Em tempos de escassez de mão de obra qualificada, reter talentos é a maior preocupação das empresas mais dinâmicas, que veem a felicidade no ambiente de trabalho como um alvo constante. Embora ofereçam benefícios vistosos a seus funcionários, elas sabem que isso está longe de ser suficiente. Erdman Correia da Silva, 26 anos, não tem dúvidas sobre a razão que o leva a querer continuar no laboratório Sabin por longo tempo: a perspectiva de crescer. "As pessoas precisam olhar para a frente e verem que há boas perspectivas profissionais. É o que nos move", diz 

Há um ano na companhia, ele foi promovido depois do terceiro contracheque. Entrou como recepcionista, cargo que ainda ocupa por meio período. O resto do tempo fica no departamento de audiovisual, onde escreve roteiros de filmes de treinamento. "Faço historinhas com personagens, para não ficar com cara de telecurso", explica. 

Se pudesse escolher o trabalho ideal, Erdman gostaria de ser cineasta. Mas não deixa de fazer seus curta metragens nos momentos de folga. E garante que é feliz. Tem melhor remuneração, mais benefícios e perspectivas de crescimento, do que no emprego anterior, na seção de filmes de uma grande livraria. "Eu gostava de conversar com clientes sobre filmes. Mas não conseguiria evoluir naquele emprego", conta. Não teve que tomar iniciativa para sair. A solução veio com a entrada de um banco no bloco de controle da empresa, a que se seguiu a decisão de demitir os funcionários mais antigos e caros. 

No Sabin, a cobrança de metas é rigorosa, mas a ideia é manter os funcionários por muito tempo. Se Erdman ficar lá por cinco anos, ganhará um salário a mais. Se chegar a 20, levará um carro zero. Em dezembro, os funcionários recebem tíquete alimentação de R$ 880 em vez dos tradicionais R$ 440. "A felicidade da equipe é essencial para a cordialidade no atendimento ao público", afirma a presidente da empresa, Lídia Abdalla. Mas há outros benefícios: a rotatividade média das firmas do setor é de 6% mensais; no Sabin, é de apenas 0,5% entre os 2.250 funcionários espalhados por nove cidades - em Brasília, sede da empresa, estão 1.450. 

Valor social 
Além de agrados e perspectivas de avanço na carreira, o profissional fica mais feliz quando vê os resultados do que fez, na avaliação do diretor de Gestão de Pessoas do Banco do Brasil, Carlos Netto. "É fundamental para os funcionários ter noção do significado do valor social do trabalho. Isso faz toda a diferença. Como a escola não ensina isso, precisamos mostrar", diz. Desde o ano passado, o tema faz parte de uma campanha interna do BB, mostrando, por exemplo, que o seguro de vida pode ajudar um jovem a pagar a faculdade na ausência do pai. 

Isso não substitui os benefícios. O banco gasta por ano R$ 23 milhões no programa de qualidade de vida no trabalho, que existe há cinco anos. O recurso é distribuído entre as agências para pagar, por exemplo, massagens a funcionários e comprar lanches saudáveis, incluindo pão integral e frutas. A pesquisa de satisfação entre os funcionários teve, neste ano, o melhor resultado desde 2004. 

Licenças por doença 
O Banco do Brasil gastará R$ 953 milhões com a saúde dos funcionários em 2014, dos quais R$ 450 milhões com o seguro saúde e R$ 53 milhões com outros procedimentos de saúde laboral. Esse valor não tem diminuído porque grande parte só é destinada à medicina preventiva. Mas o número de licenças por razões de saúde, diz, é cada vez menor.

Dilemas de servidores
O sonho de muitos brasileiros é virar funcionário público, em busca da estabilidade e de uma boa remuneração. Seria de esperar que, uma vez conquistado o cargo, ficassem felizes. "Mas o que se vê quando se entra em muitos locais de trabalho são servidores estudando para fazer novos concursos", afirma Mário César Ferreira, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB). 

Em geral, os funcionários que continuam galgando novas posições querem ganhar melhor, conseguir uma jornada mais flexível ou um órgão que lhes garanta "maior prestígio social", relata Ferreira. Entre as queixas na função que exercem está muitas vezes a irrelevância do que fazem, por ser algo aquém do que permite a formação que possuem. "O que se ouve é: consegui passar onde eu queria, mas estou infeliz, fazendo tarefas imbecis", ressalta. Para ele, o problema está no desenho dos concursos, que não permite a escolha das pessoas mais adequadas para cada cargo. "O que se exige é memória de elefante, para repetir um monte de informações que serão inúteis durante o exercício do cargo". 

