A ascensão social possibilitou a milhões de brasileiros realizar desejos de consumo, como a compra de eletrodomésticos, veículos e imóveis. Muitos também têm investido na educação dos filhos para que consigam melhores empregos e salários por meio da qualificação profissional. Apesar das mudanças, que trouxeram mais qualidade de vida para quem mora no Brasil, uma parcela significativa da população ainda não pensa no futuro. Ela se esquece de que é preciso economizar ao longo da vida laboral para garantir uma aposentadoria tranquila, uma renda que atenda às necessidades da velhice. 

O valor máximo dos benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é, atualmente, de R$ 4.390,24. Quem, por exemplo, trabalha na iniciativa privada e tem remuneração superior a essa, deve, portanto, poupar para evitar uma queda acentuada do padrão de vida. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que até 2030 o país terá 25 milhões de idosos. Quem não se planejar terá problemas. Uma alternativa para complementar a renda no período de inatividade é a adesão a um plano de previdência privada. E quanto antes o interessado começar a contribuir, maior será a reserva para custear as despesas pessoais. 

Um jovem de 26 anos que poupe mensalmente R$ 500 durante 30 anos terá R$ 681 mil para receber em forma de benefícios. Esse montante, acumulado a partir de aplicações em renda fixa e variável por gestores de empresas com experiência no mercado, garante uma renda vitalícia de R$ 5,5 mil mensais. O beneficiário também pode optar por receber todo o montante de uma vez ou durante um período que varia entre cinco e 15 anos (veja arte). Mas atenção: o resgate de qualquer quantia pode comprometer o rendimento das aplicações e há a incidência de impostos. Mesmo quem tiver idade superior, não deve titubear ao aderir a um plano, porque o complemento de renda pode ser fundamental para cobrir imprevistos. 

Conforme José Roberto Savoia, professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-secretário de Previdência Complementar do governo Fernando Henrique Cardoso, o número de brasileiros que poupam ainda é baixo e, entre aqueles que têm o hábito, a economia é feita para fins diversos. Savoia alerta que menos de um terço dos que precisarão de renda extra no futuro já aderiram a algum plano de previdência privada. “As pessoas precisam romper o paradigma de que o governo proverá o sustento de todos e buscar alternativas para não depender do INSS”, sentencia. 

Opções 
As instituições financeiras oferecem dois tipos de planos de previdência privada: o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), indicado para quem faz a declaração do Imposto de Renda no modelo completo, e o VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre), para quem faz a simplificada. A diferença básica entre eles é a forma de tributação. No PGBL, o imposto incide apenas no momento de receber o benefício, enquanto no VGBL a tributação é feita durante a contribuição. “O PGBL geralmente é vantajoso para quem ganha bem, que pode usar as contribuições para abater até 12% da renda bruta oferecida ao Imposto de Renda durante o tempo em que o recurso estiver aplicado”, detalha o vice-presidente da Mapfre Previdência e Saúde, Eduardo Freitas.

Além disso, existem duas formas de tributação dos planos de previdência privada. O titular do plano pode escolher entre a tabela progressiva, na qual a tributação varia de 15% a 27,5%, e a regressiva, em que a incidência diminui com o tempo, começando em 35% e caindo gradativamente, conforme o prazo de aplicação, até atingir 10%. 

Os interessados em aderir à previdência privada deve tomar ainda outros cuidados. É preciso buscar informações sobre as condições financeiras do plano e da empresa que faz a gestão dos recursos. “Como é um investimento a longo prazo, ela tem de continuar a existir em 25 ou 30 anos. Solidez é importante”, explica Freitas.

Taxas
As taxas de administração também são determinantes, e podem ser a diferença entre perdas e maiores ganhos. Ela incide sobre o patrimônio, que cresce mensalmente. “É juro composto. Qualquer meio ponto percentual faz diferença lá na frente”, explica o superintendente de Produtos da Brasilprev, Sandro Bonfim da Costa. Por isso, a recomendação é não aceitar cobranças acima de 2% ao ano e barganhar ao máximo esse valor. Há ainda a cobrança de carregamento, que incide sobre cada contribuição e tem como objetivo arcar com os custos do plano. Se a contribuição mensal for de R$ 100, e esse encargo, de 1%, então apenas R$ 99 serão efetivamente aplicados. O ideal, portanto, é buscar a menor taxa de carregamento possível. 

Se o seu banco não oferecer a melhor opção, não se prenda a ele. O mercado vai oferecer uma alternativa mais próxima da sua necessidade. Ao se decidir por esse produto financeiro, é preciso pesquisar e analisar cada opção oferecida. Corretoras e outras instituições financeiras podem intermediar a relação com os fundos de previdência.

Para o presidente da Federação Nacional de Previdência Privada (Fenaprevi), Osvaldo Nascimento, contratar um plano é importante para quem deseja planejar as finanças no longo prazo. Ele ressalta que, mesmo com as oscilações de mercado, esses investimentos são interessantes. “A curto prazo, nunca é vantajoso. Todos sonham com uma vida boa, mas, para isso, é preciso ter planejamento e disciplina. Poucas pessoas têm noção do impacto da longevidade nas finanças pessoais. As despesas com médicos e hospitais aumentam muito com a idade, e são sempre desprezadas, nunca contabilizadas”, diz. 

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Invista de acordo com seu perfil

Correio Braziliense - 29/12/2014

Além de ficar de olho em taxas e tributos, o interessado em aderir à previdência privada também pode definir o perfil dos investimentos. As administradoras dos planos oferecem a possibilidade de aplicações em diferentes tipos de ativos. Se você é arrojado, pode escolher um fundo que invista até 49% em renda variável (ações) — índice máximo permitido por lei. Os moderados podem combinar renda fixa e variável. Os conservadores devem optar por fundos vinculados a ativos de renda fixa, como títulos públicos, certificados de depósito bancário ou debêntures emitidos por empresas de capital aberto.

Conforme o superintendente de Produtos da Brasilprev, Sandro Bonfim da Costa, um fator determinante na escolha do perfil do investidor é a idade. Conforme Sandro, os mais novos podem arriscar mais e por isso devem escolher uma participação maior em renda variável. Ele afirma que investimentos em bolsa têm se mostrado vantajosos para quem deseja acumular um patrimônio a longo prazo. “À medida que a pessoa envelhece, podemos reduzir a participação em ações e migrar para títulos públicos. Arriscar também é importante e vale a pena”, comenta.

O vice-presidente da Mapfre Previdência, Eduardo Freitas, comenta que, com o aumento da longevidade dos brasileiros, a Previdência Social terá gastos cada vez maiores, portanto, o valor dos benefícios deve diminuir. Por isso, os mais jovens devem se conscientizar de que precisarão poupar para manter o padrão de vida. “Os níveis de educação financeira no país são baixos. Além disso, quem ascendeu socialmente tem desejos mais básicos de consumo. O ideal é começar a poupar para evitar transtornos no futuro.” 

O presidente da Fenaprevi, Osvaldo Nascimento, observa que as pessoas podem escolher o que fazer com os recursos poupados. Além de serem usados como complemento de renda, pode servir para adquirir um imóvel, um carro, ou custear uma viagem. “Quem conseguiu atingir todos os objetivos pessoais, terá uma folga no orçamento para fazer um novo investimento. Com a previdência privada é possível atingir um novo sonho”, completa.