Lula critica vazamentos da Lava-Jato e conclama PT a reagir a acusações

Valor Econômico - 11/12/2014

Lula: “Ninguém vai fazer eu baixar a cabeça nesse país por denúncias contra nosso partido. É hora do orgulho petista aflorar”

Cristiane Agostine

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que os vazamentos da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, têm sido feitos para atingir o PT e conclamou a militância petista a defender o partido e o governo da presidente Dilma Rousseff. Lula, no entanto, cobrou de Dilma a definição, já no primeiro dia do novo mandato, do que fará nas áreas econômica e social e como será o diálogo com a sociedade.

Ao falar dos escândalos envolvendo a Petrobras, o ex-presidente disse que o PT está sendo condenado antes do fim das apurações. "Quando o processo da Petrobras chegar na Suprema Corte, quando Teori [Zavascki] for analisar a delação premiada criada por nós, a imprensa já condenou nossos companheiros. Todo vazamento é contra o PT. Não importa que não seja verdade, mas é o PT", afirmou, ao participar em Brasília do lançamento da segunda fase do 5 º Congresso Nacional do PT, que será realizado em 2015. Lula disse que suas críticas não são sobre as investigações, mas sim contra as "interpretações" das denúncias.

O ex-presidente disse que a oposição não aceitou a vitória de Dilma e afirmou que é preciso ter clareza das dificuldades políticas que estão por vir. Segundo Lula, a elite está apavorada com a perspectiva de um quinto mandato do PT. No entanto, evitou falar sobre sua eventual candidatura para 2018. "Temos que tomar muito cuidado porque ninguém tem que pensar em 2018. Temos que pensar no 1º de janeiro, na posse de Dilma e no sinal que temos que dar a este país", disse.

Em meio a denúncias de corrupção envolvendo o PT e o governo federal, Lula analisou que o partido precisa repensar seu papel na sociedade e afirmou que os filiados do partido que não quiserem ser éticos devem deixar a legenda. Aos militantes, disse que é preciso lutar contra a pecha de corrupção. "Ninguém vai fazer eu baixar a cabeça nesse país por denúncias contra nosso partido. É hora do orgulho petista aflorar. O partido nasceu para ser diferente e vai ser diferente. Quem não quiser cumprir o ritual ético nesse partido, ter relação ética, é melhor sair do PT, senão não vamos conseguir consertar este país", afirmou, horas depois de o ex-petista André Vargas (PR) ter o mandato de deputado federal cassado pela Câmara.

Ao fazer um balanço dos problemas do PT, incentivou os militantes a reagirem e defenderem Dilma. "Não sou melhor do que ninguém, mas se enfiar todos eles um dentro do outro, eles não são mais honestos do que eu, do que vocês", afirmou.

O presidente do PT, Rui Falcão, disse que é preciso dar uma demonstração de força aos "coxinhas" da oposição, que têm organizado protestos pedindo o impeachment de Dilma e a volta do regime militar. "Não podemos permitir que os coxinhas ocupem a avenida Paulista e a gente não mostre a nossa presença", disse.

Antes do evento com a militância e lideranças petistas, Lula passou o dia em articulações políticas sobre a montagem do novo ministério. O ex-presidente almoçou com Dilma e com o presidente do PT. Lula quer que a presidente escolha articuladores políticos com a mesma consistência dos ministros que escolheu para a equipe econômica. Foi o terceiro encontro entre o ex-presidente e sua sucessora em Brasília para tratar da montagem na equipe ministerial.

Pela manhã, encontrou-se com deputados e senadores do PT para debater a participação do partido no governo federal e a governabilidade no Congresso.

Lula demonstrou preocupação com a possível derrota de um candidato do PT na disputa pela presidência da Câmara contra o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ontem, a bancada petista decidiu lançar o nome de Arlindo Chinaglia (SP) para a disputa. Os petistas, no entanto, poderão retirar a candidatura se não houver acordo com outros partidos e já falam da possibilidade de apoiar um nome de uma legenda aliada.

O ex-presidente ouviu muitas queixas sobre a falta de diálogo com o governo da presidente Dilma e pedidos de mudança no comando das negociações políticas do Planalto. O principal alvo das críticas é o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT). Os parlamentares preferem que o ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini (PT), assuma a coordenação política do governo.

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Temer assegura ajuste fiscal em 2015

Valor Econômico - 11/12/2014

Fernando Taquari 
De São Paulo 

Para uma plateia de empresários, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) garantiu ontem que a próxima equipe econômica do governo federal terá autonomia para dar início a uma reforma fiscal a partir de 2015. Segundo o pemedebista, o corte de despesas governamentais não pode ser encarado pela população como uma medida impopular, já que o ajuste nas contas não colocará em risco os benefícios sociais e terá reflexos positivos para o desenvolvimento do país no longo prazo. 

As declarações do vice reforçam a preocupação do Planalto em recuperar o apoio do empresariado e afastar as especulações de que o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não vai ter carta branca para tomar medidas duras, mas necessárias para ajustar os cofres da União. "Tenho convicção de que a equipe econômica vai ter autonomia e uma posição de independência para formular os planos junto com a presidente Dilma (Rousseff)", disse Temer durante almoço com empresários na capital paulista.

Numa tentativa de mostrar sintonia com o empresariado, o vice-presidente ressaltou que os novos ministros da área econômica foram bem assimilados pelo mercado financeiro e que a simples escolha deles já indicou a necessidade de "um certo arrocho nas contas públicas". "É preciso um corte de despesas governamentais, uma leve reforma fiscal que permita depois uma redução de juros e tributos", afirmou Temer, considerado um importante interlocutor do governo com a iniciativa privada. 

Levy substituirá Guido Mantega no Ministério da Fazenda. Já o ex-secretário-executivo da pasta Nelson Barbosa ficará no comando do Ministério do Planejamento, enquanto Alexandre Tombini foi mantido à frente do Banco Central (BC). 

Durante sua exposição, Temer também fez uma defesa enfática da presidente Dilma Rousseff (PT) ao classificar como "insanidade" as manifestações em favor de um impeachment e de uma intervenção militar no país. Nem as Forças Armadas, disse o pemedebista, querem um golpe de Estado. 

"Tenho contato com eles. 

Sou coordenador das operações nas fronteiras. Ninguém quer isso. 

Eles (militares) ficam até irritados com os pedidos de intervenção]", afirmou. 

O último protesto contra a presidente Dilma, em São Paulo, reuniu cinco mil pessoas. Na manifestação, um grupo menor, formado por 400 manifestantes, pedia a volta dos militares ao governo federal.