A presidente Dilma Rousseff retorna hoje do breve descanso em Aratu (BA) e, se cumprir o prometido durante o café da manhã com jornalistas na semana passada, concluirá o anúncio do primeiro escalão do governo. Criticada por petistas de todas as tendências - da esquerda ao campo majoritário, passando pelo ex-presidente Lula - a Esplanada dilmista consolida um desenho político com um PT em menos ministérios (até agora, estão garantidos 13 dos 15 anteriores). Mais do que isso. Pela primeira vez em 12 anos, o partido de Lula e Dilma não dará as cartas na equipe econômica nem no Ministério da Educação, considerado pela própria presidente um dos pontos centrais do segundo mandato. 

Responsável pelo ajuste econômico profundamente ortodoxo, a equipe comandada pelo novo titular da Fazenda, Joaquim Levy, não tem nenhuma afinidade com o PT. Pelo contrário. Levy chegou a dar palpites para o tucano Aécio Neves durante a campanha eleitoral. Nelson Barbosa, ao longo do período sabático que tirou do governo federal, criticou o desequilíbrio nas contas públicas. A dupla está acomodada no Ministério da Fazenda e do Planejamento. 

Nem mesmo nos momentos mais duros, do ponto de vista econômico, da gestão petista, a legenda esteve fora do controle do processo. Em 2003, o ministro da Fazenda era Antonio Palocci (por quem a militância partidária não nutre simpatias, mas que, ao menos, é filiado). Ele foi substituído por Guido Mantega, economista histórico da sigla. 

Curiosamente, Mantega começou a trajetória no governo em 2003, justamente no Ministério do Planejamento. Ao ser deslocado para a presidência do BNDES, depois da rápida passagem de Carlos Lessa no banco público, Mantega foi substituído pelo então deputado Paulo Bernardo. Quando Dilma chegou ao poder, em 2011, Bernardo foi deslocado para o Ministério das Comunicações e o Planejamento foi assumido por Miriam Belchior, viúva do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. 

A trajetória do PT na pasta da Educação também é ininterrupta. Começou com Cristovam Buarque (hoje no PDT, mas, à época, petista). A gestão durou apenas um ano, quando o ministério passou a ser conduzido por Tarso Genro. Em seguida, vieram Fernando Haddad, Aloizio Mercadante e Henrique Paim. Os petistas históricos têm a pasta em tão alta conta que brincam que ela é uma alavancadora de carreiras de filiados: Tarso Genro foi governador do Rio Grande do Sul entre 2010 e 2014; Haddad elegeu-se prefeito de São Paulo, e Mercadante é, hoje, chefe da Casa Civil e o ministro mais influente da Esplanada. 

A partir de 1º de janeiro, o MEC estará sob os cuidados de Cid Gomes, filiado ao Pros. Cid é admirado pela presidente Dilma Rousseff. O Correio de ontem mostrou, inclusive, que existem negociações para que o ainda governador do Ceará - o mandato dele só se encerra daqui a dois dias - migre do Pros para o PT. Na bagagem, levaria um nome, ainda indefinido, para disputar a prefeitura de Fortaleza em 2016. Gomes rompeu com o PSB em 2013 por ser contrário à candidatura de Eduardo Campos ao Planalto, e foi fundamental na eleição do petista Camilo Santana para sucedê-lo no governo estadual. 

Na lista de ministros anunciada até o momento, apenas um é petista: Jaques Wagner, que foi cotado para diversas pastas, mas acabou no Ministério da Defesa. Hoje, Wagner deve receber, em Salvador, o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, que pode gerar estranhamento com os comandantes das Forças Armadas antes mesmo de o petista assumir o posto. 

