Franco (PMDB).




(Carlos Moura/CB/D.A Press) 

George Hilton (PRB) — Ministério do Esporte
O perfil do deputado George Hilton na Câmara informa que o parlamentar, formado em ciências sociais, já foi radialista, apresentador de televisão, teólogo e animador. Coordenador da Frente Parlamentar do Combate ao Roubo de Cargas e membro do Parlamento do Mercosul e da Comissão de Relações Exteriores, Hilton é presidente regional do PRB-MG e líder da legenda na Câmara. 


(portaltailandia.com.br/Reprodução,) 

Gilberto Kassab (PSD) — Ministério das Cidades
Formado em economia e engenharia, Gilberto Kassab, 54 anos, foi prefeito de São Paulo entre 2006 e 2012. Na primeira vez, era vice-prefeito e assumiu o cargo depois que José Serra (PSDB) renunciou para concorrer ao governo do estado. Depois, concorreu à prefeitura e foi eleito em segundo turno. Antes de ir para a prefeitura, ele foi deputado federal de 1999 a 2003 e de 2003 a 2005, quando licenciou-se do cargo para ficar à frente do governo da capital paulista. O fundador do PSD entra no lugar de Gilberto Occhi (PP).


(Acácio Pinheiro/CB/D.A Press) 

Helder Barbalho (PMDB) — Ministério da Pesca e Aquicultura
Filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), Helder Barbalho, 35 anos, ocupou o primeiro cargo eletivo como prefeito de Ananindeua (PA), em 2000. É o mais novo da nova leva de ministros. Vice-presidente do PMDB no estado, Barbalho foi derrotado nas eleições deste ano para governador do Pará. Ele entra na vaga de Eduardo Benedito Lopes (PRB).


(Carlos Moura/CB/D.A Press) 

Jaques Wagner (PT) — Ministério da Defesa 
Ex-sindicalista, Jaques Wagner, 63 anos, iniciou a carreira política no movimento estudantil da Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-RJ), onde cursava engenharia civil. Perseguido pela ditadura, deixou o Rio e se mudou para a Bahia. Foi deputado federal entre 1990 e 1998. No governo Lula, ocupou o cargo de ministro do Trabalho, de 2003 a 2004, e de ministro das Relações Institucionais, entre julho de 2005 e agosto de 2006. Naquele mesmo ano, foi eleito governador da Bahia e reeleito para o mandato seguinte. Assume a Defesa na vaga de Celso Amorim (PT).


(Carlos Moura/CB/D.A Press) 

Kátia Abreu (PMDB) — Ministério da Agricultura 
Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu, 52 anos, foi eleita deputada federal em 2002 e elegeu-se senadora em 2006, cargo que exerce até hoje. Representante dos produtores, foi presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Tocantins, de 1995 a 2005. Ela assume a pasta na vaga de Neri Geller (PMDB). 


(Emília Silberstein/UnB Agência) 

Nilma Lino Gomes — Secretaria de Promoção de Políticas da Igualdade Racial
Nilma Lino Gomes é professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a primeira reitora negra da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. Pedagoga, ela é doutora em antropologia social e pós-doutora em sociologia.


(Carlos Silva/Esp. CB/D.A Press) 

Valdir Simão — Controladoria-Geral da União
Valdir Simão é o secretário executivo da Casa Civil. Foi secretário executivo do Ministério do Turismo e ex-secretário da Fazenda do Distrito Federal. Auditor fiscal da Receita Federal há 24 anos, presidiu o INSS em 2005. Depois que as secretarias da Receita Federal e Receita Previdenciária se fundiram, ele foi nomeado secretário adjunto da Receita Federal. 


(Gustavo Moreno/CB/D.A Press) 

Vinicius Lages — Turismo
Engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Alagoas,Vinicius Lages, 57 anos, está no Ministério do Turismo desde março, no lugar de Gastão Vieira. Desde 2007, ele ocupava uma diretoria no Sebrae. Com perfil técnico, ele é doutor em socioeconomia de Desenvolvimento pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris. Indicado por Renan Calheiros, entra na cota do PMDB.


>> Conheça outros cotados para compor a equipe ministerial. Alguns já são titulares de pastas que podem trocar de área

Antonio Carlos Rodrigues (PR) — Ministério dos Transportes
Gilberto Occhi (PP) — Ministério da Integração Nacional
Miguel Rossetto (PT) — Secretaria-Geral da Presidência
Pepe Vargas (PT) — Secretaria de Relações Institucionais
Ricardo Berzoini (PT) — Ministério das Comunicações