Um grupo trilionário de dez investidores institucionais da Europa e dos Estados Unidos enviou uma carta ao Conselho de Administração da Petrobrás pedindo mudanças nos processos de tomada de decisão e gestão da estatal. Com mais de € 1 trilhão em ativos totais e donos de bônus e ações da petroleira brasileira, os fundos têm como estratégia fazer pressão para que sejam criados mecanismos capazes de blindar a empresa de episódios semelhantes à operação Lava Jato.
Em meio ao bombardeio de processos judiciais contra a estatal, a postura menos agressiva é explicada pelo perfil de investimento de longo prazo desses investidores. Alguns são fundos de pensão e pesam os custos de tomar medidas judiciais no curto prazo.
O documento foi enviado no dia 10 deste mês ao presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, o ministro da Fazenda Guido Mantega, com cópia aos conselheiros independentes Mauro Rodrigues da Cunha e José Monforte. O objetivo é que a companhia vá além das investigações sobre o esquema de corrupção revelado pela operação Lava Jato e estruture medidas preventivas.
Em resposta ao Estado, a Petrobrás disse que “considera bem-vinda a sugestão de melhorias de sua governança por parte de importantes investidores e acionistas” e ressalva que já vem adotando medidas de aprimoramento da sua governança.
“Para recuperar a confiança não basta apontar culpados. É preciso ter transparência e mostrar o que está se fazendo para prevenir novas ocorrências. O investidor espera uma mudança estrutural, não apenas apagar o incêndio. Quem garante que em dois anos não vai estourar um outro escândalo?”, diz Daniela da Costa Bulthius, administradora de portfólio da Robeco, em entrevista exclusiva ao Estado. A gestora baseada na Holanda detém € 223 bilhões em ativos e foi o único dos signatários da carta a se identificar.
Estratégia. A carta sugere a criação de um grupo de trabalho independente e a contratação de uma consultoria para auxiliar a Petrobrás a buscar um modelo de gestão que garanta independência e evite conflitos de interesse em suas decisões. Isso inclui revisar o sistema de governança e mecanismos anti-corrupção.
Outro pedido é mapear a forma de aprovação de projetos pelo conselho. “É preciso entender como projetos questionáveis ou com orçamento extrapolado foram aprovados”, exemplifica Daniela. Os fundos europeus querem a adoção de um critério de independência inclusive do governo – na escolha dos membros de conselhos de administração,fiscal e do comitê de auditoria.
“A empresa vem sendo lesada não só pela prática de corrupção, mas também pelo uso político”, diz a administradora de do balanço, mas já havia anunciado, em dezembro, a prorrogação até o fim de janeiro.
Parte dos credores não aceita o novo prazo e afirma que a Petrobrás descumpriu a obrigação de divulgação de resultados originalmente estipulada para dia 29 deste mês.
Ao menos um fundo de hedge, o americano Aurelius, age para agrupar investidores e formalizar a quebra do compromisso referente a títulos de US$ 54 bilhões.
A Petrobrás ainda não respondeu à carta, mas algumas medidas recentes vão ao encontro das sugestões do grupo, aponta Daniela. Um exemplo é a convocação da ex-presidente do supremo tribunalFederal (STF) Ellen Gracie para o comitê especial que acompanhará as investigações de escritórios independentes sobre os desvios na petroleira. A criação de uma diretoria de Governança Corporativa também foi bem-vista, embora considerada insuficiente.
Os investidores – nove europeus e um fundo americano – vão esperar que a Petrobrás saia do “olho do furacão” e entregue o balanço do terceiro trimestre para cobrar uma resposta.
Balanço não auditado deve sair em 12 de janeiro
• A Petrobrás deve divulgar ao mercado as informações contábeis relativas ao terceiro trimestre deste ano no dia 12 de janeiro, quando o Conselho de Administração se reúne pela primeira vez em 2015. A divulgação contará com dados ainda não audita-dos pela consultoria externa, mas atende à exigência de contratos de títulos da dívida da estatal, que foram adiados após negociação com parte dos credores, informaram fontes ao “Estado”.
A Petrobrás também tem prazo máximo estipulado até 31 de maio para apresentar seus resultados financeiros auditados pela consultoria PwC. Segundo fontes, esse limite se deve a obrigações contratuais de títulos de dívidas externas que somam US$ 70 bilhões e não poderiam mais ser postergados.
Oficialmente, a companhia não confirma a data de apresentação do balanço, mas já havia anunciado, em dezembro, a prorrogação até o fim de janeiro.
Parte dos credores não aceita o novo prazo e afirma que a Petrobrás descumpriu a obrigação de divulgação de resultados originalmente estipulada para dia 29 deste mês.
Ao menos um fundo de hedge, o americano Aurelius, age para agrupar investidores e formalizar a quebra do compromisso referente a títulos de US$ 54 bilhões.