A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) decidiu abrir inquérito administrativo para investigar eventuais responsabilidades de administradores na crise da Petrobrás. A CVM concluiu que há indícios de irregularidades em dois casos em que acompanhava: os desdobramentos das denúncias de corrupção na operação Lava Jato e de pagamentos irregulares à fornecedora holandesa SBM Offshore.

 

 

“A Superintendência de Relações com Empresas (SEP) concluiu pela apresentação de proposta de instauração de inquérito administrativo, em razão da identificação de indícios de irregularidades, que foi aprovada pelo superintendente-geral”, diz a entidade, em comunicado. A investigação será conduzida pela área de Processos Sancionadores e a Procuradoria Federal Especializada (PFE).
 
Dependendo do resultado do inquérito, os administradores da Petrobrás poderão ser julgados, receber multas e até pena de inabilitação. A CVM não mencionou o nome de nenhum executivo envolvido. 

 

 

O órgão regulador já vinha acompanhando em um processo administrativo os desdobramentos da investigação da Polícia Federal que apura “denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa na Petrobrás”, destaca. Os autos do processo indicam que o primeiro ofício da CVM pedindo esclarecimentos à companhia é de 10 de outubro. Além dos passos da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF), a CVM monitorava as diligências internas adotadas e divulgadas pela estatal no caso.

 

 

Já a apuração relativa à SBM Offshore foi iniciada a pedido do MPF, também em outubro. O objetivo era verificar denúncias de pagamento de propina pela holandesa a funcionários da Petrobrás na negociação de contratos de afretamento de plataformas. Os órgãos atuam em cooperação e têm convênio para a troca de informações.

 

 

Conduta. No comunicado, a CVM informou que a abertura de um inquérito é precedida de uma “apuração específica dos fatos” em razão de “qualquer possível desvio de conduta”. A autarquia frisa ainda que, pela atual legislação, tem poderes para fiscalizar a atuação dos diferentes agentes do mercado de ações e que, como órgão regulador do mercado de capitais, tem competência para “apurar, julgar e punir irregularidades eventualmente cometidas”. 

 

 

Além dos casos agora transformados em inquérito, a CVM continua conduzindo outros quatro processos administrativos preliminares - que podem evoluir para uma acusação ou inquérito - para analisar os fatos recentes envolvendo a empresa, como a política de preços adotada pela estatal e possíveis irregularidades no Comperj e na Refinaria Abreu e Lima. Sobre a refinaria, o órgão regulador apura uma reclamação de que “informações teriam sido omitidas a respeito da inviabilidade econômica da refinaria”.

 

 

Há ainda em curso processos referentes à reclamações dos conselheiros de administração da empresa Mauro Cunha e José Monforte quanto à suspensão da reunião do colegiado no dia 31 de outubro, em meio às discussões sobre as auditorias internas e de medidas a serem adotadas em relação ao presidente da Transpetro, Sergio Machado. A saída de Machado foi uma das condições impostas pela PricewaterhouseCoopers (PwC) para auditar o balanço da estatal, que acabou sendo adiado. 
 
 

Investidores pedem mudanças para “blindar” a estatal

 
 

Grupo da Europa e dos EUA sugere contratação de consultoria e a criação de equipe de trabalho independente

Um grupo trilionário de dez investidores institucionais da Europa e dos Estados Unidos enviou uma carta ao Conselho de Administração da Petrobrás pedindo mudanças nos processos de tomada de decisão e gestão da estatal. Com mais de € 1 trilhão em ativos totais e donos de bônus e ações da petroleira brasileira, os fundos têm como estratégia fazer pressão para que sejam criados mecanismos capazes de blindar a empresa de episódios semelhantes à operação Lava Jato.

Em meio ao bombardeio de processos judiciais contra a estatal, a postura menos agressiva é explicada pelo perfil de investimento de longo prazo desses investidores. Alguns são fundos de pensão e pesam os custos de tomar medidas judiciais no curto prazo.

