O presidente do PT, Rui Falcão, anunciou ontem em uma rede social que processará o senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato à Presidência derrotado nas eleições de outubro. Em entrevista ao canal Globonews, no sábado, o tucano classificou o PT como "organização criminosa".

"Já estamos interpelando o senador mineiro derrotado. Em seguida, processo crime no STF [Supremo Tribunal Federal]. O PT não leva recado para casa", escreveu o presidente da sigla no Twitter. Os advogados do PT avaliam se as declarações do tucano configuram crimes contra a honra, como calúnia e injúria.

No programa do apresentador Roberto D'Ávila, Aécio afirmou que não perdeu a eleição para um partido político. "Eu perdi a eleição para uma organização criminosa que se instalou no seio de algumas empresas brasileiras patrocinadas por esse grupo político que aí está", acusou.

Durante a entrevista, Aécio afirmou ainda que a presidente Dilma Rousseff (PT) se mantém no poder às custas da "sordidez" investida contra os adversários, em especial durante o período de campanha eleitoral.

"Essa campanha passará para a história. A sordidez, as calúnias, as ofensas, o aparelhamento da máquina pública, a chantagem para com os mais pobres, dizendo que nós terminaríamos com todos os programas sociais. Não só eu fui vítima disso", disse.

Em discurso proferido ontem, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), fez duras críticas a Aécio e ao comportamento do mineiro após as eleições, principalmente as declarações feitas nesse fim de semana no programa da Globonews. Costa chamou Aécio de "quixotesco perdedor" e classificou como "infame ópera bufa" sua afirmação, na entrevista, de que perdeu a eleição para uma "organização criminosa" patrocinada pelo PT.

"É um caso inusitado em que a derrota subiu à cabeça", afirmou o líder do PT, em discurso na tribuna. Para ele, Aécio parece "não ter entendido que perdeu", "não quer aceitar a derrota" e está "reduzindo sua estatura política a cada declaração desastrada que dá".

Humberto Costa afirmou que o ex-presidenciável "cria novas teorias contra a legitimidade" da presidente Dilma Rousseff, chegando a acenar com manifestações golpistas. Criticou, ainda, as acusações feitas por tucanos de que a presidente está cometendo "estelionato eleitoral", por anunciar medidas de ajuste. "Os tucanos perderam o discurso, ficaram sem argumento", disse.

Para o petista, é hora de Aécio assumir a derrota. "O quixotesco perdedor das eleições continua lutando contra imaginários moinhos de vento", disse o petista, lembrando que a eleição terminou há mais de um mês.

"Ele foi derrotado em Minas Gerais, seu Estado [a disputa estadual foi vencida em primeiro turno pelo petista Fernando Pimentel], e também pela Presidência da República. Foi derrotado. Ponto. Vira a página. É preciso deixar de lado esse comportamento pueril. Assumir a derrota e assumir a posição em que os eleitores o colocaram. Oposição é fundamental".

Em aparte, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que o senador mineiro "passou [de] todos os limites nessa entrevista". Informou que a direção nacional do PT decidiu interpelar judicialmente o ex-presidenciável, que, para ele, "age como meu perdedor".

Lindbergh disse que a entrevista é apenas mais um episódio, lembrando que o PSDB tem questionado a lisura do processo eleitoral. Citou pedidos de impeachment da presidente e manifestações em que grupos contrários ao governo defenderam intervenção militar e impeachment de Dilma.

Segundo ele, Aécio está tentando garantir espaço no partido, já que há outras lideranças tucanas que podem disputar a Presidência da República em 2018, como o governador Geraldo Alckmin (SP).