Título: Domínio de emergentes
Autor: Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 02/07/2011, Economia, p. 14

Madri ¿ Os países emergentes, que crescem num ritmo rápido e já são o motor da recuperação global, terão um domínio cada vez maior sobre a economia. Hoje, eles são responsáveis por 49% do Produto Interno Bruto (PIB, total das riquezas geradas num ano), participação que passará para 53% em 2015. Em contrapartida, a parcela das nações desenvolvidas, enredadas numa crise mais prolongada do que a prevista, minguará dos atuais 51% para 47%. O fenômeno deve fazer parte do poder mudar de mãos, alterando a geopolítica no planeta.

Dez anos depois de a supremacia se consolidar, das 25 maiores economias do mundo, 16 serão de países hoje considerados em desenvolvimento. Em 2025, a China, atual número 2 do ranking, terá ultrapassado os Estados Unidos e liderará a lista ¿ o PIB chinês será de U$ 49 trilhões pelo conceito de paridade do poder de compra, que elimina os efeitos da variação das moedas. Os EUA ficarão em segundo (US$ 27,3 trilhões), seguidos de Índia (US$ 16,5 trilhões), Japão (US$ 6,7 trilhões), Rússia (US$ 5,2 trilhões) e Brasil (US$ 5 trilhões).

As projeções foram feitas pelo Banco Santander num estudo baseado nos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentado ontem, no primeiro dia do 10º Encontro Santander ¿ América Latina. "Os emergentes já estão num nível muito acima do que deveriam se não tivesse havido a crise. Eles aproveitaram bem as turbulências", disse Jose Juan Ruiz, diretor de Análise e Estratégia da Divisão América da instituição financeira espanhola. Nessa medida, o PIB dessas nações está 0,6 ponto percentual acima do esperado, número que deve chegar a 1,6 em 2014.

Inflação Isolada, a situação da América Latina é ainda melhor. A atividade econômica da região está 2,4 pontos superior. Em sentido inverso, o PIB do mundo desenvolvido encontra-se 1,9 ponto percentual abaixo do que estaria sem a recessão iniciada três anos atrás. Segundo as estimativas, só em 2015 a tendência se reverterá, com um pequeno aumento de 0,5. "Em relação a 2008, a América Latina hoje é mais rica, tem menos inflação e dívida pública e mais reservas. É provável que ela encadeie um crescimento sustentado por até 12 anos seguidos", assegurou Ruiz.

As reservas internacionais, uma espécie de colchão de proteção contra crises vindas de fora, passaram do equivalente a 7,8% do PIB em 2010 para 15,5%. Nas contas do Santander, isso é suficiente para que a região pague seus compromissos externos por até dois anos numa hipótese extrema e improvável de todas as linhas de crédito secarem tanto no mercado como no FMI, no Banco Mundial e no Banco Interamericano de Desenvolvimento. Antes, o volume só daria para três meses. Depois, viria o calote, com todas as consequências indesejadas.

A aposta dos mais importantes bancos estrangeiros é de que a economia latino-americana cresça em média 4,6% neste ano e 4,3% em 2012. "A ideia de que a América Latina estava destinada a fracassar saiu completamente da cabeça dos investidores. Estão todos preparados para o melhor e não mais para o pior", disse Ruiz. Ele apontou, entretanto, um risco: quatro das últimas cinco crises no subcontinente foram precedidas de alta nas taxas de juros reais no mundo, o que já voltou a ocorrer.

US$ 14,7 bi em aplicações O Grupo Banco Mundial divulgou ontem que aplicou US$ 14,7 bilhões na América Latina e Caribe entre julho de 2010 e junho de 2011, valor 5,7% maior que os US$ 13 bilhões registrados no ano fiscal de 2010. Esse volume é o maior já desembolsado pela instituição na região e inclui os recursos do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), da Associação Internacional de Desenvolvimento (AID), da Corporação Financeira Internacional (IFC) e da Agência Multilateral de Garantia de Investimentos (AMGI). O México (US$ 2,7 bilhões) e o Brasil (US$ 2,5 bilhões) foram os principais tomadores desses recursos. As áreas de saúde e serviços sociais, administração pública e transporte foram as que receberam a maior parte dos financiamentos. O volume destinado à região representou um terço dos empréstimos do Bird no mundo e 22% dos empréstimos totais do Banco Mundial.

O repórter viajou a convite do Banco Santander