O documento foi enviado no dia 10 deste mês ao presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, o ministro da Fazenda Guido Mantega, com cópia aos conselheiros independentes Mauro Rodrigues da Cunha e José Monforte. O objetivo é que a companhia vá além das investigações sobre o esquema de corrupção revelado pela operação Lava Jato e estruture medidas preventivas.

Em resposta ao Estado, a Petrobrás disse que “considera bem-vinda a sugestão de melhorias de sua governança por parte de importantes investidores e acionistas” e ressalva que já vem adotando medidas de aprimoramento da sua governança.

“Para recuperar a confiança não basta apontar culpados. É preciso ter transparência e mostrar o que está se fazendo para prevenir novas ocorrências. O investidor espera uma mudança estrutural, não apenas apagar o incêndio. Quem garante que em dois anos não vai estourar um outro escândalo?”, diz Daniela da Costa Bulthius, administradora de portfólio da Robeco, em entrevista exclusiva ao Estado. A gestora baseada na Holanda detém € 223 bilhões em ativos e foi o único dos signatários da carta a se identificar.

Estratégia. A carta sugere a criação de um grupo de trabalho independente e a contratação de uma consultoria para auxiliar a Petrobrás a buscar um modelo de gestão que garanta independência e evite conflitos de interesse em suas decisões. Isso inclui revisar o sistema de governança e mecanismos anti-corrupção.

Outro pedido é mapear a forma de aprovação de projetos pelo conselho. “É preciso entender como projetos questionáveis ou com orçamento extrapolado foram aprovados”, exemplifica Daniela. Os fundos europeus querem a adoção de um critério de independência inclusive do governo – na escolha dos membros de conselhos de administração,fiscal e do comitê de auditoria.

“A empresa vem sendo lesada não só pela prática de corrupção, mas também pelo uso político”, diz a administradora de do balanço, mas já havia anunciado, em dezembro, a prorrogação até o fim de janeiro.

Parte dos credores não aceita o novo prazo e afirma que a Petrobrás descumpriu a obrigação de divulgação de resultados originalmente estipulada para dia 29 deste mês.

Ao menos um fundo de hedge, o americano Aurelius, age para agrupar investidores e formalizar a quebra do compromisso referente a títulos de US$ 54 bilhões.

A Petrobrás ainda não respondeu à carta, mas algumas medidas recentes vão ao encontro das sugestões do grupo, aponta Daniela. Um exemplo é a convocação da ex-presidente do supremo tribunalFederal (STF) Ellen Gracie para o comitê especial que acompanhará as investigações de escritórios independentes sobre os desvios na petroleira. A criação de uma diretoria de Governança Corporativa também foi bem-vista, embora considerada insuficiente.

Os investidores – nove europeus e um fundo americano – vão esperar que a Petrobrás saia do “olho do furacão” e entregue o balanço do terceiro trimestre para cobrar uma resposta.

Balanço não auditado deve sair em 12 de janeiro

• A Petrobrás deve divulgar ao mercado as informações contábeis relativas ao terceiro trimestre deste ano no dia 12 de janeiro, quando o Conselho de Administração se reúne pela primeira vez em 2015. A divulgação contará com dados ainda não audita-dos pela consultoria externa, mas atende à exigência de contratos de títulos da dívida da estatal, que foram adiados após negociação com parte dos credores, informaram fontes ao “Estado”.

A Petrobrás também tem prazo máximo estipulado até 31 de maio para apresentar seus resultados financeiros auditados pela consultoria PwC. Segundo fontes, esse limite se deve a obrigações contratuais de títulos de dívidas externas que somam US$ 70 bilhões e não poderiam mais ser postergados.

Oficialmente, a companhia não confirma a data de apresentação do balanço, mas já havia anunciado, em dezembro, a prorrogação até o fim de janeiro.

Parte dos credores não aceita o novo prazo e afirma que a Petrobrás descumpriu a obrigação de divulgação de resultados originalmente estipulada para dia 29 deste mês.

Ao menos um fundo de hedge, o americano Aurelius, age para agrupar investidores e formalizar a quebra do compromisso referente a títulos de US$ 54 bilhões.