A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, recuou ontem em suas declarações iniciais sobre a morte do promotor federal Alberto Nisman e disse não acreditar na hipótese de suicídio. Nisman foi encontrado morto no domingo em seu apartamento, comum tiro na cabeça. Em mensagem sobre o caso na segunda-feira, a presidente dissera crer que o promotor tinha tirado a própria vida.
A mudança nas declarações da presidente foi manifestada ontem em um longo texto publicado em seu site oficial. “O suicídio (que estou convencida) não foi um suicídio”, afirmou Cristina, categórica. Ela aproveitou a mensagem para criticar o promotor morto, acusando-o de ter feito denúncias falsas contra seu governo.
No dia 14, Nisman denunciou a presidente por supostamente ter decidido acobertar a participação de autoridades iranianas no atentado terrorista de 1994 contra a Associação Mutual Israelita- Argentina (Amia), em Buenos Aires. Na segunda-feira, Nisman iria ao Congresso argentino detalhar suas acusações, mas foi encontrado morto um dia antes.
Imediatamente, integrantes do governo disseram suspeitar de suicídio. No entanto, a mensagem de ontem da presidente indica que “as perguntas se transformam em certeza”, em alusão às misteriosas circunstâncias da morte.
Sem citar nomes, Cristina sugeriu que seu governo era alvo de uma conspiração e as provas que Nisman pretendia apresentar ao Congresso haviam sido “plantadas”,
“A denúncia do promotor Nisman nunca foi, ela própria, a verdadeira operação”. Segundo Cristina, referindo-se a uma hipotética conspiração contra a Casa Rosada, “Nisman não sabia e provavelmente nunca soube. A verdadeira operação era a morte do promotor e depois a acusação contra a presidente e seu chanceler (Héctor Timerman)”. “Nisman foi usado vivo e depois o necessitavam morto. É assim, triste e terrivelmente”, afirmou Cristina no texto.
A presidente recorreu a vários dos argumentos utilizados na imprensa e pelos líderes da oposição para duvidar da tese de suicídio, entre elas, “por qual motivo (Nisman) pediria emprestada uma arma para cometer suicídio quando o promotor tinha duas armas registradas em seu nome?”
Reação. Rapidamente, diversos integrantes do governo Kirchner, que até ontem de manhã defendiam a versão do suicídio de Nisman, mudaram de discurso, adaptando-se aos novos argumentos da presidente.
O secretário nacional de Segurança, Sergio Berni, que na terça- feira declarou que “todos os caminhos (indícios)” apontavam para suicídio, disse ontem à tarde: “nos afastamos da teoria do suicídio por causa dos novos elementos”.
Além disso, o secretário – homem de confiança da presidente – afirmou que “alguém” (um suposto assassino) poderia “ter saído pela porta dos fundos” do apartamento, referindo-se a uma terceira saída da residência descoberta pela polícia.
Uma das autoridades mais próximas de Cristina, o secretário- geral da presidência, Aníbal Fernández, também declarou ontem que existem dúvidas. “As coisas estão ficando cada vez mais estranhas”, afirmou.
Na terça-feira, a promotora Viviana Fein, que investiga a morte de Nisman, havia reiterado que o caso era de suicídio. Horas depois, admitiu que a mão direita – supostamente a do disparo – não tinha vestígios de pólvora. Ontem, poucas horas após a mudança de posição de Cristina, a promotora afirmou que a morte de Nisman era “duvidosa”.