O lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema de desvio de dinheiro da Petrobras, tinha um elo na Suíça: um operador chamado Diego. A informação faz parte de dois termos do depoimento de delação premiada de Paulo Roberto Costa que foram anexados à ação penal que incrimina o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e o próprio Soares. Os dois estão presos na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.

Costa disse que Diego cuidava das operações financeiras do lobista no exterior e vinha ao Brasil uma vez por ano. Segundo ele, Baiano é um homem "muito rico" e seus bens devem estar em nome de empresas off-shores. Citou que Soares tem uma cobertura de 1.200 metros quadrados na Barra da Tijuca, no Rio, de frente para o mar, no Condomínio Atlântico Sul; uma casa em Trancoso, no litoral da Bahia; uma casa e lancha em Angra dos Reis, no Rio; além de ativos no exterior.

Costa disse que Soares era "muito bem articulado" entre políticos e empresários. Ele, que admitiu ter recebido propina da Construtora Andrade Gutierrez, afirmou que Soares era muito próximo de empresário Otávio Marques de Azevedo, presidente da holding da empreiteira, com quem tinha inclusive negócio em comum. Costa afirmou que o PP teve dificuldades de receber propina da Andrade Gutierrez, que atrasava pagamentos, e que mais tarde os valores passaram a ser geridos e cobrados por Soares, o que significa que o pagamento teria sido transferido ao PMDB.

Azevedo é considerado um dos executivos mais influentes do país. Trabalhou na Cemig, na Telemig e atuou no programa de privatização das teles durante o governo de Fernando Collor de Melo. Teria ainda atuado na linha de frente da fusão entre Oi e Brasil Telecom. A Andrade Gutierrez negou as informações e disse que são baseadas em ilações de Costa, pois nunca fez qualquer acordo de favorecimento envolvendo partidos políticos e a Petrobras.

Costa contou que Soares lhe apresentou também o dono da Estre, cujo escritório fica "em frente" à sede da Petrobras no Rio. O nome da empresa aparece na Lava-Jato como uma das que fizeram depósitos para empresas de fachada criadas por Costa, que montou com os genros um sistema paralelo ao de Youssef para arrecadar e gerenciar propina cobrada de empresas de menor porte.

Costa: Baiano e Eike eram próximos

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras disse que Soares, além de lobista, representou no Brasil a empresa espanhola Acciona, que construiu parte do Porto do Açu, no Rio, empreendimento do empresário Eike Batista. Costa disse que Eike e Soares eram também muito próximos.

O advogado de Soares, David Azevedo, negou que seu cliente tenha contas no exterior e disse desconhecer se tinha algum correspondente de negócios lá fora. Ele criticou, no entanto, o surgimento de informações na reta final do prazo de apresentação de defesa dos réus.

- Ou oferece o conteúdo integral da delação premiada ou não se pode fazer da acusação um filme de suspense - criticou Azevedo, que atribui o surgimento de novas informações a uma estratégia para forçar delações.

Ao decretar nova prisão preventiva de Cerveró, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, disse que não há pressão por delações. Lembrou que o gerente Pedro Barusco Filho delatou sem ter sido preso.