Satisfação 
A permanência do PT em alguns dos postos que ocupa não significa que a legenda se sinta pacificada. A principal tendência partidária queixa-se de que está longe do centro do poder, já que Mercadante é mais dilmista que lulista. O PT tenta recuperar o Ministério do Trabalho, mas o PDT garante que Manoel Dias continua. Celso Amorim, que deixará o Ministério da Defesa, pode retornar ao Ministério das Relações Exteriores, embora a visão de política externa dele seja divergente do estilo de Dilma. Amorim recuperou o prestígio com a presidente por manter os comandantes das Forças Armadas em calma durante o debate da Comissão Nacional da Verdade. 

A maioria dos ministérios com nomes em aberto será comandada pelo PT. Há dúvidas na Cultura, já que a presidente ainda tenta convencer o jornalista e escritor - e filiado ao PMDB - Fernando Morais para assumir a pasta. Nos Transportes, a vaga será do PR, embora haja resistências ao nome do ex-senador Antonio Carlos Rodrigues, por sua ligação com Valdemar da Costa Neto, que cumpre pena pelo julgamento do mensalão. 

Ministério versão 2015 
Pastas que faltam ser anunciadas Partido 

Casa Civil: Aloizio Mercadante PT 
Secretaria de Relações Institucionais: Pepe Vargas PT 
Transportes: Antonio Carlos Rodrigues (cotado) PR 
Trabalho: Pedetistas dizem que Manoel Dias fica PT ou PDT 
Política para mulheres: Eleonora Menicucci deve continuar PT 
Desenvolvimento Agrário: indefinida PT 
Cultura: PT quer Juca Ferreira, a presidente tenta Fernando Morais PT ou PMDB 
Secretaria de Assuntos Estratégicos: indefinida - 
Relações Exteriores: indefinida - 
Saúde: Arthur Chioro PT 
Secretaria de Comunicação Social: indefinida - 
Justiça: José Eduardo Cardozo PT 
Previdência Social: Carlos Gabbas (cotado) PT 
Desenvolvimento Social: Tereza Campelo PT 
Comunicações: Ricardo Berzoini PT 
Meio Ambiente: indefinida 
Direitos Humanos: indefinida PT 
Gabinete de Segurança Institucional (GSI): indefinida 
Secretaria-Geral da Presidência: Miguel Rossetto PT 
Advocacia-Geral da União: Luís Inácio Adams sem partido 
Micro e Pequena Empresa: Guilherme Afif Domingos PSD 

Pastas já confirmadas Partido 

Pesca e Aquicultura: Helder Barbalho PMDB 
Defesa: Jaques Wagner PT 
Agricultura: Kátia Abreu PMDB 
Turismo: Vinicius Lage PMDB 
Esporte: George Hilton PR 
Educação: Cid Gomes Pros 
Ciência e Tecnologia: Aldo Rebelo PCdoB 
Cidades: Gilberto Kassab PSD 
Aviação Civil: Eliseu Padilha PMDB 
Integração Nacional: Gilberto Occhi PP 
Portos: Edinho Araújo PMDB 
Desenvolvimento, Indústria e Comércio: Armando Monteiro PTB 
Planejamento: Nelson Barbosa sem partido 
Minas e Energia: Eduardo Braga PMDB 
Banco Central: Alexandre Tombini sem partido 
Controladoria-Geral da União: Valdyr Simão sem partido 
Igualdade Racial: Nilma Lino Gomes sem partido 
Fazenda: Joaquim Levy sem partido 


Gabrielli deixa secretaria 
O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli deixará nesta semana o cargo de secretário de Planejamento da Bahia. Após denúncias de irregularidade na compra da refinaria de Pasadena (EUA), Gabrielli reuniu os auxiliares há cerca de dois meses e anunciou que não continuaria no governo. Discreto, Gabrielli também faltou à diplomação do governador da Bahia eleito, Rui Costa (PT), que divulgou nesta semana que o ex-presidente da estatal não faria mais parte da equipe. Segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, Gabrielli tirará dois meses de férias e se dedicará a defesa das acusações. Ele deve pedir aposentadoria da Universidade Federal da Bahia, onde era professor de economia, e continuará como conselheiro de duas petrolíferas portuguesas.