Título: Jobim se esquiva de saia justa
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 02/07/2011, Política, p. 3

Ministro da Defesa nega críticas ao Planalto e Dilma Rousseff dá assunto por encerrado, embora petistas cobrem explicações

Depois do mal-estar com as declarações que fez na solenidade de 80 anos do ex-presidente Fernando Hen-rique Cardoso, na quinta-feira, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, aproveitou uma audiência ontem com a presidente Dilma Rousseff para se explicar. Foi a própria Dilma quem começou a conversa: "Estão querendo nos intrigar", disse ela, que, àquela altura, às 11h, já havia lido os jornais e sabia a respeito da espécie de dueto que Jobim e um de seus melhores amigos, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), fizeram no evento.

"Não fiz nenhuma referência ao governo ou à senhora. Falei apenas do Fernando Henrique e das qualidades dele e citei Nelson Rodrigues, como já havia feito outras vezes", disse Jobim à presidente, segundo relato de assessores palacianos e políticos que souberam da história. Tanto no Planalto quanto no Congresso, a informação é a de que Jobim não está demissionário, permanece no cargo e tudo está superado. O Ministério da Defesa não comentou as declarações do titular da pasta.

Na cerimônia em homenagem a FHC, Jobim citou um texto famoso de Nelson Rodrigues, sobre "os idiotas que chegavam devagar e ficavam quietos", para dizer que, hoje, os "idiotas perderam a modéstia". E prosseguiu: "Nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento".

O ministro comentou ontem com amigos políticos que apenas havia feito uma referência aos jornalistas que escrevem para o esquecimento, e não ao governo, muito menos à presidente Dilma. Na conversa com a presidente na manhã de ontem, ele disse ainda que não deseja sair do governo.

Na semana que vem, por exemplo, Jobim irá à França para um congresso sobre segurança internacional. Depois, segue para Londres, onde conversará com autoridades inglesas sobre acordos de defesa entre os dois países.

A viagem será boa para esfriar a repercussão das declarações. O PT, por exemplo, não gostou do caso. No Twitter, a deputada Arlete Sampaio (PT-DF) criticou os elogios de Jobim ao ex-presidente. E não foi a única a reclamar: "Não entendi o que ele quis dizer com aquilo. Ficou mal. Ele tem que se explicar com a presidente", disse o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP).

A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, destacou, à tarde, que o discurso de Jobim não foi entendido pelo Planalto como um recado velado ao governo. Segundo ela, a reunião desta manhã já estava agendada e não teve nenhum relação com as declarações.

Sigilo Na audiência de ontem, Jobim tratou com Dilma principalmente de dois temas ¿ a lei de acesso a informações públicas e a Comissão da Verdade. O ministro relatou à presidente, por exemplo, a conversa que tivera na quinta-feira com o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), logo depois da solenidade dos 80 anos de Fernando Henrique.

Irritado com a aprovação de um pedido de urgência para aprovação da lei que abre os arquivos sem uma negociação prévia do que deve ser divulgado, o ex-presidente prometia fazer um discurso ácido para criticar o governo. Jobim soube da ameaça e foi ao gabinete do senador. Conversaram por mais de uma hora.

O ministro conseguiu demover o senador da ideia e ganhar tempo até que volte da Europa para concluir a negociação do projeto. Jobim volta de viagem às vésperas do recesso parlamentar de julho, que começa dia 15.