Outro problema recorrente nas repartições públicas, segundo Ferreira, é o assédio moral. No Banco Central, os funcionários podem procurar uma ouvidoria quando enfrentam esse tipo de dificuldade. A chefe do departamento de gestão de pessoas do BC, Nilvanete Ferreira da Costa, explica que é preciso distinguir quando uma pessoa é seguidamente desqualificada pelo chefe, quando há ofensas, que também são punidas, e outras situações. "Alguns tipo de conflitos são naturais", explica. 

Mas os funcionários do BC não precisam quebrar a cabeça para saber se tem ou não razão nas situações que enfrentam. Podem procurar, a qualquer momento da jornada de trabalho, o serviço de atendimento psicológico para falar de seus problemas. Isso é parte de um projeto mais amplo, que inclui pesquisa de clima organizacional e palestras sobre a felicidade no trabalho. 

A motivação tem a mesma cara no serviço públicos e nas empresas, defende o diretor de recursos humanos da Advocacia Geral da União (AGU), Antonio de Oliveira Aguiar. "Todo mundo quer fazer parte de um time que está ganhando", explica ele, responsável pelos 11 mil funcionários da instituição espalhados pelo país. Auditor fiscal, ele pediu para ser transferido para a AGU exatamente porque não via as mesmas possibilidades de realização profissional no Ministério da Fazenda. 

Desde 2011, Aguiar toca um programa de qualidade de vida na AGU, com salas para que os funcionários possam descansar e outras para fazer as refeições. Todos os anos, há uma semana em que se discute o bem-estar e dicas para a qualidade de vida. Segundo ele, alguns benefícios foram imediatos: pessoas que não se falavam havia muito tempo fizeram as pazes. "No fundo, todo mundo sabe o que precisa para ser feliz, mas acaba criando vários obstáculos para isso", sentencia Aguiar. (PSP)

Liberdade é fundamental
Parte da felicidade nas empresas está relacionada à liberdade de ir e vir, dizem os sócios da KOT Engenharia, Bruno Miranda e João Gabriel Sá. Por isso, o clima sempre é de festa na empresa. Eles contam que, por ano, investem pelo menos R$ 170 mil na auto-estima dos funcionários. Entre os benefícios estão a flexibilidade de horário, sala com TV, games, sofá, pufs para descontração, tempo para ginástica laboral todos os dias, estrutura moderna, em vão livre, sem divisões entre as pessoas, alimentação saudável, capacitação e treinamentos. 

"Não custa quase nada ser feliz. O gasto que temos é o de tocar projetos que contribuam para a felicidade dos colaboradores. Contudo, os benefício que eles trazem, como a alta produtividade, são enormes. Não temos nem como mensurá-los. O que posso dizer é que 90% dos nossos clientes se mostram felizes", afirma João Gabriel. "Mas que fique claro: toda a liberdade na empresa é atrelada a responsabilidades. Ninguém tem horário fixo, porém, sempre há prazos para a entrega de projetos. Ou seja, a pessoa pode trabalhar muitas horas em um dia e menos em outros. Se tem algum médico ou compromisso, pode sair para resolver sem se preocupar em ter que dar muita satisfação no trabalho", complementa Bruno. 

Na Plan B, agência de comunicação, a felicidade dos colaboradores é um princípio básico. Sócio da empresa, Clécio Wains conta que depende muito da produção intelectual. "Sempre procuramos uma solução fantástica para os cliente. Assim, se não tivermos um bom ambiente de trabalho, onde as pessoas se sintam felizes, não conseguimos chegar com uma boa solução para quem está nos pagando", reflete. Ele ressalta que a busca pela felicidade levou a Plan B a buscar uma nova sede, com investimentos de R$ 700 mil. 

O objetivo foi proporcionar mais dinamismo e criatividade aos empregados, que passaram a contar com espaço pet para seus animais (eles podem levar seus cachorros para o trabalho), lounge para descanso, cozinha, minirrampa de skate e chuveiros para quem chega de bicicleta. Os próprios trabalhadores deram ideias para planejar o ambiente, envolveram-se com o projeto, o que faz com que se sintam um pouco donos do negócio e trabalhem mais felizes. Que o diga Paula Albino, 27 anos, há cinco na empresa. "Uma companhia que valoriza seus profissionais têm retornos maiores. Se somos felizes, somos mais produtivos. Ou seja, todos ganham", diz.