A oficialização da venda dos ativos da Oi em Portugal para a francesa Altice e conversas entre a tele brasileira e a TIM, como parte de um movimento de consolidação do mercado de telefonia no país, provocaram uma onda de especulações ontem. A ação ON da TIM Brasil, cotada a R$ 12,80, teve alta de 11,30%, a maior do Ibovespa. A ação da Oi fechou em R$ 1,17, com avanço de 0,86%.

Segundo apurou o Valor, as conversas entre Oi e TIM, e que também envolvem Claro e Vivo, estão avançando. Mas ainda não foi feita nenhuma proposta pela TIM, subsidiária da Telecom Italia. Por enquanto, diz uma fonte a par do assunto, a Oi assimila a venda da Portugal Telecom à Altice, operação que ainda precisa da aprovação de autoridades regulatórias europeias.

Segundo a Bloomberg, já estaria pronta uma proposta de US$ 15 bilhões do BTG Pactual, em nome da Oi, pela TIM, que seria depois divida entre Claro e Vivo. Uma fonte próxima às negociações disse ao Valor, porém, que não há ainda nada fechado e nem o será em curtíssimo prazo. Procuradas pelo Valor, Oi e Vivo não se manifestaram. A Claro respondeu que "não comenta especulações de mercado".

Analistas e executivos que acompanham de perto as negociações consideram que o movimento de ontem foi especulativo. Para a fonte de um banco, a divulgação de que o valor da operação entre Oi e TIM já estaria fechado, e uma proposta pronta, pode ter partido de uma das partes interessadas na valorização dos papéis das empresas, especialmente nesta semana, quando a Oi selou a venda dos ativos da PT à Altice.

Mas vale ressaltar que ontem, pela primeira vez, se admitiu nos planos de consolidação da Oi que essa empresa possa ser adquirida pela TIM, segundo revelou ao Valor uma fonte que acompanha as negociações. A Oi sempre defendeu que quer liderar o processo de consolidação. Mas agora já começa a dizer nos bastidores que, mesmo preferindo ser protagonista, poderá aceitar que esse papel seja da TIM, se esse for considerado o caminho vantajoso para os acionistas. Então, os dois modelos de negócios estão sobre a mesa.

A TIM fechou ontem com valor de mercado de R$ 30,99 bilhões, e a Oi, R$ 10,27 bilhões. À Bloomberg, uma fonte disse que a Telecom Italia avalia a TIM em cerca de € 20 bilhões (US$ 25 bilhões). Ao Valor, uma pessoa a par do assunto disse que nenhuma decisão seria tomada pela Telecom Italia e TIM ainda neste ano.

O presidente da TIM, Rodrigo Abreu, disse ontem que a empresa atualmente possui "saúde e capacidade de permanência", sem a necessidade de se fundir à Oi para se manter no mercado.

O conselho de administração da Telecom Italia, controladora da TIM Brasil, vai se reunir no dia 18 para rever o plano de negócios da companhia. Mas, desse encontro dificilmente sairá uma decisão sobre um eventual negócio com a Oi, afirmou Abreu.

"Todo mundo conhece a situação da Oi. É uma empresa que tem uma série de problemas do ponto de vista operacional. Sem analisar cada detalhe da operação [da Oi], é muito difícil de responder", disse Abreu, ao responder sobre uma possibilidade de fusão.

Entre agências de classificação de risco, a venda dos ativos da Oi em Portugal não foi bem-recebida. A Moody's colocou em revisão, para possível rebaixamento, as notas de crédito corporativo "B1" da Altice e da subsidiaria Altice International. As notas para a dívida de notas seniores da Altice, Altice Financing e Altice Finco (veículos de financiamento da Altice International) também foram colocadas em revisão para possível corte.

Para a Moody's, a Altice vai financiar a compra da Portugal Telecom por meio de dinheiro em caixa e de novas dívidas, o que pode piorar a relação de alavancagem medida pela razão entre a dívida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês).

O rating de crédito da Oi, entretanto, atualmente em "BB+", com perspectiva estável, não será afetado imediatamente, segundo a agência Standard & Poor's. (Colaboraram Tatiane Bortolozi e Camila Maia)