Título: Mantega atrasa investimentos
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 02/07/2011, Economia, p. 15

Férias do ministro, que preside o conselho da Petrobras, adiarão por mais um mês projetos de expansão da estatal

O programa de investimentos da Petrobras para o período de 2011 a 2015, calculado inicialmente em R$ 224 bilhões, corre o risco de não ser aprovado antes de agosto. Depois de ter sido adiado por duas vezes desde maio, em razão dos vetos do Conselho de Administração, a proposta revisada da diretoria pode ainda esbarrar nas férias do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Sem agenda definida, ele avisou que pretende tirar de 10 a 15 dias de folga em julho, quando retornar de uma viagem ao exterior na próxima semana. Mantega, que preside o conselho da estatal, rejeitou o pacote nas reuniões de 13 de maio e 17 de junho, pedindo cortes.

Até agora, o tempo gasto entre a preparação e a apresentação das duas previsões de gastos foi de cerca de um mês cada. Em 18 de julho, o impasse pode completar 66 dias. Mas ainda há a chance de avançar pelo segundo semestre. Oficialmente, a empresa informa apenas que o conselho pediu à diretoria estudos adicionais do plano de negócios em cinco anos, prometendo "plena divulgação" deste "assim que for aprovado".

Para especialistas, os atrasos no planejamento da Petrobras não chegam a atrapalhar a estratégia geral da empresa, mas preocupam por terem se tornado rotina desde o anúncio da descoberta do pré-sal, em 2006. "Os investimentos da empresa representam 2% do Produto Interno Bruto (PIB) e cerca de 10% de todo o capital aplicado pelo país", comenta Walter de Vitto, analista da consultoria Tendências.

Indefinição Segundo ele, a incerteza sobre o plano acaba apenas alimentando a oscilação dos preços das ações da estatal no curto prazo. Ele lembra que o plano anterior, para o período 2010-2014, só foi aprovado em setembro. "As revisões são constantes e acabam dando sinal muito ruim ao executar o orçamento anual poucos meses antes do ano seguinte", disse.

Enquanto no ano passado o retardo refletia indefinições sobre o modelo de exploração do pré-sal, em 2011 as motivações do principal acionista, o governo, estão na necessidade de frear o crescimento da economia. Na quinta-feira, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que os projetos de novas refinarias não serão afetados pelos cortes no orçamento da Petrobras. A tendência, segundo o mercado, é preservar o andamento das refinarias mais adiantadas: Comperj, em Itaboraí (RJ), e Abreu Lima, em Ipojuca (PE), retardando a deflagração de outras, como as do Ceará e do Maranhão.

Refinarias autorizadas Apesar das indefinições em torno do plano de investimentos da Petrobras nas suas refinarias, o Ministério de Minas e Energia já autorizou a construção e reforma de projetos na área. Na quinta-feira, o Diário Oficial da União (DOU) trouxe uma série de portarias assinadas pela pasta, que enquadram planos para as novas refinarias Premium I, no Maranhão, e II, no Rio Grande do Norte. A publicação também define critérios para a ampliação da capacidade da refinaria Lubnor, no Ceará, e a modernização da refinaria Isaac Sabbá, no Amazonas. O próprio ministro Edison Lobão pressiona para que os cortes do orçamento da estatal poupem os projetos de novas unidades no Nordeste (SR).