Entrar no vermelho ficou mais caro em 2014. O juro do cheque especial chegou a nada menos que 200,6% ao ano em dezembro, a maior taxa desde fevereiro de 1999. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, as instituições financeiras aumentaram em 52,7 pontos percentuais os juros dessa modalidade de crédito. Nesse período, a taxa básica (Selic) - que representa o custo do dinheiro para os bancos - subiu 1,75 ponto percentual, a 11,75% ao ano (atualmente, após nova alta este mês, está em 12,25%).

Apesar disso, a taxa média cobrada pelos bancos às famílias brasileiras caiu, depois de registrar sucessivos recordes. A média dos juros cobrados nos empréstimos com recursos livres recuou, em dezembro, em 0,7 ponto percentual, para 43,4% ao ano, informou o BC.

No mês anterior, a taxa média havia atingido 44,2% ao ano, o maior patamar desde que o BC começou o levantamento, em 2011. No ano, o custo financeiro para as famílias brasileiras aumentou 5,4 pontos percentuais, o triplo da alta da Selic.

De acordo com o BC, o ano passado foi marcado pela desaceleração do crédito. O crescimento do volume de empréstimos no país foi de apenas 11,3%, contra uma expansão de 14,6% em 2013.

- Essa moderação, desejada, dá sustentabilidade à expansão do crédito - afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel.

Ele explicou que o financiamento de veículos freou o crescimento do crédito à pessoa física. No ano passado, esse tipo de crédito diminuiu 4,4% em relação a 2013. Ou seja, os brasileiros compraram menos carros.

crédito imobiliário: desaceleração

Maciel ressaltou que várias famílias anteciparam a compra de automóvel para aproveitar os estímulos de pacotes criados pelo governo para estimular o setor. Ele disse que outro fator a contribuir para a desaceleração do crédito em 2014 foi a dinâmica do financiamento habitacional, pois muitas famílias já compraram o imóvel desejado. Maciel lembrou ainda que a Caixa Econômica Federal, que domina o mercado do crédito imobiliário, aumentou seus juros recentemente.

Ele não quis traçar um novo quadro para o que acontecerá com o crédito neste ano. Esquivou-se das perguntas sobre o assunto, com a justificativa de que o BC só alterará sua atual projeção, de alta de 12%, em março. Mas ressaltou que essa estimativa foi feita nas condições que existiam em dezembro.

Isso significa que a previsão do BC ainda não levava em consideração o aumento de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 1,5% para 3%, que entrou em vigor na semana passada. Também não contemplava novas elevações da Selic neste ano, nem a alteração das taxas do BNDES para o setor produtivo. E esses fatores deverão impactar as decisões de tomar crédito no país.